FICHA DE LEITURA: ATÉ QUE PONTO DE FATO NOS COMUNICAMOS (CIRO MARCONDES FILHO)
Por: SonSolimar • 16/1/2018 • 2.240 Palavras (9 Páginas) • 500 Visualizações
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4. Um mapa geral das correntes de pensamento: o pensamento antigo
“O aparecimento de Aristóteles já marca uma virada nas preocupações. Se Platão era meramente abstrato e especulativo, Aristóteles será essencialmente lógico e empírico. […] As orientações posteriores […] abandonam os temas principais genéricos de Platão e Aristóteles e se voltam a questões subjetivas e existenciais. No epicurismo, o homem, com suas emoções e dores, toma o lugar do cidadão, atuante na esfera da política e da vida civil. […] Também os estóicos ocuparam-se com as sensações. […] Não há a ‘realidade incorpórea’, como queria Platão, mas algo incorpóreo que eles chamavam de exprimíveis: é sobre um corpo que uma causa tem algum efeito incorpóreo. O fogo sobre a madeira produz um efeito incorpóreo, o queimar-se”. (pp. 20-21)
Esse trecho do texto é muito significativo, pois aborda questões filosóficas construídas anteriormente a qualquer construção de uma noção de um fenômeno chamado comunicação. Penso que o conceito de comunicação foi construído graças à perspectiva aristotélica de percepção da realidade onde consta como fundamentais a experiência e a lógica que se constrói a partir desta. Não haveria possibilidade de falar sobre comunicação sem analisar primeiramente as conseqüências dessa e assim partir para uma ideia de que esta mesma possibilita a tornar concebível pelo que ela constrói.
5. Um mapa geral das correntes de pensamento: a escolástica
“Assim como os helenísticos, [Santo] Agostinho volta-se ao homem singular, à pessoa e, nela à questão da vontade e da liberdade do homem diante da fé (a razão conhece e a vontade escolhe)”. (p. 23)
Passagem interessantíssima do texto, pois remete a algo que é fundamental no processo de comunicação entre os seres humanos que é a intencionalidade. A comunicação carrega consigo uma série de fatores intencionais muitas vezes inconscientes ou subjetivos, que não faziam parte primeiramente da vontade do sujeito. Se comunicação é expressão de algo este algo traz consigo, muitos significados que podem ou não serem compreendidos pelo receptor.
6. Um mapa geral das correntes de pensamento: o pensamento moderno
“A síntese entre o racionalismo e o empirismo virá com Kant. Esse filósofo irá se dedicar ao estudo da realidade sensível, quer dizer, daquilo que sentimos, vemos, pensamos em relação às coisas que se mostram imediatamente a nós em comparação com aquilo que nos é impossível de apreender. […] Kant pesquisa as origens da metafísica e sua contínua busca de certezas e constata o eterno fracasso nessa procura. […] A realidade […] nunca aparece ao homem como ela é, mas somente como a apreende a faculdade cognitiva humana: nós nunca apreendemos as coisas em si, mas somente como fenômenos”. (pp. 31-32)
Kant não parece preocupado com a essência das coisas, pois percebe que é impossível ao homem concebê-las, ou seja, ele nunca terá capacidade de aprendê-las exatamente da maneira que são porque alega que cada ser humano possui uma capacidade de desvendar a realidade de uma maneira diferente, porque as faculdades cognitivas de apreensão pelos sentidos tanto em relação ao mundo externo quanto ao interno são distintas entre cada pessoa.
7. Um mapa geral das correntes de pensamento: tendências contemporâneas
“[O estruturalismo] critica o subjetivismo idealista, o humanismo, o historicismo e o empirismo, num projeto radicalmente anticartesiano de destronar o sujeito (a consciência, o espírito) e sua autodeterminação em favor de estruturas profundas e inconscientes, onipresentes e onideterminantes, para dar efetiva cientificidade às ciências humanas. Para o estruturalismo (Saussure, Lévi-Strauss, Lacan, Althusser), há pouca liberdade de ação efetiva das pessoas. […] Os seres não mais existem, mas apenas relações entre eles. Em vez de sujeito, a estrutura age por si”. (p. 43)
As estruturas estão por toda a parte, estão na economia, na política, na sociedade, na linguagem, na comunicação, na família, no corpo humano e na mente. As estruturas estruturadas e as estruturas estruturantes fazem parte da realidade que o estruturalismo propõe como verdadeira. Tudo o que acontece, acontece dentro deste esquema e nada fora dele.
8. Breve história da comunicação: os primórdios
“Aristóteles ocupou-se com a linguagem, mas de outra perspectiva. Trabalha mais com a questão lógica do que com a essência da linguagem. […] A linguagem, para ele, torna-se pura ferramenta funcional, existente para estabelecer relações de implicação ou de exclusão entre sujeito e predicado”. (pp. 50-51)
Tomando como parâmetro a ideia de Aristóteles sobre linguagem, fica claro que no nosso mundo objetivo e racional, ela exerce um papel pragmático, possui uma função e por isso não deixa de ser um instrumento. Se, é a linguagem permite que A e B se compreendam é porque existe uma lógica racional na estrutura da mesma que os sujeitos absorvem pela experiência e depois fazem uso da mesma. Ele pensou a comunicação através da linguagem forma pela qual se materializa e é decodificada por todos.
9. Breve história da comunicação: os contemporâneos
“O tema ‘Comunicação’ foi apropriado pela lingüística, que buscou subordiná-lo à linguagem, quando, na verdade, o que ocorre é o contrário: as línguas são uma forma de comunicação, e a comunicação é que é o conceito mais amplo e genérico, sendo a língua apenas uma de suas manifestações. Por isso, é equivocado dizer-se que ‘tudo é linguagem’ ou que tudo está necessariamente subordinado às formas lingüísticas, pois há muitas outras formas de comunicação que vão além das linguagens […] Essa aspiração dominadora que exerce a lingüística no campo das ciências humanas e da comunicação acaba por tentar reduzir tudo ao universo da linguagem, restringindo o mundo ao que é formalmente expresso”. (p. 55)
A comunicação em si é algo muito abrangente e acolhedora, pois consegue se apropriar ou exprimir tudo o que lhe pertence e o que faz parte de seu processo. Esse processo de comunicação pode ser fracionado a fim de que se facilite seu entendimento, mas não ser reduzido a ponto de que se esqueça da sua complexidade real. A linguagem instrumentaliza a comunicação, a torna possível de existir. O método comunicativo não pressupõe uma única maneira de se materializar,
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