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Análise do Filme Segunda Feira ao Sol

Por:   •  20/10/2017  •  2.594 Palavras (11 Páginas)  •  561 Visualizações

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A exposição de Bernal, evidencia que o trabalho como conhecemos hoje é uma construção social profundamente histórica, fruto do capitalismo industrial. O autor em seu livro destaca que somente a partir deste momento o trabalho adquire a função que tem atualmente, o de centro da vida dos indivíduos, ao ponto de ter se convertido na própria vida. Portanto um indivíduo sem trabalho é reduzido a nada, perdendo a sua própria essência e causando uma profunda ferida na sua identidade, assim gerando uma desagregação de sua personalidade, visto que o trabalho é um dos elementos constitutivos do ser humano (ENRIQUEZ, 1999).

Diante do entendimento da colocação do trabalho significação de existência, e ainda como sinônimo de vida ativa do indivíduo pode-se compreender a cena (44’02’’-48’14’’) do filme em que os personagens Ana e João vão ao banco realizar um pedido de empréstimo, e João demonstra uma grande agressividade por não estar tomando a frente da negociação, visto que ele estava desempregado e sua mulher empregada, não sendo ele, então, o sujeito ativo.

Esta nova mentalidade sabre o trabalho vai gerar o que se chama, segundo Enriquez de mobilização geral dos seres humanos para o trabalho. A partir disto percebe-se o desenvolvimento da ideia de que os indivíduos que não trabalham são parasitas, delinquentes e inúteis. Ou que, em certo sentido, aqueles que não trabalham não tem a direito de comer. (ENRIQUEZ, 1999). Então, com essa internalização os sujeitos cujos não estão trabalhando vão se sentindo desanimados, entristecidos e excluídos da sociedade. Portanto se inserem em um processo de perda de autoestima, como vemos na trajetória do personagem Lino. Algumas das cenas (04’46’’-5’47’’; 55’06’’-56’37’’; 1h05’46’’-1h07’56’’; 1h36’40’’-1h38’15’’) que ele protagoniza mostra um incomodo desenvolvido para com a sua aparência, devido à dificuldade de encontrar emprego na sua idade. Mesmo não sendo uma pessoa, Lino possui alguns cabelos brancos, que ao longo da história vão incomodando significativamente, até que ele os tinge antes de uma entrevista de emprego, portanto agindo de maneira deprimida com essa situação. Diante da mesma concepção social acerca de pessoas sem trabalho, o personagem Santa age com revolta, dotado de uma personalidade forte, crítica e com caráter revolucionário se posiciona contra essa ideia em cenas como a encontrada no minuto 38 e 19 segundos até 39 minutos e 27 segundos, onde ao se deparar com a história meritocráta da cigarra e da formiga, se revoltou dizendo que não era desta forma que a vida funcionava. Outro momento que esse pensamento aparece é na cena (1h15’50’’-1h18’00’’), onde Santa defendendo sua posição contraria discute com seu amigo Reina sobre a condição do desemprego e sua significação.

A partir de uma análise da situação que se encontra a sociedade atual, Enriquez considera o discurso de emancipação construído a partir do século XIX, com aquisição de direitos, e ainda o nascimento do sujeito psíquico, ou seja, um ser que reconhece as suas contradições e os seus conflitos, sabendo que não é totalmente senhor da sua própria casa pelo fato de existir o inconsciente (Enriquez, 2006). O surgimento deste sujeito propiciou um quadro onde

Os indivíduos estão sempre em situação de prova, em estado de estresse, sentem queimaduras internas, tomam excitantes ou tranquilizantes para dar conta da situação, para ter bom desempenho, para mostrar sua “excelência” (entramos numa civilização de dopping); e, quando esses indivíduos não são mais úteis, eles são descartados apesar de todos os esforços despendidos. O homem tem, cada vez mais, a solidão como companheira. Ele pode se transformar em alguém “inútil ao mundo”, para retomar uma velha expressão da Idade Média, um excluído definitivo, sem esperança de um dia voltar a ser “incluído”. No século XIX, as pessoas que formavam o “exército de reserva do capital” eram excluídas temporariamente do processo produtivo, mas sabiam que um dia poderiam voltar a fazer parte do grupo de incluídos, o que não é o caso atualmente. Para dizer algo sobre o futuro, que parece bem sombrio a esse respeito, as novas tecnologias favorecem a eliminação de milhares de pessoas no mercado de trabalho (ENRIQUEZ, 2006).

Diante dessas duas questões o autor afirma que o homem está construindo sua liberdade, entretanto há alguns empasses como o dinheiro, o aumento de poder do estado. Estes promovem a dissolução do vínculo social, gerando exclusão e submissão ás estratégias financeiras e ao estado do qual é cidadão, e só está nesta condição por ser um homem de direito, logo o que era de caráter emancipatório, passa a ser coercitivo entrando em

uma contradição entre os direitos do homem, que visam o universal no homem, e os direitos do cidadão, que insistem na especificidade desse homem e seu sentimento de pertencer a uma nação, o que faz surgir e desenvolver o apátrida, o refugiado. É certo que ele tem direitos no seu país, mas direitos que dependem apenas da boa vontade do Estado, mesmo daquele que é democrático. Deve respeitar e submeter-se a todas as leis, mesmo àquelas que lhe parecem injustas ou arbitrárias, e mesmo se for tratado como cidadão de segunda classe, como o são os trabalhadores informais da América Latina (ENRIQUEZ, 2006).

O personagem Santa demonstra este sentimento, durante o decorrer da trama. Ele estava passando por um processo judicial por ter quebrado um poste de iluminação em uma manifestação, sendo obrigado a pagar por essa depredação mesmo desempregado e sem condições, então surge o interesse pela Austrália, país que segundo ele oferecia condições muito melhores do que a Espanha, estado que pertence. Tal sentimento de apátrida foi evidenciado, principalmente, na cena que se encontra aos 14’00’’ até 16’18’’.

Tomando como base o texto “Uma nova visão do sofrimento humano nas organizações” de Christophe Dejours podemos ver que não é novidade que o desenvolvimento da atividade produtiva é baseado na concorrência que cresce cada dia mais, isso traz retornos vantajosos para o homem e para sociedade, pois isso acarreta um aumento no consumo doméstico e uma melhora no material. Mas olhando por outro lado a demanda do aumento da produção causa na própria empresa problemas sociais e humanos, que por seu lado traz consequências danosas e desfavoráveis em relação a vida comum e a saúde dos trabalhadores que estão inseridos na empresa. Para o mundo exterior que é a empresa os objetivos da produção são como uma promessa de felicidade, a medida que no seu interior é fácil e necessário

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