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Conceitos de memória, história, identidade e documentos, a partir da perspectiva do filme Narradores de Javé

Por:   •  24/9/2018  •  1.356 Palavras (6 Páginas)  •  313 Visualizações

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Ainda, quanto à seletividade da memória, ela não ocorre somente em relação ao que é narrado pelos moradores de Javé. Cada um conta a história de acordo com o que se lembra e com o

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como se lembra. No entanto, é Antônio Biá o responsável por selecionar e registrar, dentre tantas histórias, aquelas que farão parte do dossiê. Logo, os registros seriam feitos a partir das memórias do escrivão sobre as memórias narradas a ele. De acordo com a consciência desse personagem em relação ao papel do registro escrito, “uma coisa é o fato acontecido, outra é o fato escrito”. A fala de Biá reafirmar o seguinte pressuposto: há uma manipulação da memória ao ser registrada. Uma vez que a memória não é a realidade em si, mas sim a representação do fato E, (re)construção simbólica dos dados da realidade a fim de serem patilhados socialmente. Logo, a memória sofre modificações desde que articulada, até o momento que é expressa e registrada no possível texto a ser escrito por Biá. Desta forma, Pollak (apud OLIVEIRA), afirma que esse registro, ou enquadramento, de memória pela história é resultado de seleções daquilo que será gravado na memória de um povo e, assim, constituído como memória coletiva e identitária.

Este processo de evocação do passado javélico é uma tentativa de posicionamento em um fluxo temporal, com o objetivo de transformar lembranças em História e, assim garantir um caráter de continuidade entre os fatos vividos e narrados e os fatos registrados, promevendo a ação, a partir de observação, no devir de construir o futuro.

Entre os ditos e não-ditos das memórias contadas durante o filme, acompanhamos a possível concepção do documento que salvaria Javé. Documento este, que assume um caráter monumental, ao ser produzido com um intuito de utilização pelo poder como prova da importância javélica, como ratifica Le Goff ao nos trazer a concepção de que

O documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um fruto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá- lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa (LE GOFF, 2006)

Contudo, no dia da entrega do documento, o “livro da salvação” estava em branco! Na tentativa de se justificar, Biá diz que "Quanto às histórias, acho melhor ficar na boca do povo, porque no papel não há mão que lhes dê razão", uma vez que não seria possível atribuir caráter científico a uma obra tão cheia de divergências.

Assim que a cidade é inundada, porém, Biá após um momento de reflexão, senta-se e começa a escrever o “Novo Livro de Javé”, não mais constituído de histórias de seus antepassados, narradas de diferentes maneira pelo povo, mas sim, constituído de acontecimentos vivenciados pelo ex-moradores de Javé, que deixam de ser narradores, para se tornarem protagonistas de sua própria história.

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Referências

História da Cultura Escrita: séculos XIX e XX. Ana Maria de Oliver Galvão et al. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2007

LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. História e Memória. Campinas: Ed. Unicamp, 2006.

NARRADORES de Javé. Direção: Eliane Caffé. Rio de Janeiro: Bananeira Filmes/ Gullane Filmes/ Laterit Productions, 2003.

POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n.10, 1992.

_ . Memória, esquecimento e silêncio. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n.3, 1989.

SÁ, Celso Pereira de. As memórias da memória social. In: _ (Org). Memória, imaginário e representações sociais. Rio de Janeiro: Museu da República, 2005.

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