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Estrutura do Produto - TCC Jornalismo

Por:   •  1/3/2018  •  4.372 Palavras (18 Páginas)  •  283 Visualizações

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As mudanças estilísticas iniciadas no Brasil na década de 50 a partir da adoção do modelo norte-americano de redação fizeram com que os jornalistas começassem a seguir um roteiro para a produção da notícia (SOUZA, 2006, p. 03).

Dessa maneira, reportagens são produzidas por meio de recortes da realidade inseridos em um contexto e publicadas como reprodução dessa realidade factual, sempre mediada pelo autor da matéria. Já a produção do documentário realiza-se por meio de explicações analíticas e contextualizações históricas, sem certa urgência exigida das reportagens de caráter imediato (SOUZA, 2006, p. 04).

Ambos os gêneros se nutrem da realidade, contudo de maneiras diferentes. Bill Nichols (2010) diz que um dos principais atrativos do documentário é o acesso que ele possui ao que é verdadeiro e real, demonstrado por sua clareza e simplicidade.

Nichols (2010, p. 177) enumera seis modos de representação do gênero documentário. São eles: poético (mais abstrato, enfatizando qualidades como o estado de ânimo, tom e afeto), expositivo (dirige-se diretamente ao expectador, expondo argumentos, recontando histórias e propondo novas perspectivas), observativo (evita encenações e comentários, sem intervenção explícita do cineasta), participativo (mais invasivo, com participação efetiva do cineasta, relacionando sua vivência com o expectador), reflexivo (construído na base do realismo, proporcionando questionamentos) e performático (com foco nos aspectos subjetivos).

Entre esses, o modo escolhido para a realização das gravações sobre o Demônios da Garoa é o expositivo, pois serão explorados aspectos novos na trajetória do grupo, além de contrapontos proporcionados por ex-integrantes, depoimentos de fãs, historiadores, jornalistas e críticos musicais.

Nichols (2010) ainda afirma que, mesmo que um documentário seja caracterizado de maneira geral por um desses modos, não quer dizer que ele não possua informações e características de outros modos, sendo eles dois ou mais. Dessa forma, o produto feito sobre o Demônios da Garoa ainda poderá usar características dos modos poético e observativo.

A identificação de um filme com um certo modo não precisa ser total. Um documentário reflexivo pode conter porções bem grandes de tomadas observativas ou participativas; um documentário expositivo pode incluir segmentos poéticos ou performáticos. As características de um dado modo funcionam como dominantes num dado filme: elas dão estrutura ao todo do filme, mas não ditam ou determinam todos os aspectos de sua organização. Resta uma considerável margem de liberdade (NICHOLS, 2010, p.136).

O tratamento da informação é outro fator a ser considerado para traçar paralelos entre o documentário e a grande reportagem. Para Gomes, Melo e Morais (1999), considerar critérios como profundidade de assunto e duração do programa não significa nada. Para elas não haveria diferença consistente entre uma matéria que durasse 15 minutos e sendo considerada como reportagem e outra de 30 segundos a mais, classificada como documentário. As características diferenciadoras apontadas pelas autoras seriam, principalmente, a linguística e o discurso. Não somente a divisão entre opinativo ou informativo.

Francisco Elinaldo Teixeira, autor do livro Documentário no Brasil: Tradição e Transformação (2004), diz que o número de documentários produzidos e os suportes disponíveis para sua realização é absolutamente maior e mais significativo se comparado ao momento da criação do gênero.

Contudo, para Gomes, Melo e Morais (1999, p. 02) há uma ausência da exibição de documentários na televisão aberta brasileira. Segundo elas, isso se dá pelo fato de as TVs comercias priorizarem o factual e imediato da informação, restando pouco espaço para produção de documentários, por conta de seu caráter de pesquisa mais aprofundada, de envolvimento integral dos profissionais e maior tempo de produção, resultando em aumento de custos. Dessa maneira, priorizam as grandes reportagens, que não geram um investimento tão extensivo quanto os documentários.

Apesar disso, a produção de documentários propicia aos espectadores uma expectativa em relação ao acontecimento, pois eles procuram “saber aquilo que os ‘valores-notícia’ não consideraram relevantes para ser veiculado. São informações que ficam à margem, mas que têm um papel decisivo para o enriquecimento da história” (SOUZA, 2006, p.04). Sendo assim, a relação entre jornalismo e documentário acontece quando o factual abordado colabora no desenvolvimento da narrativa documental.

Ao assistir a um documentário ou a uma reportagem, o telespectador busca a verdade sobre determinado fato, lugar, pessoa ou qualquer outro tipo de objeto. No entanto, o jornalismo não é o repasse da verdade, mas a narração de ações discursivas que permitem construir diferentes universos de referência para a definição de sentidos. Ao escolher determinadas situações, entre tantas, e dar-lhes uma nova roupagem através de seu estilo pessoal, o jornalista está interferindo na realidade (GOMES, MELO E MORAIS, 1999, p. 04).

Nichols (2010, p. 93) explica que dentro da história apresentada em um documentário outras três se entrelaçam: a do cineasta, a do filme e a do público. Sendo assim, o documentário possui uma “voz” distinta que propicia expectativas específicas que os observadores esperam ver satisfeitas, diferentemente da reportagem, que está vinculada a uma série de regras. O documentário também é uma representação de aspectos do mundo e inclui elementos próprios do ponto de vista daquele que dirige sua produção e execução, que suscita consequências e questionamentos sobre o tema escolhido.

Em suma, existem diversas definições sobre os dois temas. Conclui-se, portanto, que as principais diferenças envolvem, principalmente, as questões já discutidas sobre linguagem e bastidores.

O formato escolhido para o produto sobre o Demônios da Garoa é o documentário jornalístico, ou seja, um gênero híbrido, uma mistura entre grande reportagem e documentário. Da mesma maneira que a reportagem, ele lida com a representação de uma realidade, mas assim como o documentário, mostra temas cotidianos ou de importância histórica, política, econômica, social. O foco são os fatos reais, mas sempre com abordagem profunda e possibilitando uma análise crítica: ouvem-se todos os lados da história, há o contraponto, não há a presença do repórter (na escolha em questão), e a produção demanda um tempo maior.

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