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As Relações do Surrealismo e a Moda

Por:   •  19/11/2018  •  1.996 Palavras (8 Páginas)  •  256 Visualizações

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Millet, do próprio pintor, que, a partir de uma indagação gera uma série de delírios, baseados nos estudos psicanalíticos da época, que interpretam a cena da obra “Ângelus”, um quadro do francês Jean F. Millet pintado no século XIX. Mesmo após o desligamento do grupo surrealista, Salvador Dalí continuou produzindo seus quadros ditos como surrealistas. Também fez parte de vários projetos tanto no teatro, como na moda, na publicidade e até apareceu em programas de entretenimento da televisão norte-americana. Salvador Dalí se expôs ao público em quase todas as formas de mídia que era possível na época, levando o nome do surrealismo junto consigo, mesmo já não pertencendo mais ao grupo. Inclusive, quanto perguntado sobre o que era surrealismo, ele respondeu: “O surrealismo sou eu”. Inclusive, em seu livro Diário de um Gênio, Dalí afirma ser o único surrealista integral do grupo e, por ser excessivamente surrealista, foi expulso do grupo (DALÍ, 1983, p. 22-23).

3. Moda, Modernidade e Pós Modernidade: Conceitos Iniciais

A modernidade, segundo Moura (2008), tem na moda um importante meio de sua produção e expressão. A moda apresenta o perfil da sociedade e os usos e costumes do cotidiano e longe de ser algo estático dá liberdade de refletir, criar, participar, interagir e transmitir estes costumes.

Para o mesmo autor, o desenvolvimento de projetos no segmento da moda tem sido utilizado como referência e fonte de pesquisas a arte. Da mesma forma, diversos artistas na história da arte criaram objetos de moda despertados pelo objeto de uso cotidiano como referência para criação de obras artísticas. Ainda neste sentido, a criação em moda visualiza na arte, em seus princípios e na sua linguagem, importantes referenciais para a criação. Assim, a partir do ato criador é que o projeto se desenvolve e resulta em um produto. Deixando de ser considerado fútil e frívolo, decorativo e excêntrico tornando-se um meio de busca da identidade, no qual contam a originalidade e a mudança contínua. (CELANT, 1999, p. 176).

3.1 O Processo Criativo da Estilista Elsa Schiaparelli

Elsa Schiaparelli nasceu em Roma, foi uma das maiores estilistas italianas que conseguiu trabalhar com os conceitos de moda e de arte, criando vestidos, chapéus e acessórios. Segundo Mendes e Haye, (2003, p. 95) “Schiaparelli foi a primeira estilista a trabalhar com coleções temáticas.

Elsa estudou o cubismo e o surrealismo, com o intuito de alcançar uma fusão da moda e da arte. Em uma sociedade repleta de regras e idéias tradicionais, Elsa com suas roupas, quebrou paradigmas contidos na sociedade. Ela transformou o surrealismo em moda ao aplicar em suas coleções os princípios deste movimento, apresentando objetos comuns do ambiente familiar em um contexto totalmente diferente.

As roupas da estilista eram feitas para valorizar e modificar o olhar sobre as mulheres dos anos 30. Suas criações foram consideradas ousadas, vanguardistas e para alguns, extravagantes, pois não se limitavam à silhueta ou à simplicidade vigente no contexto da época, e sim, evocava elementos surreais, de forma inusitada, impactante e divertida. Somando-se a esses elementos, outros derivados da cultura italiana, como os brocados barrocos de proporções alteradas. Ao definir Schiaparelli como vanguardista, é importante citar que ela acreditava que a moda era uma manifestação artística, e tentava traduzir as idéias do Dadaísmo e principalmente do Surrealismo no design de suas roupas, invertendo valores e evocando elementos que não pertenciam ao universo da indumentária (CRANE, 2006: pg.309) Seus ornamentos pertenciam ao universo simbólico do Surrealismo, e rompiam com a maneira tradicional de se vestir. Durante esse período os desfiles gradativamente foram se transformando em verdadeiros espetáculos, beirando a uma manifestação artística, e Schiaparelli apresentou suas coleções através destas manifestações.

4. A Interrelação Artista e Estilista: Feixes de Inteligibilidade

É preciso entender que a moda trabalha com as mesmas questões formais e estéticas da arte. Assim como um pintor ou escultor, o estilista ao criar um modelo tem que resolver as questões do espaço, das dimensões, das linhas, dos volumes, das cores, dos ritmos, do equilíbrio e da harmonia. Alguns estilistas usam a arte como fonte de inspiração, apropriando-se das imagens, das cores do estilo de uma obra de arte ou ainda do conceito, desenvolvendo assim estampas e formas. (SOUZA, 1996). Sendo assim diferentes artistas colaboraram nas criações de Schiaparelli, entre eles Bérard, Jean Cocteau e Picasso, que a inspirou a imprimir artigos de jornais em tecidos. Contudo, suas criações mais impressionantes foram executadas em conjunto com Salvador Dalí, um dos mais importantes pintores do surrealismo. Sua relação com Elsa Schiaparelli era muito próxima, e isso fez com que trabalhassem muitas vezes juntos. Há ligações diretas entre a obra do artista e os surpreendentes modelos de Schiaparelli. Em 1936, Dalí completou sua escultura “Vênus de Milo com gavetas”. O que resultou na primeira colaboração de moda entre Elsa Schiaparelli e Salvador Dali que ocorreu em 1936, quando ofereceu a seu amigo um desenho com a seguinte legenda: "terno com gavetas semi-rígidas e macias, imitação material de corrente descascada, puxadores em carvalho natural - Para Schiaparelli. Seu amigo Salvador Dali, 1936 "

No mesmo ano colocou na vitrine um urso empalhado rosa choque com gavetas no torso. Inspirando, assim, o famoso “conjunto gavetas”, com bolsos que lembram as gavetas de um gabinete. Este desenho deu origem à série de ternos e casacos com bolsos de gaveta que Schiaparelli mostrou em sua coleção de Inverno 1936-1937 Haute Couture. Feito em veludo azul marinho, o terno foi costurado com cinco bolsos da gaveta com os botões plásticos pretos.

As criações mais famosas geradas por esta parceria foram as de quando Dalí fotografou uma modelo desnuda, apenas com uma lagosta no púbis. Após isso, ele mesmo pintou uma lagosta gigante, que ornamentava um vestido branco desenhado

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