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A Sociedade Moderna Como um Bom Instrumento

Por:   •  16/3/2018  •  1.430 Palavras (6 Páginas)  •  407 Visualizações

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Em outro trecho Simmel faz alusão à exatidão calculista na vida prática moderna criada pela economia do dinheiro, citando a concepção das ciências naturais da tentativa de compreender o mundo por uma série de leis e correlações matemáticas. Essa relação calculista somada ao fragmento em que o autor diz entender o ódio de Nietzsche e Ruskin pela vida moderna, tendo suas naturezas descoberto valor da vida a sós e à parte da teia social, pode indicar que, ainda do afloramento das liberdades individuais e subjetivas no homem moderno, não estão estas livres de regras do capital ou do rigor das normas sociais presentes na metrópole.

Analisando alguns dos textos de Bauman, Norbert, Giddens, Simmel, Marx e Goffman acerca da modernidade, do indivíduo e da sociedade como um todo, chega-se a uma série de pensamentos não exatamente conflitantes, mas que dialogam entre si com diferentes formas de pensar o mundo moderno. Ao mesmo tempo que extrai-se de “ O Fenômeno Urbano” e dos dados correlatos acerca da pisque do homem moderno a percepção da vida metropolitana, em certa medida, gerando problemas e aprisionando-o, Giddens deixa claro em “As consequências da modernidade” que com a Idade Moderna surgiram também processos de abertura para as relações interpessoais de forma mais verdadeira, assim como a ampliação da possibilidade de expressar socialmente a identidade do indivíduo. A concepção segunda parece ser algo em desacordo com o evidenciado pelo descrédito dado por Nietzsche à vida moderna, quando figura que a amplitude da vida humana não pode ser reduzida à precisão da vida metropolitana.

Ainda desenvolvendo o escrito por Giddens no livro citado, acreditando que a extensão das possibilidades de vida contemporâneas faz dos indivíduos menos determinados à formas de comportamento e vivências pré-determinadas, faz necessário trazer a concepção de que a sociedade não simplesmente é, mas constrói-se em cada ação social, em cada perpetuação dos sistemas abstratos, aceitação dos sistemas peritos, ou mais hodiernamente, nas escolhas do consumo. Tendo em vista essa reorganização social constante, faz-se útil relembrar uma citação de autor desconhecido, “Um bom instrumento nas mãos de um mau homem torna-se um mau instrumento, enquanto um mau instrumento nas mãos de um bom homem, tende a tornar-se um bom instrumento”. Pode-se adaptá-la ao contexto considerando como mau instrumento uma sociedade que não busca trabalhar o autoconhecimento, a visão do indivíduo como parte construtora e constituinte da comunidade e da natureza, em contraposição ao comportamento normótico[3] do atarefado homem metropolitano, ou uma série de outras consciências individuais que comumente são esquecidas ou depositadas em terceiros. Ainda, dado este macro mau instrumento, não pode-se negar a existência dos pequenos bons instrumentos e do homem bom, execrando-se desta definição a concepção moralista e tipificada, atentando-se ao sentido, ainda que de dificílima definição, do homem que busca compreender-se e autoavaliar-se dia após dia, buscando incessantemente não só conhecer-se, mas compreender o possível do complexo trânsito social à fim de poder mover-se no contra fluxo ou no fluxo global, à depender do objeto analisado.

Dadas as considerações, apesar do árduo e perseverante trabalho de tomar consciência de si[4], a sociedade moderna permite através dos governos “democráticos”[5] de direito, ainda que tenha seus meios de entorpecer esta garantia, que os indivíduos tenham certa autonomia intelectual e comportamental. Um cidadão típico pode tanto aceitar determinadas concepções padrão, quanto refutá-las e fazer com que o pensamento contrário alcance a terceiros através de mobilização, exposição de uma linha de raciocínio convincente ou até mesmo pelo estabelecimento de empatia entre comunicante e comunicado. Além disso, a existência das mídias sociais dá voz às minorias e possibilidade destas alcançarem a toda uma população, inclusa digitalmente e/ou interessada no assunto.

Quanto às diferentes circunstâncias atreladas à acessibilidade dessas mídias, haja vista a hegemonia das poucas famílias responsáveis pelos grandes meios de comunicação televisivos no Brasil como herança do coronelismo, e a complexidade da questão financeira e cultural atrelada à vontade e capacidade de opor-se à um sistema normativo padrão, cabem teses e estudos muito mais aprofundados. À nível sugestivo, penso que uma educação holística e ao mesmo tempo voltada para o indivíduo, bem como a democratização dos meios de comunicação e produção, parecem tornar mais tangível o ideal de uma sociedade responsável quanto ao uso de seus recursos e de sua liberdade e reflexividade.

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REFERÊCIA BIBLIOGRÁFICA

BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 2004.

GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Ed. Unesp, 1991.

GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. 13 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. (Introdução e Cap. I – “Estigma e Identidade Social”)

MANIN, Bernard. The Principles of Representative Government.

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