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Análise do filme Rashomon

Por:   •  25/8/2018  •  2.214 Palavras (9 Páginas)  •  329 Visualizações

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O lenhador é o personagem que tem o maior envolvimento com o crime, mesmo que não tenha participado diretamente dele, uma vez que o presenciou. Ao iniciar a narração dos fatos ao camponês, se vê também em uma briga interior muito forte, onde o choque do que presenciara se mistura com a culpa de ter mentido em seu primeiro depoimento (alegando que encontrara o morto na floresta enquanto procurava lenha e então correra imediatamente para avisar às autoridades sobre o crime), com a culpa de não intervir de alguma forma para evitar os acontecimentos, dando-lhe uma carga de cumplicidade por omissão de uma atitude, um medo de ser descoberto por ter roubado a adaga que dissera não ter visto no local do crime e quiçá uma culpa por ter cometido um roubo numa cena de tamanha desgraça. Depois de contar todos os depoimentos ele é pressionado e acaba revelando que mentira ao tribunal, numa demonstração de vergonha, mas sem confessar o roubo da adaga. É quando impede que o camponês roube o kimono do bebê abandonado que ele é acusado pelo camponês de ter roubado a adaga e ser hipócrita ao criticar um furto tendo ele praticado um. A vergonha e a constatação desse fato se dá pela não negação diante dessa acusação. Em um ato de redenção ele se compromete a ficar com a criança e tomar conta dela, dizendo que já possuía 6 crianças em casa, surgindo assim um novo ângulo possível para o roubo, uma vez que ele possa ter cometido o delito para garantir o sustento dos filhos.

O camponês surge como um sujeito ignorante, grosseiro e interessado na história do crime apenas por curiosidade, como passatempo enquanto aguarda passar a tempestade. Aparenta um estado em que já se conformou com a crueldade humana e não vê solução para isso. Para ele, o homem não sabe dizer a verdade, nem para si mesmo (aqui fica também salientado a dificuldade de se julgar a realidade baseado apenas em relatos tão distintos, uma vez que se trata da palavra de um contra a palavra de outro e todos podem estar mentindo, inclusive). No fim, como já está entregue a esse pessimismo quanto à bondade humana, não se importa em roubar o manto de um bebê abandonado, mesmo que isso seja extremamente cruel. É a representação do egoísmo e do pessimismo.

- Tajomaru, Masaga e o Samurai.

São os responsáveis pela ação central da história.

Tajomaru é um bandoleiro, um sujeito bárbaro que cede aos seus instintos desenfreadamente. Sua forma de falar, xingando a autoridade em pleno tribunal, sem se preocupar em demonstrar respeito ao lugar ou às pessoas ali presentes, além de suas risadas que remetem a um desequilíbrio psicológico intenso e seus gestos que possuem uma forma animalesca, além da forma como é capturado, ao beber água de um rio provavelmente contaminado sem confirmam isso e demonstram sua despreocupação com as consequências de seus atos. Além disso, possui características egoístas e egocêntricas. Egoísta ao fazer sua vontade prevalecer a qualquer circunstância, mesmo que isso signifique tirar a vida de outra pessoa e estuprar uma mulher. Egocêntrica pois ao confessar a autoria do crime não o faz com arrependimento ou para cooperar com o tribunal e sim para inflar o seu ego ao passar a ideia de que derrotou um samurai em uma luta de espadas. Se tomarmos como verdadeira a declaração do lenhador em seu segundo relato, onde conta o que teria presenciado, podemos ter ainda da personalidade de Tajomaru a figura de um covarde, que apenas lutou contra o samurai por incitação de Masago, que ao contrário do que declarou, venceu uma luta patética por sorte e que usou de esperteza para imobilizar o samurai para que pudesse investir contra a mulher. Hipocritamente, ele também se apropria da palavra honra e de um suposto respeito ao código samurai para dizer que apesar de seu erro, o cometeu dignamente quando, na verdade, ignorou o pedido de piedade do homem que matou e violou a honra de sua esposa causando toda essa situação. Para fechar, ele se apresenta como um machista que julga que as mulheres são fracas e por isso não podem parar de chorar, sendo a mulher que o persuadiu depois a lutar com o samurai, mesmo contra sua vontade.

Masaga se apresenta como uma mulher que vive como um pássaro em uma gaiola, onde usa um véu para não mostrar seu rosto, não caminha com as próprias pernas, é carregada sobre um cavalo onde seu marido a leva, presa à uma doutrina de dominação masculina sobre a vontade, os desejos e a vida feminina. Como vítima dessa doutrina, ela acaba sendo alvo de um estuprador. No entanto, ao passo que ela vai sofrer uma violência, o contato com outro homem por um segundo a liberta dessa prisão e ela acaba cedendo ao bandido e se afeiçoa a ele. Em seu depoimento ela diz que pede perdão ao marido e este a olha com frieza. E em um desespero por acabar com aquela vergonha ela implora que ele a mate diversas vezes, demonstrando sua falta de amor próprio e submissão, e ao receber apenas frieza do marido que ela acabara de libertar, desmaia e ao acordar encontra a adaga cravada no peito dele. No entanto, se mais uma vez tomarmos a declaração do lenhador como o mais próximo da objetividade, Masaga mentiu em seu depoimento. E o que se vê é uma personagem que após se livrar dessa amarra ao ceder a outro homem e ser rejeitada tanto pelo marido quanto pelo homem que acabara de investir contra ela usando de violência, se revolta e busca por certa vingança em ver os dois homens lutando até a morte por ela e numa demonstração de poder de persuasão e revolta com sua condição ela consegue isso, e ao passo que os homens começam a luta ela se arrepende, também apresentando desequilíbrio emocional diante de fatos tão fortes. Por fim, vale ressaltar que ao dizer que desmaiou e acordou com o marido morto com a adaga que estava em suas mãos, ela pode ter tentado se livrar de uma ideia interna de culpa por ter incitado a luta que levou à morte do homem ao mesmo tempo em que não assume um crime que não teria cometido, deixando essa questão para o juiz, no caso o espectador, julgar.

O samurai é apresentado como um homem ligado às tradições de seu tempo e de seu código de honra e em todos os depoimentos, inclusive o seu próprio, através da médium, fica claro que este código de honra está acima de sua esposa. Apegado a esse código de honra, e a sua posição onde a mulher é submissa a seu marido, e se “alia” ao bandido se opondo à mulher e colocando ela como egoísta ao pedir que Tajomaru mate-o para garantir sua honra de que não vivam dois homens que a tenham desonrado, dizendo que quase perdoou o bandido que estuprou sua mulher quando este a rejeita também e se oferece para matá-la. No entanto, apesar

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