A Cultura e Política
Por: Sara • 28/8/2018 • 2.589 Palavras (11 Páginas) • 308 Visualizações
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- Reflita sobre os preconceitos sócio culturais existentes na sociedade brasileira, tendo como parâmetro o texto Sobre o óbvio de Darcy Ribeiro.
Inicialmente, vamos procurar entender o que significa o óbvio? Ora, segundo o dicionário a palavra óbvio significa “aquilo que é evidente”, contudo nem tudo é o que parece ser no mundo da obviedade, e é esse cuidado que devemos ter ao analisar cada situação apresentada em nossa sociedade, envolvendo preconceitos sócio culturais.
Darcy Ribeiro, em seu texto intitulado “sobre o óbvio”, nos faz refletir como temos muitas vezes uma percepção inadequada de nós mesmos, afinal, formamos a sociedade e estamos nela inseridos. Às vezes, somos tachados de povinho quando comparados com outros povos de países desenvolvidos, como por exemplo os Estados Unidos.
E que significa preconceito? Preconceito é, segundo o dicionário, “qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico”, isso significa aquela opinião que temos e transformamos em um conceito, sem entender o que realmente é aquilo que apresentamos, seja defendendo ou criticando. São várias as formas de preconceitos existentes, dentre as quais podemos destacar a religiosa, racial, étnica e, porque não, a social.
Mas esse preconceito, sobretudo de classe social, é reflexo do desejo de nossa elite social, vinda de uma formação aristocrata de nobres com grandes riquezas e influências políticas, ou seja, os dominantes da sociedade que pregavam uma noção de poder sobre os demais membros dessa sociedade considerados como dominados. Uma mistura de ideias que buscam repassar um entendimento óbvio de que existe uma superioridade de raça, sexo, cultura, classe social, etc., fazendo com que muitos desses membros da sociedade, considerados dominados, perdessem a autoestima e incorporassem essa ideia de inferioridade e deixassem de buscar recursos que lhe proporcionassem uma melhor qualidade de vida.
Essa obviedade relatada por Darcy Ribeiro demonstra o quanto a classe dominante de nossa sociedade conseguiu manipular toda a construção de uma sociedade formada de dois extremos: aqueles que tudo podem (dominantes) e os que podem alguma coisa (dominados) permitida pela outra classe, evidenciando o quanto os primeiros se empenharam nas suas artimanhas para permanecerem cada vez mais abastados de riquezas e poder para se manterem no controle de tudo. Daí se construiu uma sociedade onde cada personagem é “consciente” de seu lugar e, portanto, segue o seu destino. Assim, podemos refletir que as crises existentes na sociedade na realidade são programas preestabelecidos pela “insignificante” minoria em detrimento da maioria. Darcy Ribeiro, ao comentar sobre o óbvio, esclarece que ao longo do tempo essa obviedade de que os nossos defeitos e qualidades foram os responsáveis pelo nosso fracasso ficou sem razão de ser, pois os motivos foram outros:
Assim é que, desde então, lamentavelmente, já não há como negar dois fatos que ficaram ululantemente óbvios. Primeiro, que não é nas qualidades ou defeitos do povo que está a razão do nosso atraso, mas nas características de nossas classes dominantes, no seu setor dirigente e, inclusive, no seu segmento intelectual. Segundo, que nossa velha classe tem sido altamente capaz na formulação e na execução de projeto de sociedade que melhor corresponde a seus interesses. Só que este projeto para ser implantado e mantido precisa de um povo faminto, chucro e feio.
O Brasil, ainda hoje, é um país que demonstra ter sido construído por uma sociedade extremamente desigual, conforme podemos acompanhar na história de formação de seu povo, da sociedade formada ao longo do tempo. Sociedade, esta, de exploração da classe dominante sobre a grande massa formada de homens e mulheres que não tiveram a oportunidade de se mostrarem. Que se conformaram diante daquilo que lhes foi mostrado. De que eles são aquilo e pronto. Que o lugar de quem não tem riqueza e conhecimento é abaixo daqueles que tem, pois, afinal, só quem tem dinheiro é capaz de crescer intelectualmente e prosperar. Assim, a manipulação tenebrosa de nossa classe dominante que sempre trabalhou em prol de seus interesses continua se fazendo presente a cada dia, é o que ouvimos e até vemos diariamente e, inclusive, até podemos citar dois exemplos bem recentes, mas poderíamos apresentar muito mais, como o caso da emenda ao pacote de medidas contra a corrupção votada na madrugada do dia 30 de novembro de 2016, pacote este que lista as situações para que juízes e promotores sejam processados por abuso de autoridade, se devidamente constatado, com pena de seis meses a dois anos de reclusão.
Em uma fase repleta de investigações contra atos de corrupção muito nos chama a atenção essa urgência em aprovar essas medidas, já que numa delas está prevista que apresentação pelo MP de ação de improbidade administrativa contra agente público "de maneira temerária" seria considerado crime, cabendo a prisão dos promotores e, também, possíveis indenizações por danos materiais e morais ou à imagem que tiver provocado aos denunciados.
Já o segundo exemplo que nos chama a atenção é a previsão do Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), um tributo previsto na Constituição Federal de 1988, que até hoje não foi regulamentado, por qual motivo? É assim que vamos vivendo essa obviedade que a classe dominante tenta implantar, porém, não há mais como negar, esconder ou fingir que enfrentamos sim uma grande crise na educação, na saúde, na segurança e, mais do que nunca, financeiro, fatores que devem ser considerados como os principais objetivos a serem alcançados em relação a níveis de satisfação da população, mais será mesmo? Acho que não, pois tudo foi feito pela classe dominante de acordo com o que pensaram e quiseram, com os anseios da minoria, pois a maioria pouco importa. Hoje, sofremos e carregamos uma culpa que nunca foi nossa, porque nossos representantes representam eles mesmos.
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