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Resenha - Itinerário Crítico

Por:   •  19/12/2018  •  1.872 Palavras (8 Páginas)  •  340 Visualizações

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Voltando aos anos 30, as gravuras de Kaethe Koolwitz se inserem num contexto específico em solo nacional. Não somente sua obra vai de encontro com as predileções de discurso de Mario Pedrosa, nessa época muito atento aos aspectos sociais de suas leituras críticas, mas também é acompanhada de um forte clima de opinião e busca por identidade nacional. É nesse panorama que Mário faz data com conferência, produzindo o que pode ser conhecido como o primeiro estudo de interpretação marxista da arte de que se tem conhecimento. Muito embora alguns estudiosos atribuam o inicio do marxismo anteriormente à Mário Pedrosa, é importante ressaltar que sua contribuição se deve em contexto diferente, num marxismo que já não era o mesmo. Mesmo ciente do discruso de esquerda da superioridade da “arte proletária” e imbuida de didática política e social, Pedrosa ainda se firma dentro de sua perspectiva de expansão das liberdades artística e não se limita a reconhecer somente atributos sociais na arte em que se dispõe a analisar. A sua capacidade de agregar óticas diferentes, mesmo em períodos em que sua veia social ou estética sejam mais evidentes, é sem dúvidas evidente. O que atrai Pedrosa, para além da trajetória pessoal de Kollwitz, é a capacidade de suas formas se encaixarem numa categoria que ele chamou de “artes sociais”, na confusão das contradições burguesas marcadas pelo avanço técnico e da distância que se criava entre o homem e sua força produtiva.

Mais tarde, um ano após a famosa conferência, se volta para uma figura nacional da “arte social”, Cândido Portinari. Aqui, ele abandona em certa medida o vínculo entre estética e caráter de classe tão presentes em seu discurso. E a maneira como encara a arte dos murais de Cândido em diferentes momentos é definidora de sua trajetória como crítico. Não ignorando aspectos extra-plásticos na obra de Cândido, ele, contudo, prioriza muitos aspectos estéticos, inclusive no que se refere á síntese das artes, apontando a monumentalidade das obras de grandes dimensões do artista e o resgate da arquitetura como expressão dessa síntese que os murais são capazes de realizar. Como dito, sua opinião oscila, chegando a questionar o “zelo proselitista” que muralistas mexicanos sustentam ao sobrepor intenções extrapictóricas. Pedrosa confere ao amadurencimento de Portinari nos anos 40 a responsabilidade por trazer o artista ao gênero do mural, ainda se colocando, segundo o crítico, acima dos murais mexicanos por trazer embuido uma preocupação estética, “ao lado ou acima da realidade”. A maturidade do artista, portanto, surge partindo de um problema interno de foro estético. Entretando, o êxito de Portinari ainda se volta para o que é um objeto constante dentro da prática crítica de Mario Pedrosa, mesmo diante de opiniões não homogêneas na sua trajetória crítica , a síntese que a arte apresenta em termos de realidade e linguagem plástica. A dualidade e conflito entre realidade e abstrato é um elemento presente na obra de Portinari e também uma constante da Arte Moderna.

Para além disso, outro ponto que chama atenção de Mário Pedrosa é a leitura anti-academicista que é possível fazer dessa produção. Em termos de pintura a óleo, Portinari descortina e aprofunda tradições do gênero, proporndo uma experimentação autêntica de linguagem, o que posteriormente o crítico associa ao anti-naturalismo e super-realismo. Até esse ponto, Mário já havia em sua maneira de pensar a repeito da forma e do tema na arte. Para ele, o diálogo que se cria dentro da tela e os ecos que ela produz dentro de sua dinâmica interna são bem mais relevantes do que uma visão mais restrita a uma figuração atrelada ao tema. E isso ele também associa a uma liberdade criadora do artista. É durante esse período de apreciação dos trabalhos de Portinari que ele alcança um nivel de argumentação elevado, trazendo para sua crítica elementos de ordem plástica, sempre buscando que o motiva - a síntese das artes - e dialogando de maneira exemplar com todos esses elementos e com as singularidades da obra, sem se amarrar a qualquer convencionalismo histórico, onde o que importa não é tanto a verdade pictórica tampouco somente a verdade temática, mas sobretudo "a verdade plástica do drama representado". Suas leituras do painel Descobrimento do Novo Mundo é um exemplo importante para pensarmos no poder de comunicar uma nova maneira de tecer a crítica sobre a arte.

A independência da arte que Mario sempre advogou é motim para pensar Portinari dentro de um contexto de elevação da experiência artístíca. Para ele, a finalidade do quadro é trasmitir a realidade concreta sem fugir ás "banalidade das descrições convencionais" e se importando com a lógica interna da tela, a composição e a dialética dos elementos.

Dez anos após a conferência de Kaethe Kollwitz, Mario Pedrosa reafirma o que já vinha apresentando em seus ensaios acerca da obra de Portinari, mas de forma mais direta: as possibilidades da independência da arte e da potencialidade da obra em seus aspectos técnicos além daqueles extrinsecos a ela. Diferentemente de suas falas iniciais, aqui ele consegue ampliar a sua visão e considerar como possível entre a visualidade e a arte social. A arte abstrata se adentro na percepção do crítico como um laboratório para aprimoramento da arte como horizonte utópico de síntese e universalização artística.

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