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A Angústia e a solidão na Balada da praia dos cães

Por:   •  2/8/2018  •  Dissertação  •  1.554 Palavras (7 Páginas)  •  479 Visualizações

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Ensaio: A angústia e a solidão na Balada da praia dos cães

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Ensaio: A angústia e a solidão na Balada da praia dos cães

Michel dos Reis

Em uma entrevista José Cardoso Pires disse que seu livro era uma valsa de conspiradores e realmente ele é, mas esses conspiradores são de uma imensa solidão e este texto é sobre isso, sobre como em alguns de seus personagens pesa uma profunda solidão.

O livro começar com um cadáver sendo encontrado por cães em uma praia. Cães, animais que eram adorados pela própria vítima já demonstra o tom de ironia que esta história terá ao longo das páginas, e um prelúdio em que a solidão já está presente.

Nas seguintes páginas somos apresentados ao personagem principal, Elias Santana, que é um inspetor, Santana será os nossos olhos no texto, e segundo alguns comentadores da obra, a escolha é para colocar a polícia como centro, tal qual acontecia no salazarismo. A cada passagem escrita pelo autor, se reconstrói aspectos do regime de Salazar, com a tentativa de manter no coletivo, os personagens auxiliares daquela época. É o retrato do romance histórico sendo pintado desde a abertura por seu autor.

Elias Santana é o personagem no qual fica mais evidente essa solidão, não só por enxergamos uma boa parte dos acontecimentos a partir de sua ótica, mas também porque carrega uma aura cheia de dissabores, e desde o inicio da obra é descrito como alguém sem vida, pálido, sem cor, com diversas perturbações, mas também é o policial obscuro e paciente. É difícil não associar essa descrição física ao seu ofício. O Chefe Covas é um investigador e vive os crimes que investiga, no decorrer das páginas vemos o quão ele se aproxima de um algoz do Major. A linguagem apresentada por Santana é repleta de clichês e repetições, demonstrando o quanto está estagnada sua vida. O Chefe da brigada é um homem que não tem muitas companhias. Na obra mesmo, são poucas as vezes que é visto com outros policiais, e aos poucos se percebe que a vista do rio Tejo e seu animal de estimação, um lagarto chamado Lizardo que Elias transforma em confidente, talvez sejam suas únicas companhias.

Lizardo é um lagarto, um animal que não possui uma relação de afetividade com seres humanos, não possui o companheirismo de um cão ou de um gato, é um animal que se alimenta de presas mortas, o Covas está, assim, sempre atrás de aranhas, moscas e outros insetos para alimentá-lo. Aqui, vive em uma tela de vidro que o priva do sol e de sua sexualidade, seu senhorio controla a temperatura para que seu desejo por fêmeas não seja despertado e ele não venha a bater no vidro. Viver nesse recipiente acaba tornando sua vida limitada. O bicho é uma extensão de seu dono, pois Elias também vive de uma maneira reduzida, por conta de sua profissão, o homem lida mais com cadáveres do que com os vivos. Elias não mantém uma relação afetiva com outro ser humano, e a monotonia parece dominar sua vida. O Chefe Covas lembra o lagarto também por ser silencioso e paciente, já que esse é o modo como esta espécie aguarda sua presa, de maneira quieta, impassível, esperando o tempo que for necessário para conseguir o que quer. A imagem do lagarto em sua redoma aparece todo o tempo durante a obra, não só para fazer um paralelo com o Chefe da brigada, mas também o fazendo com os outros personagens.

O cadáver estraçalhado pelos cães, vítima de um crime, que foi encontrado por um pescador é o Major Dantas Castro e ele nos é apresentado através das memórias de sua amante e de outros personagens de uma forma que transparece estar indignado contra o sistema fascista que vigora em Portugal, mas ironicamente se torna uma expressão da repressão, algo que junto de seus aliados, combate. O autoritarismo do Major acaba sendo um paralelo para as vidas de Mena, do arquiteto e do cabo, já que privados do pouco da sua liberdade tornam-se o Lizardo de Castro. Dantas C coloca para fora toda a sua frustração em sua amante. Frustração que o faz escrever cartas para si mesmo, o faz simular uma reunião com o Commodoro, entre outras coisas para fingir ter um controle sobre uma situação que já perdeu há tempos, frustração também pela perda de sua virilidade sexual, transformando a moça em um objeto que o próprio narrador a transforma quando a descreve com um perfil erótico. Dantas Castro está isolado e se sente traído ao ver que a mulher não está usando a “coleira”, uma tornozeleira que poderia ser um símbolo de sua posse. Esse afastamento e decepção o levam ao álcool e a torturar de maneira física e verbal sua companheira.

Santana também torna Mena objeto de seu desejo, em alguns momentos parece querer torná-la igual a seu pequeno animal de estimação, isso também é levantado

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