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RESENHA DO FILME "KASPAR HAUSER"

Por:   •  19/11/2018  •  1.843 Palavras (8 Páginas)  •  305 Visualizações

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Analisando o percurso de desenvolvimento de K, personagem real e enigmático que, quando encontrado em Nuremberg, em 1928, com supostamente 15 anos, era visto como um garoto no corpo de um adolescente além de selvagem, não sabia falar, nem andar e não se comportava como humano. Apoiando-se em estudos de Vygotsky e Luria, que indicam que a percepção depende, sobretudo, da práxis social, necessária para gestar o referencial cultural de apreensão da realidade. Como se articulou linguagem e pensamento no desenvolvimento cognitivo de K e como ele concebesse seu mundo, tendo sido privado dos filtros e estereótipos culturais que condicionam a percepção e o conhecimento, foi privado de educação, condicionamento e repressão. Naquela época a civilização era modelo a ser alcançado e os que não correspondiam eram tachados como primitivo e atrasado. K. através da linguagem aprendeu a observar e verbalizar, mas não entende as explicações que as pessoas davam e assim ficava confuso, não conseguindo verbalizar o conteúdo que pensava. Nisso nada era percebido por K. da forma como a prática social definia, ele não tinha essa prática e passou por um processo de socialização, onde exercitaria a compreensão através da prática social, não consegue portanto atribuir significado às coisas, mesmo tendo adquirido a linguagem. Assim, somos levados a pensar que não apenas o sistema perceptual, mas as estruturas mentais e a própria linguagem são resultantes da prática social, ou seja, as práticas culturais "modelam" a percepção da realidade e o conhecimento por parte do sujeito. K. não foi exposto a essa "modelagem" cultural, e era visto como um ser "incompleto," como se estivesse sempre em "déficit" em relação aos outros. Ele se sente perturbado pelo mundo: "o mundo é todo mau," comenta após perceber que alguém pisou as flores que plantara no jardim, isso era incômodo, pois via a realidade diferente, via a pessoas e tudo ao redor com espanto de um olhar puro, sem reservas, sem estereótipos.

Vygotsky, citado por Oliveira (1997, p. 24), diz que a relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas uma relação mediada, sendo que os sistemas simbólicos são os elementos intermediários entre o sujeito e o mundo; porém, tendo vivido no isolamento, K. não aprendeu nem internalizou este sistema simbólico que, para ele, não fazia sentido e somente depois de muito tempo convivendo com aquela comunidade de que ele começa a entender a relação simbólica e a relação de representatividade entre os signos e as coisas concretas. Ao contar ao tutor que havia sonhado com uma caravana, é elogiado por saber a diferença entre sonho e realidade, mas na verdade, não fazia esta distinção, acreditava que as coisas sonhadas haviam acontecido realmente. Quando tentamos delimitar a atividade que faz parte do comportamento do organismo focando-se apenas na própria atividade, Skinner (1938/1966a) afirma que comportamento é o que o organismo faz, e “fazer” indica uma atividade que está sendo realizada num dado intervalo de tempo. Dessa forma, o comportamento seria um processo, mas não um processo qualquer especificamente, o comportamento envolve uma ação, o processo em que o organismo age sobre, e interage com, o mundo externo. ZILIO(2010).

O caso de Kaspar ilustra o erro básico de uma organização social vista através dos princípios do racionalismo positivista, conseguimos perceber que a "humanização" do homem como socialização, não é uma decorrência biológica da espécie, mas consequência de um longo processo de aprendizado com o grupo social. Através desse processo, o indivíduo se integra no grupo em que nasceu, assimilando o conjunto de hábitos e costumes característicos desse grupo ou sociedade participando e aprendendo as “normas, valores e costumes,” imposta ao indivíduo, assim ele está se socializando, reprimindo suas características instintivas e animais e desenvolvendo as sociais e culturais, fazendo, assim, a "passagem da natureza para a cultura," aprendendo a ver com os "óculos sociais," tornando-se, um animal de costumes, mas Kaspar não tinham nenhuma utilidade e não se transformou nesse animal de costumes; no máximo, poderia ser visto como "domesticado", não poderia ser visto como "normal." Aprendeu sim a andar, falar e escrever e apesar de haver internalizado símbolos de comportamentos, nunca seria considerado um igual, pois ocorreram comportamentos postos em relação com variáveis ambientais e a partir disso é possível observar que ocorreram mudanças ordenadas, e, assim, padrões de comportamento delineados pelo ambiente nunca antes experimentado por Kaspar. Ainda de acordo com Zilio,(2010) Só podemos entender o comportamento do organismo quando temos acesso não só às suas respostas únicas, mas também à sua história de condicionamento e ao seu repertório comportamental. Entretanto, Skinner (1953/1965, p116) citado por Zilio (2010) observa que “qualquer unidade do comportamento operante é em certa medida artificial.

Pavlov e Skinner defendiam que, o comportamento é moldável, mas para que isso ocorra é necessário que haja estímulos e um ambiente que elicie respostas. Podemos observar quando Zilio, 2010 cita a fala de Skinner afirma não achar que o comportamento é necessariamente ação muscular ou padrões de movimentos, ele diz que a atividade que define o comportamento é caracterizada pela interação com o mundo externo. Mas que mundo seria o mundo externo para alguém que nunca conheceu sequer o mundo interno?, Skinner completa, o mundo externo é o ambiente, ou seja, o que não é a própria ação., mundo externo, não é o oposto, o que está fora da pele, não é o que circunda o organismo, o ambiente é externo a ação e pode ser qualquer “evento no universo capaz de afetar o organismo.

Já reinserido no convívio com a sociedade, é possível notar que o comportamento de Kaspar foi modelado, através de estímulos diários, ele pôde aprender desde coisas básicas como comer, beber, conversar, até funções mais elaboradas como escrita, tocar piano, plantar.

Como Skinner propôs: O organismo sempre está inserido em um ambiente. No caso respondente, os estímulos eliciadores são eventos ambientais responsáveis diretamente pela ocorrência de respostas reflexas. Já no caso

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