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Análise do Filme Alphaville

Por:   •  18/10/2018  •  1.477 Palavras (6 Páginas)  •  286 Visualizações

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Se olharmos para o Brasil, é exatamente esse projeto que tais setores já citados desejam: uma Alphaville à brasileira. Apenas tipos limitados de família, de religiosidade, de saber, de criar politicamente, de cultura, de amor e de afetos. A diferença começa a ser apagada lentamente, e se não temos o Alpha 60, temos diversas medidas que visam o mesmo objetivo: Escola sem partido (ou de um partido só), os processos de militarização das favelas (que faz inúmeras vítimas, geralmente negros, mulheres, crianças e pobres), o gradual fim do “Minha Casa, Minha Vida”, o congelamento dos gastos públicos com saúde, educação, moradia, saneamento por 20 anos, entre outros.

Mas há outra proximidade entre Alphaville e o Brasil. Se no filme de Godard a História se perde em troca de um presente infinito, com registros limitados, controlados e tendenciosos, que remetem apenas a história do mundo ideal. Assim todas as memórias, signos, símbolos e práticas que remetam a outras possibilidades de vida e outros modelos de sociedade, são apagados pelo Alpha 60. Em terras tupiniquins temos nosso Alpha 60: a mídia.

Com um sistema de comunicação extremamente monopolizado, concentrado, a mídia consegue nos bombardear com muita informação e por diversos meios diferentes. Porém, pela velocidade da informação, muitas vezes não nos damos conta da veracidade, sendo o critério da verdade a repetição, e não mais a prática. Devido a alta concentração em poucas “mãos” das mídias – por exemplo a Globo é dona de: emissora de TV, rádio, TV fechada, internet em diversos sites, editora de livros, produtora de filmes, música, etc, para só citar o que lembro. Fica, então, fácil manter um padrão de repetição nas informações, basta jogá-la em todos os seus meios possíveis que a grande maioria do povo terá acesso instantâneo, em meios diferenciados e por “diversas fontes”, podendo confirmar, pela repetição, a veracidade da informação.

Assim cria-se um discurso homogêneo, que repetido, apaga uma memória que guardamos e rememoramos ao narrá-las – ou seja: criamos uma subjetividade, uma nova forma de ser no mundo e com o outro. O discurso histórico também se homogeniza, sendo qualquer alternativa discursiva um ataque a “verdade”. Esses mesmos grupos, promotores de uma Alphaville nacional, já começam a relativizar fatos, até então cravados em nossa memória, dentre os que já pude ver na internet, frases como: “a Ditadura Militar foi muito boa para o Brasil, intervenção já!”, “o desemprego é um problema de meritocracia, se estudasse e se esforçasse não estaria nessa situação”, “não tinha corrupção na Ditadura”, “a escravidão foi necessária para aquela época”, “os índios são preguiçosos”, “negros são bons com trabalhos braçais”, etc, etc, etc.

Contudo não devemos nos aterrorizar. O cenário posto pelo filme não é apenas de pesadelo social, mas também aponta uma saída. Num determinado momento do filme, um personagem, que não lembro qual, fala a seguinte frase: “a poesia transforma a noite em luz”. O agente secreto termina se apaixonando por Natasha, e é por meio da criação de novos afetos, novas linguagens, novas formas de vivenciar a vida, de ser no mundo, que Natasha e Lenny Caution vão desvelando o nó que precisam para derrotar o complexo sistema que mantém o funcionamento de Alphaville. Porém, uma ressalva: essa criação de novas formas que leva a derrota do Dr. Von Braun e o colapso da Alpha 60, não ocorrem sem que haja, dentro da realidade a criação material de novas relações sociais, políticas, afetivas e de vida – ou seja: é preciso que se crie na prática uma nova forma de vida que contraponha no campo das possibilidades o staus quo.

Alphaville nos ensina que é preciso criatividade: Novas formas afetivas, novas formas de ver e vivenciar o mundo, novas formas de política, novas formas de educação e de respeito. É necessário experienciar, reviver e recriar memórias, tecendo os diversos fios da história, que se emaranham. Mas é preciso, fundamentalmente, criar as condições reais e objetivas para que uma nova forma de viver surja – e o novo nunca surge do nada. Se no Brasil temos vários Alpha 60's, quem serem os nossos Lenny Caution e Natasha?

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