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Resenha Arnold Hauser

Por:   •  5/7/2018  •  1.670 Palavras (7 Páginas)  •  253 Visualizações

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Então, assim como o planejamento racional econômico, a produção artística do período será drasticamente modificada. Como resultado, elementos como a lógica, a harmonia aritmética, o ritmo calculável de uma composição, a exclusão de discordâncias nas relações das figuras com o espaço que ocupam e o relacionamento mútuo das varias partes do próprio espaço, passam a ser considerados o novo conceito de belo e estes princípios serão tomados como fundamentais para a produção artística do período conhecido como Renascimento Cultural.

Para exemplificar a sua abordagem teórica, Hauser faz referência ao desenvolvimento de dois modelos socioeconômicos distintos observados em duas cidades italianas, Florença e Siena, e estuda como esses modelos influenciaram o desenvolvimento cultural e artístico dessas duas cidades.

“Em Siena, onde a influência da classe baixa é mais forte e as tradições sociais e religiosas tem raízes mais profundas, o desenvolvimento intelectual prossegue menos perturbado por crises e catástrofes, e o sentimento religioso é capaz de assumir formas mais atuais e mais suscetíveis de evolução, justamente porque se trata de um sentimento estuante de vida.” (HAUSER, 1951, p.297)

Pode-se perceber que na cidade de Siena, a sociedade desenvolveu-se de uma forma mais constante, na qual as classes sociais envolvidas nesse processo se relacionavam de forma harmônica, e isso impactou num desenvolvimento artístico e cultural mais uniforme; esse fator contribuiu para que a cidade tenha, num primeiro momento histórico ficado à frente de Florença no que se refere a produção de arte. Florença teve a conformação da sua nova sociedade marcada por diversos fenômenos adversos, como a Peste Negra, região que sofreu o maior impacto dessa grande epidemia europeia, bem como inúmeros conflitos entre a classe média que chega ao poder por volta do século XII e as classes mais baixas que reivindicavam por melhores direitos nessa nova conformação social. Portanto, houve nesse período em Florença uma estagnação do desenvolvimento cultural e artístico, perdendo prestígio para a Siena. Florença volta a atingir o auge da produção artística com a chegada dos Médici no poder, com Cosimo de Medici, que através do uso da força militar consegue um período de estabilidade social para a cidade, provocando um acelerado processo de desenvolvimento econômico.

“Quando esses conflitos atingem uma pausa parcial, e a organização mais segura do trafego de mercadorias permite e exige um desenvolvimento mais sistemático e mais intenso da produção, as características românticas desaparecem gradualmente do caráter burguês; ele sujeita toda a sua existência a um plano logico metódico. Mas, assim que se sente economicamente seguro, a disciplina de sua moralidade de classe média abranda e ele sucumbe com crescente satisfação aos ideais de lazer e vida boa.” (HAUSER, 1951, p.295)

No final do Quattrocento em Florença se vê o surgimento de uma intenção de “restauração do gótico” e de uma “contra-Renascença”, que foi uma concepção de uma cultura dos herdeiros dos grandes mercadores que enriqueceram com o desenvolvimento econômico da cidade. Seus “filhos mimados” preocuparam-se com valores medievais, como o espiritualismo, conservadorismo e convencionalismo. Porém tais características estão atreladas ao pensamento de racionalidade e lógica, marcantes do início do Renascimento, o que ocasionou numa nova forma de representação estilística da realidade.

Essa nova elite social, classe média abastada, que ascendeu socialmente através do acúmulo de riquezas provenientes dos seus negócios, busca maneiras de distinção social das demais classes, e encontram através da intelectualidade e do incentivo às artes uma forma de se mostrar superior aos demais. Isso ocasionou no aumento da produção artística do período, ficando evidente pelo aumento das encomendas às oficinas e ateliês nas guildas dos artesãos da época.

Esse aumento da demanda da produção artística gera mudanças drásticas nas relações sociais de trabalho nas guildas dos artesãos. Num primeiro momento, essas guildas mantinham relações de trabalho típicas da Idade Média, em que a obra de arte era encarada como uma produção coletiva dos diversos trabalhadores dessas associações. Tais mudanças contribuem para o desenvolvimento de um caráter mais intelectual dos mestres-artesãos dessas guildas. Agora estes mestres ocupavam-se com a parte mais intelectual da produção, como a concepção da obra de arte, enquanto os seus aprendizes com os trabalhos manuais.

Os mestres das guildas circulam pelas cortes das classes mais altas da sociedade como um intermediário nas transações entre as guildas e os mecenas, organizando contratos para a execução de diversas obras. E é nesse ambiente em que têm um contato com os humanistas da época, que serviam como fonte dos temas clássicos que seriam representados nas obras de arte, sendo estes também avalistas da qualidade dessa produção artística. Nesse contexto, os mestres-artistas se munem de grande erudição, surgindo a valorização do seu trabalho intelectual, e consequentemente o aparecimento do caráter individualista nessas guildas.

Esses artistas começam a criar uma autoconsciência do valor das suas obras de arte, com a consciência do alto grau de procura pela sua produção individual, facilitando o rompimento desses artistas com as suas corporações de ofícios, e passa a buscar a independência na produção artística. A partir daí, passam a conquistar cada vez mais seu espaço entre as classes mais abastadas da sociedade e a ter grande prestígio social, onde não mais passam a ser protegidos dos mecenas, tornando-se pequenos senhores e membros dos altos círculos

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