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A luta da mulher negra na sociedade

Por:   •  5/2/2018  •  1.846 Palavras (8 Páginas)  •  373 Visualizações

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1.ARTICULANDO GÊNERO E RAÇA NA SOCIEDADE BRASILEIRA

Atualmente, as questões relacionadas à igualdade de gênero e raça tem entrado cada vez mais no cenário da agenda pública nacional, tanto com o advento dos debates e reflexões promovidos pelos movimentos sociais e pela academia. (CORTÊS NERI, 2013)

Mas, as conquistas alcançadas no campo da igualdade de gênero e raça não podem ofuscar os enormes desafios ainda impostos. A persistência deste cenário aponta, a cada dia, para a força estruturante dos valores e convenções de gênero e raça na conformação do quadro maior de desigualdades que ainda marca o país. (CORTÊS NERI, 2013)

Para Eleonora, o conhecimento sobre as formas como as desigualdades de gênero se produzem e reproduzem é condição para que elas possam ser enfrentadas, por meio da articulação da ação dos movimentos feministas e de mulheres, do Estado brasileiro, de organismos internacionais, acadêmicos(as), e de diversos atores sociais que, juntos(as), vêm construindo a igualdade enquanto uma realidade.

O sexismo e o racismo são ideologias geradoras de violência e estão presentes no cotidiano de todos(as) os(as) brasileiros(as): nas relações familiares, profissionais, acadêmicas e nas instituições, o que permite afirmar serem dimensões que estimulam a atual estrutura desigual, ora simbólica, ora explícita, mas não menos perversa, da sociedade brasileira. (MENICUCCI, 2013)

Pensadoras do feminismo negro, como Judith Grant, estenderam a crítica também a teorias feministas sensíveis aos múltiplos eixos de opressão, a exemplo do feminismo socialista nos Estados Unidos, que enfatiza a experiência da opressão e exploração sexista e vê outras dimensões (racismo, classismo, homofobia, machismo etc.) como uma adição, que resultaria na experiência de ser mulher. (CORREIA SOTERO, Edilza)

Ainda para Edilza, O foco do feminismo negro é salientar a diversidade de experiências tanto de mulheres quanto de homens e os diferentes pontos de vista possíveis de análise de um fenômeno, bem como marcar o lugar de fala de quem a propõe. Patricia Hill Collins é uma das principais autoras do que é denominado de feminist standpoint (ponto de vista feminista).

Uma análise de gênero também deve considerar que não só questões relativas ao acesso à educação são relevantes mas também um conjunto de aspectos que evidenciam as relações hierárquicas reproduzidas no interior do sistema educacional. (CORREIA SOTERO, Edilza) Além disso, é fundamental a relação destas com outros campos por elas influenciados e que as influenciam. Nina Madsen, em sua dissertação de mestrado, apresenta um modelo inspirado em Nancy Fraser que procura resolver esta problemática. Madsen (2008) elabora uma proposta para

compor um modelo tridimensional que, ao analisar ou formular a educação como política pública do Estado, abarque as dimensões econômica, cultural-simbólica e política de maneira integrada (entendendo que cada dimensão dialoga e interfere nas demais) e transversal (entendendo que essa leitura deve perpassar todo o sistema, em todas as suas instâncias e formulações)(Madsen, 2008, p. 811).

2.DESCREVENDO O PERFIL DAS MULHERES NEGRAS MORADORAS DA BOLA DE OURO

A realidade da mulher negra, no Brasil de hoje, manifesta uma extensão da sua situação vivida no período da escravidão com poucas mudanças, pois ela continua em último lugar na escala social e é aquela que mais carrega as desvantagens do sistema injusto e racista do país (SILVA, 2003).

“Ser mulher e negra no Brasil é a formula que garante a sua pobreza” (Jornal a crítica, 2001).

A comunidade, ou favela como é mais popular, objeto deste estudo denomina-se “Bola de Ouro” e localiza-se em Jaboatão dos Guararapes – PE; acomoda-se entre os conjuntos habitacionais construídos pela Companhia de Habitação do Estado de Pernambuco entre os Curados II,III,IV, sendo que a maior extensão localiza-se no Curado IV, com acesso à BR 232. (RAIMUNDO, Valdenice) . Segundo depoimentos das moradoras entrevistadas, as mais antigas no local, não existe uma concordância quanto à origem do nome, como também este não é o único que a localidade recebeu, desde que surgiu há 16 anos atrás.

“Esse nome surgiu por causa de um campo onde os meninos e os homens jogavam bola. Eu acho normal, mas tem gente que não gosta”. (...) Quem deu esse nome, que eu não gosto muito, foi os meninos do apito, eu mesmo não digo que moro na Bola de Ouro, digo que moro na invasão”. (...) O nome daqui, no início era Parque Santana, depois Vila Esperança Emergente. Eu conhecia assim, mas agora é Bola de Ouro, ... balançando a cabeça negativamente”.

As mulheres moradoras da comunidade Bola de Ouro, onde maioria do território é composto por negros, tem as seguintes características: pobres, mães de família, desempregadas. As mulheres de lá têm consciência das necessidades e dos muitos sofrimentos que enfrentam cotidianamente, desde em época que eram meninas, mas como cidadãs, pois todas, contraditoriamente, assim se nomeiam, vêem-se com direitos. Desta forma, não amaldiçoam o lugar onde vivem, mas desejam melhorá-lo e “como os políticos não fazem nada, a gente arregaça as mangas e faz; não é a mesma coisa, mas...”. (RAIMUNDO, Valdenice).

Esta experiência cotidiana das mulheres negras constata que elas têm conhecimento da existência dos direitos existentes na Constituição. Por isto, suas colocações denunciam que a lei só vigora para uns poucos, pois se sentem privadas dos direitos mais elementares, como acesso a melhor qualidade de vida, à igualdade de direitos e à dignidade que são necessidades assimiladas e desejadas pelas mulheres.(RAIMUNDO, Valdenice)

3.DIFICULDADES DOS/AS ASSISTENTES SOCIAIS NA GARANTIA DE DIREITOS SOCIAIS ÀS MULHERES NEGRAS

A intersetorialidade em políticas públicas é algo recente, e ainda está tentando ser considerada como uma alternativa de enfrentamento às múltiplas expressões da Questão Social vivenciadas pelas usuárias negras que utilizam serviços do CREAS, por exemplo. Através da abordagem intersetorial, a gestão pública nem sempre alcança uma efetividade e impacto sobre os problemas e demandas dessas mulheres, com uma visão integrada destas questões e de suas soluções. (COUTINHO, 2014 )

Verifica-se a necessidade do trabalho intersetorial na garantia do acesso aos direitos das mulheres negras, principalmente porque se considera que nenhuma política pública é completa

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