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AS HERANÇAS INDÍGENAS NA FORMAÇÃO DOS CAIPIRAS

Por:   •  25/12/2018  •  4.431 Palavras (18 Páginas)  •  364 Visualizações

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2. DISCUSSÃO

2.1 A Origem do Paulista

2.1.1 João Ramalho e a vila de Santo André da Borda do Campo

A história do paulista, começa lá no passado, mais precisamente com a fundação da vila e instituição da capitania hereditária de São Vicente(1532) por Martim Afonso de Sousa (LANÇA, 2015), posteriormente transpondo a serra de Paranapiacaba que anos mais tarde proporcionou a Jesuítas fundar a vila de São Paulo, sem antes o patriarca dos paulistas, João Ramalho fundar a vila de Santo André da Borda do Campo(PEREZ, 2010).

A sede do atual município de Santo André não encontra-se localizado no mesmo local da Vila de Santo André da Borda do Campo, porém defini-lo como possuindo sua origem na vila quinhentista é de suma importância para centralizar, tanto o município quanto seu fundador como personagens indispensáveis para a formação do paulista, como podemos ver no seguinte trecho de Perez (2010),

A escolha da vila como a origem para a cidade atual foi motivada pela busca da mais antiga referência no período da américa portuguesa na região da atual cidade e ela recaiu sobre a vila de Santo André da Borda do Campo, cujo nome coincide como o do distrito de Santo André, criado em 1910, para onde a sede da vila mudou-se em 1938.

Essa questão nos dias atuais, tem levantado uma série de dúvidas de qual teria sido a primeira vila do planalto da capitania de São Vicente, a vila de Santo André da Borda do Campo ou a Vila de São Paulo, criando um embate entre autores da história de Santo André versus os de São Paulo, com a finalidade de definir qual das duas seria a mais antiga e assim iniciado a história de São Paulo (PEREZ, 2010). Com essa discussão é que chega-se em quem seria o pai de todos paulistas e como podemos ver em outro trecho de Perez (2010) esse nome foi definido como sendo o de João Ramalho,

A discussão passou a tentar definir, também, quem teria sido o primeiro “paulista”, o “pai de todos” e chegaram a João Ramalho, que foi alcaide-mor da vila de Santo André. Daí a importância da atual cidade ser incontestável, pois além de ter sido a primeira no planalto, ela tinha como figura central e criador o “pai dos paulistas”.

No livro Caminhos e Fronteiras, Sérgio Buarque de Holanda, ao falar da transmissão de conhecimento que era efetuada pelos índios ao seus descendentes mamelucos, cita João Ramalho e sua condição de patriarca, dizendo que os mamelucos e primeiros paulistas para resistir às hostilidades do meio onde estavam inseridos, tiveram que imitar os hábitos dos índios que além de transmitir os conhecimentos sobre a região para os mamelucos, também o faziam para os brancos pioneiros das terras de Piratininga (HOLANDA, 2008), no trecho a seguir Tomé de Sousa descreve uma característica central para entender o sucesso de João Ramalho em terras Andreenses (HOLANDA, 2008),

E é inevitável pensar-se a este propósito no patriarca João Ramalho, de quem dizia Tomé de Sousa, em carta a el-rei: “Tem tantos filhos e netos bisnetos e descendentes delle ho nom ouso dizer a V. A., não tem cãa na cabeça nem no rosto e anda nove leguoas a pe antes de jantar[...]”.

Essa característica central que foi citada no parágrafo anterior diz respeito ao cunhadismo, termo usado por Darcy Ribeiro em seu livro O Povo Brasileiro, a formação e sentido do Brasil. Segundo Ribeiro, somente por meio do cunhadismo foi possível a formação do povo brasileiro. O cunhadismo é um uso indígena com a finalidade de introduzir e incorporar estranhos à comunidade. Este fato se consumia uma vez que o chefe indígena dava uma moça de mesma origem étnica como esposa para o indivíduo de fora da comunidade. Uma vez assumida como esposa, parceira e etc, automaticamente este indivíduo de fora estaria incorporado a comunidade, formando assim mais de mil laços que o aparentavam com todos os membros do grupo(DARCY,1995). Foram essas características únicas do cunhadismo que fez de João Ramalho um português com mais de cinco mil mamelucos a seu dispor, com alguma ligação direta ou indireta com ele por meio dessa prática indígena.

2.1.2 O indígena e o português

A formação daquilo que viria a ser a Paulistânia, com origem na vila de Santo André da Borda do Campo e logo depois a vila de São Paulo, que mais tarde se expandiu para o sertão em busca de riquezas, desbravando o desconhecido, transformando a pequena capitania de São Vicente num grande território chamado São Paulo, que abarcava o que hoje são os estados de São Paulo, Minas Gerais, Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná, estimulando mesmo que de forma sutil a ocupação de todo o oeste paulista, formando vilas como Sorocaba, Campinas, Itu, Parnaíba entre outras, só se tornou possível com a assimilação de hábitos indígenas pelo português e também pelos mamelucos, que se tornaram os primeiros paulistas e consequentemente os primeiros brasileiros.

A relação entre indígenas e portugueses não foi nada amistosa, na realidade, como cita Darcy Ribeiro em O Povo Brasileiro, a formação e sentido do Brasil, os primeiros brasileiros foram fruto da investida de portugueses de São Paulo nas populações indígenas do planalto paulista que ficava a 4 dias de de viagem do mar (1995). O cunhadismo nesse momento foi utilizado à exaustão, como principal instrumento do colonizador português para constituir um contingente de pessoas para exploração, no trecho a seguir vemos a ideia central da formação dos primeiros paulistas, ou proto-paulistas (RIBEIRO, 1995),

Os brasilíndios ou mamelucos paulistas foram vítimas de duas rejeições drásticas. A dos pais, com quem queriam identificar‐se, mas que os viam como impuros filhos da terra, aproveitavam bem seu trabalho enquanto meninos e rapazes e, depois, os integravam a suas bandeiras, onde muitos deles fizeram carreira. A segunda rejeição era a do gentio materno. Na concepção dos índios, a mulher é um simples saco em que o macho deposita sua semente. Quem nasce é o filho do pai e não da mãe, assim visto pelos índios.

A vila de Santo André da Borda do Campo inicialmente dependia da captura de indígenas, que posteriormente seriam vendidos como escravos para desenvolver as mais diversas atividades. No livro Caminhos e Fronteiras, o autor Sérgio Buarque de Holanda, mostra uma dessas atividades que eram desempenhadas pelos indígenas, como pode-se ver no trecho a seguir(HOLANDA, 2008),

… as cargas eram levadas de preferência nos ombros dos escravos e administrados. Uma rede

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