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O CRESCIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DE MULHERES NA STREET ART O GRAFITE COMO EXPRESSÃO NA LUTA DE GÊNERO EM PERNAMBUCO

Por:   •  1/5/2018  •  2.079 Palavras (9 Páginas)  •  391 Visualizações

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[pic 1]

Gabi e Rastro (2014)

Garanhus-PE FIG

[pic 2]

Gabi Bruceno (2013)

Praia de gaibu,PE

[pic 3]

Nathê, 2015

comunidade Novo Horizonte, Barra de jangada

É possível destacar, nessas formas, os traços africanos nos rostos, a preocupação de fugir do estereótipo da mulher negra com traços europeus, que esconde por anos a fio o preconceito da sociedade. Como fica claro no discurso divulgado na apresentação de murais pelo Poder Feminino Crew, grupo atuante na mesma vertente, em uma rede social elas declararam sobre as obras da integrante Nathê:

“Artes da nossa integrante Nathê (...), que tem o empoderamento das mulheres negras como foco dos seus desenhos e grafites. Arte subversiva, porque enxergamos que a preservação da estética afro é uma forma de resistência, auto-afirmação e subversão. Entre tantas coisas, o empoderamento da mulher negra significa assumir sua cor, seu cabelo, seus traços, sua raiz, a história de seu povo, e passar a ver tudo isso como motivo de muito orgulho e instrumento de luta, é assumir sua identidade, se amar, resgatar suas raízes e voltar pra si mesma, se empoderar é se apoderar de si.” (Poder feminino Crew, 2015)[3]

Pautada na ideia da representatividade, também são registradas outra minorias femininas, além de outros elementos da cultura negra, que envolvem desde a religião às vestimentas. Como pode perceber nas obras expostas a baixo, produzidas em eventos, com participação de vários artistas.

A primeira, aparece a figura da negra e da índia, além da frase que traz uma combinação de poesia com protesto, o texto escrito no mural provoca a ideia de que aquelas mulheres estão ali, lutando por espaço, apesar de todo o histórico de marginalização, discriminação, e a contra gosto da sociedade tradicional, aparecem com força e ganham legitimidade e visibilidade. A segunda aborda a religiosidade africana, com figuras femininas característicos da religião. E a terceira, produzida em um terreiro da nação xambá em Olinda, é um retrato em homenagem ao centenário da mãe Biu, figura marcando do imaginário negro.

[pic 4]

Colativa Feminista (2016)

Mural de graffiti no evento Impressões Feministas

[pic 5]

Evento pró Recifusion

Comunidade do Bode/Recife

[pic 6]

Gabi e Rastro (2014)

Olinda – PE

O empoderamento feminino é um tema recorrente, o uso dessa expressão junto ás imagens é registro das lutas que estampam e buscam questionar a liberdade da mulher em uma sociedade com patriarcado tão arraigada na sua formação.

É importante destacar o valor desses retratos feitos em muros da rua, diferente das exposições que acontecem em galerias fechadas, para um público específico e muitas vezes bem informado. A pintura de rua aproxima o público da realidade e do artista. Quando se fala em representatividade, por exemplo, ela é levada a outro nível de reconhecimento, a identificação da imagem com a sua realidade é instantânea e tem poder de se mostrar como marca de beleza e força, já que, paradoxalmente, na cultura do Brasil, a mulher que se estabelece como padrão de beleza exclui a maior parte delas. A pintura aparece como um grito de liberdade, e é uma via de mão dupla, acontece da artista para o mundo, e do mundo que ela representa.

[pic 7]

Nathê (2016)

João Pessoa

[pic 8]

Nathê (2015)

Recife-Pe

[pic 9]

Jouse Barata (2014)

Salvador - BA

No primeiro painel vê-se o uso da expressão “poder”. No segundo, a mensagem clara “respeita as mina!”, uma declaração contra a violência sofrida por elas em uma passeata que aconteceu na cidade, que ironicamente era contra a violência sofrida pela mulher. No terceiro painel, da artista Jouse Barata (integrante do grupo cores do amanhã), traz a mensagem “Dona da casa e dona de mim” trazendo a mulher-mãe, percebe-se na imagem, no olho direito traços da violência doméstica, a mensagem serve como forma de fortalecer a mulher, para esses casos que infelizmente, não são raros e muitas vezes é consequência da submissão dentro dos lares.

O machismo no grafite

Nila Dias, que também faz grafites pelas ruas do Recife, integrante da 33 Crew e da Várias Queixas Crew, coletivos locais de grafitagem. Para ela o machismo acontece por parte da sociedade e não pelos grafiteiros que dividem espaço com elas. Como afirma em entrevista:

“Mas da sociedade ainda existe. Acontece muito da gente estar pintando e alguém comentar ‘ó, é uma menina’ e ficam me perguntando por que eu faço isso, enquanto que com os meninos a abordagem já é diferente”[4].

Para Gabi Bruce, o cenário é diferente, ela comenta que ainda existe muita resistência em relação à presença feminina não só no grafite, mas dentro do movimento como um todo.

“Nós mulheres somos inviabilizadas dentro do Hip-Hop. Ainda existe aquela ideia patriarcal bem forte de que mulher é desunida e construir uma nova ideia, começar a puxar diálogo sobre outros tipos de educação não sexistas, é bem desafiador neste meio”[5].

Hoje, Pernambuco é o estado do Nordeste que mais tem grafiteiras que estão nas ruas todos os dias. Mas ainda não tem a visibilidade que merecem, elas se destacam pelo grande número de atuantes e pela organização. A promoção de eventos que envolvem outras expressões como o hip hop, desenvolvido pelas meninas do Flores Crew, por exemplo, que buscam por uma sociedade menos desigual. Os eventos envolvem crianças e jovens em uma tentativa de promover inclusão social e visibilidade.

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