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Resenha Crítica - Estigma de Goffman

Por:   •  18/2/2018  •  7.701 Palavras (31 Páginas)  •  523 Visualizações

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Esta identidade social pode, todavia ser distinguida de duas formas. As pré-conceções que fazemos, de modo a facilitar a categorização, levam-nos a expectativas, exigências, que temos face àqueles que nos rodeiam. Se estas exigências forem cumpridas nem damos conta de que elas existem, contudo, se estas não forem realizadas, um problema surge e percebemos que estivemos a analisar e catalogar o indivíduo com quem estamos a interagir, ou que está a nossa frente. Atribuímos-lhe desta forma uma identidade social virtual. Distinguimos desta a identidade social real do indivíduo que representa os atributos e características que realmente o indivíduo possui.

Por vezes o indivíduo possui um atributo que o torna diferente do resto das pessoas. Isso coloca-o numa posição desfavorável, inferior. Deixamos de o considerar como uma pessoa total e comum, passando a vê-lo como uma pessoa estragada e diminuida. Essa característica é um estigma. O estigma constitui uma discrepância específica entre a identidade social real e a identidade social virtual.

O termo estigma é então usado para denominar atributos puramente depreciativos. Todavia, não são propriamente os atributos que são importantes, mas sim a relação entre as pessoas, e o que o outro pode achar desse atributo. Por vezes há uma necessidade de esconder alguma caracterísitca específica, como o nível de escolarização, quer seja por termos a mais ou a menos, pois podemos ser rotulados quanto a isso. As pessoas têm, eventualmente, de esconder o seu nível de estudos para que os outros não pensem que são uns fracassados ou que até têm um bom nivel escolar, mas não o aproveitam. O mesmo acontece para diferentes características de todo o tipo.

O estigma pode, então, ser visível e conhecido pelos outros (indivíduo desacreditado) ou então não ser visível nem conhecido pelos outros (indivíduo desacreditável), neste último caso, o indivíduo vai tentar esconder o seu atributo de maneira a que a sua identidade social virtual pareça corresponder àquilo que é a sua identidade social real.

No seu texto, Goffman distingue três tipos de estigma: as abominações do corpo (deformidades físicas), as culpas de caráter individual (o alcoólico, o drogado, o preso, a pessoa com um distúrbio mental, o desempregado, o político radical, o homosexual, entre outros) e os estigmas tribais (ligados à raça, nação e religião). Para todos estes encontramos um ponto comum: trata-se de um indivíduo que poderia ter sido facilmente integrado num grupo ou categoria social, mas que possui um traço que se destaca e afasta aqueles com quem ele se relaciona, não deixando a possibilidade a outros atributos favoráveis que este possa ter. Esse indivíduo possui um estigma, não corresponeu às expectativas que tinhamos dele, ou de um ser humano, semelhnte a ele. Goffman chama áqueles que não se afastam das expectativas particulares de “normais”, por oposição aos indivíduos estigmatizados.

Goffman acredita que os normais não consideram uma pessoa com um estigma compeltamente humana. Consequentemente, existem várias descriminações face aos estigmatizados. Constoi-se uma teoria do estigma, onde se explica a inferioridade desses indivíduos e onde se dá conta do perigo que estes podem representar para a vida social.

Por vezes, exigimos comportamentos a pessoas de outras categorias, que nós próprios, naão pertencendo à mesma categoria, não executamos. É a diferença entre cumprir uma norma social ou apoiá-la. O estigma surge do facto de, numa certa categoria, o indivíduo ter de apoiar a norma, assim como a cumprir. Por exemplo, um cego não deve somente defender que se deve ver, mas deve também fazê-lo, se conseguisse. Desta forma, é uma pessoa estigmatizada devido à sua falta de visão, não cumpre a norma social, expectável.

Não importa o que o estigmatizado se considera, pois o que acontece é que os indivíduos de uma sociedade não estão dispostos a manter um contacto de forma igual com todos os indivíduos, por muito que este se sinta normal. O estigmatizado fica sempre a baixo do que deveria ser. A vergonha torna-se então muito importante nestes casos, quando o indivíduo percebe que um dos seus atributos é a razão da sua descriminação.

Por vezes, quando estão sozinhos a estes indivíduos surge o auto-ódio e a autodepreciação, visto que se sentem inferiores e diferentes dos demais. Por dentro as pessoas sentem-se felizes, saudáveis, normais, todavia, muitas vezes, não é o que transparece para os outros, e para além disso são as diferenças, nomeadamente depreciativas, a que se dá mais valor, deixando de parte todas as boas coisas de um indivíduo. Algumas pessoas sentem que aquilo que vêem no espelho é como um disfarce, mas não daqueles que as pessoas põem para confundir os outros sobre a sua identidade, como no Carnaval, mas sim um disfarce sem consentimento, que o indivíduo não aceita, pois ele não se sente assim, acabando por confundir o próprio quanto à sua identidade.

O individuo estigmatizado também pode ganhar algum reconhecimento e corrigir a sua condição de maneira indireta, se se dedicar a algo, que, à priori, parece impossível para alguém com a sua condiçaõ física ou mental (ex: atletas paraolímpicos). O indivíduo afasta as pessoas do seu defeito e faz com que se foquem mais na sua identidade social. Os indivíduos estigmatizados estão dispostos a chegar a qualquer lado se puderem corrigir o seu defeito.

A obra de Goffman centra-se sobre a interação social. Nos contactos mistos – quando estigmatizados e normais estão em contacto – o autor afirma que, muitas vezes os estigmatizados evitam os normais. As pessoas estão por vezes infelizes, pelo que não se sentem à vontade para estar com outras pessoas que, aparentemente, não possuem qualquer defeito. Ao ter consciência da sua inferioridade o indivíduo vai mostrar-se inseguro com a sua condição, assim como uma constante insegurança na relação que estabelece com os outros. Até que se estabeleça o contacto o estigmatizado nunca pode estar seguro sobre qual será a atitude de um novo conhecido ou se este será ou não rectivo.

Apesar de, por vezes, as pessoas serem simpáticas com estes indivíduos, continuam a vê-los na base do seu estigma (é simpático mas continua a ser cego ou um criminoso). Pessoas são incapazes de os aceitar como qualquer outra pessoa. Os estigmatizados nunca sabem o que é que os outros pensam realmente deles. Durante os contactos mistos, o indivíduo estigmatizado tem sempre a sensação que está em exibição, como se fosse uma ave rara, que nunca ninguém viu.

Quando existe uma discrepância entre a identidade social

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