Entrevista monica marteli

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Eu: E ai você foi pra Nova York e o mundo mudou?

Mônica Martelli: É. Na verdade eu trabalhei de garçonete em Nova York. Eu fui pra lá acho que com 18 anos, então assim, você vem de uma vida regrada, de escola, de horário, então eu me sentia livre pela primeira vez, eu sentia aquela sensação de liberdade, de acordar, e como eu trabalhava de gorçonete...

Eu: Onde?

Mônica Martelli: Eu trabalhava no Canastels que era na Pork Avenue com 3ª, e trabalhei em ap town em um restaurante pequenininho chamado Ecola, um restaurante italiano, lá na 91 eu acho, é, 91, uma coisa assim.

Eu: E lá você ficou quanto tempo?

Mônica Martelli: Fiquei 1 ano em Nova York. Então assim, eu trabalhava, a noite, no jantar, então eu tinha que chegar no restaurante 3 horas da tarde, acordava meio dia, e isso pra mim era a coisa mais surpreendente incrível, acordar meeeeeio dia... risos. Já era uma coisa incrível, já era uma grande experiência, só que eu sempre soube que eu ia voltar, sempre soube que eu ia passar um tempo lá, mas que iria voltar, e eu tenho dois irmãos né? Os meus dois irmãos por parte de mãe, Guto e Suzana, sempre foram muito CDFs, então assim, a minha referência foi muito alta na minha casa, Suzana escolheu fazer medicina na época porque era a faculdade mais difícil de entrar, então qual é a faculdade mais difícil de entrar? Medicina? Então vou fazer medicina, e meu irmão é matemático e informático e eu fiquei meio perdida ali no meio, entendeu? Eu era aquela tipo “gente? E ai Mônica? Mônica vai seguir oque?” Eu nunca fui aquela aluna nota 10, 9, como meus irmãos. Então eu sempre fui a preocupação da família.

Eu: Bom, ai você volta pro Brasil...

Mônica Martelli: Ai voltei por Brasil, fui fazer jornalismo, que também na época era uma opção dos perdidinhos.. Na ééééépoca.. Risos.

Eu: Risos... Não seja assim, não me ofensa. Risos. To brincando..

Mônica Martelli: Risos.. É que comunicação na época, era o seguinte, normalmente fazia quem não sabia o que queria. Mas bom.. Dentro da faculdade de comunicação social, tinha uma plaquinha lá “Teatro”, e eu falei “po, vou fazer teatro”, eu sempre tive vontade mas tinha vergonha, de falar desse meu desejo, enfim, porque era uma carreira muito difícil, ai eu vi lá a plaquinha de teatro, falei “vou fazer teatro” e na época eu estava casada com um fotografo, assim que eu cheguei dos Estados Unidos eu já conheci esse fotografo, a gente foi morar junto e tal, e ele me deu maior força para começar no teatro. Então eu comecei a fazer de manhã, fazia faculdade de jornalismo a noite, e pra poder terminar a faculdade a tarde ainda trabalhava.

Eu: E ainda era casada...

Mônica Martelli: Pois é, e ainda era casada.

Eu: Você demorou pra ter filhos?

Mônica Martelli: Muuuuito.

Eu: Você tem uma menina?

Mônica Martelli: Isso. Uma menina. Engravidei aos 40 anos.

Eu: Que hoje tem 7 anos.

Mônica Martelli: Acabou de fazer 7.

Eu: E vi uns vídeos que ela até ja sobe ao palco, né?

Mônica Martelli: Já! Sobe pra agradecer junto comigo, desde os 3.

Eu: Não acredito. Ai que bonitinha.

Mônica Martelli: Ela é uma coisa..

Eu: Mas você a leva ao teatro com frequência?

Mônica Martelli: É. Sim, porque como eu viajo muito, então eu sempre levo a Julia, hoje até certas viagens que eu faço eu não levo por conta da escolinha, e também quando tem que pegar dois voos, quando tem um horário muito ruim, ai eu acho que vai ser ruim pra ela, ai eu deixo ela em casa.

Eu: Você se separou?

Mônica Martelli: Me separei.

Eu: Faz tempo?

Mônica Martelli: 3 anos. Mais ou menos.

Eu: O pai dela foi o 3º casamento, é isso?

Mônica Martelli: Não, foi o 2º.

Eu: Você se separou do fotografo e depois se casou com o pai da Julia?

Mônica Martelli: É. Ai namorei um tempo, ai depois desse namoro que durou 4 anos eu fiquei solteira, foi quando eu escrevi as histórias da peça, foram 2 anos solteira, logo depois eu conheci o pai da Julia.

Eu: Você acredita que a gente só consegue escrever coisas, “a gente” não, digo, os autores só conseguem escrever com humor, sobre relacionamentos, em um período de solteirice?

Mônica Martelli: Hummmm....

Eu: Pense bem no que eu perguntei..

Mônica Martelli: É assim, depende. Eu acho que a gente só consegue escrever com humor, quando você está distante daquilo que você já viveu, quando você já consegue fazer piada daquilo, porque quando você está vivendo, ou a solteirice, ou um casamento em crise, ou uma separação, quando você está dentro, vivendo aquilo, você está no sofrimento, então você está vivenciando aquilo, eu na época que estava realmente solteira, me apaixonando por vários homens, achando que todo homem era o amor da minha vida, eu não estava conseguindo escrever sobre aquilo, muito menos fazer piada.

Eu: Você estava sofrendo também. É curioso você ter dito isso, porque você falou “Na solteirice ou na crise do casamento há um sofrimento”?

Mônica Martelli: Tem sempre um sofrimento né? Tem sempre alegria e sofrimento. Claro, na época de solteirice tem alegria de você sair, ter uma liberdade, tem toda essa alegria, mas também tem um aprisionamento dessa busca de encontrar o amor, principalmente na minha época de solteirice, que eu já tinha 30, 33 anos, e que eu queria engravidar, esse desespero da mulher, que existe essa pressão com a mulher que é pela idade..

Eu: Eu acho que mais do que social, existe uma coisa do corpo...