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Paulo Mendes da Rocha

Por:   •  28/12/2017  •  3.062 Palavras (13 Páginas)  •  349 Visualizações

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Tinha começado, em plenos anos de 1980, a ser sistematicamente divulgado nos meios internacionais. Obras suas da década de 1950, lado a lado com edifícios mais contemporâneos, seriam nesse período dissecadas pela mesma crítica que, de fora do Brasil, apontara o dedo à arquitetura brasileira desde a construção de Brasília. O Museu Brasileiro de Escultura, em São Paulo, que desenhou no final da década de 1980, impunha-se como imagem maior da vitalidade da arquitetura do Brasil, surgindo como contraponto a um pós-modernismo que, no plano internacional, se encontrava já esgotado.

A dimensão artística do homem

O homem é, portanto o centro do discurso de Mendes da Rocha. Mas não é um homem fruidor ou consumidor do espaço arquitetônico; trata-se antes de um homem que o constrói através da inteligência como atual no mundo e é nesse sentido que existe convicção no exercício do arquiteto, como esclarece também em 2006: “A arquitetura (…) é justamente a dimensão artística do homem e uma totalidade, uma forma específica de conhecimento capaz de mobilizar tudo (antropologia, linguística, sociologia, ciências exatas…) para dizer: 'Façamos assim'.” A importância da obra de Mendes da Rocha na arquitetura contemporânea brasileira mede-se igualmente pelo reflexo que tem no ambiente profissional de São Paulo, de onde são atualmente originários os mais dinâmicos escritórios do país.

Num primeiro momento, a arquitetura moderna brasileira surgiu como resposta abreviadora às questões problematizadas pelo meio intelectuais no país, fomentadas pelos ideais de “modernidade” e de “identidade nacional”. Solidarizando-se com as vanguardas construtivistas europeias, adotou uma estética funcionalista caracterizada pelo racionalismo geométrico, opondo-se simultaneamente às principais tendências vigentes: de um lado, a tradição da Academia de Belas Artes e o ecletismo estilístico, fundamentado na apropriação de repertórios formais importados, e, de outro, o nativismo, na utilização de elementos naturais locais Considerando a obra de Paulo Mendes da Rocha fator determinante para a introdução de nova espacialidade na produção arquitetônica moderna brasileira, este artigo pretende avaliar alguns aspectos desta experiência, a partir das análises de obras selecionadas, dentre a sua vasta produção, pela nítida evidência com que refletem, particularmente, dois aspectos fundamentais que surgiram de imediato.[pic 4]

A postura concisa face às questões problematizadas no início de implantação da arquitetura moderna no Brasil. Distinguindo-se do clima intelectual daquela época, quando a problemática girava, basicamente, em torno de relações dualísticas - natureza e cultura, tradição e modernidade, regional e universal, forma e função, métodos artesanais e tecnologia industrial - a produção de Paulo Mendes da Rocha institui-se como reconhecimento intrínseco desses paradigmas, mediante uma posição que sintetiza as lições de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Affonso Eduardo Reidy, sem, no entanto, jamais utilizá-las de modo explícito, quer seja formal ou verbalmente.

Arquitetura, Construção do Espaço Urbano

O primeiro ato de liberdade limpa o terreno, abre o caminho ilimitado do possível. Mas quem pode permanecer nesse instante de pico em que as trevas recuam e o dia futuro oferece todos os rostos, porque ainda não tem rosto algum? É preciso povoar o espaço que se abre nomear a divindade que ocupará o seu centro, reconhecer ou criar a força que doravante agirá soberanamente.

A obra de Paulo Mendes da Rocha exibe a clara intenção de superar a concepção naturalista, com vistas a alcançar a dimensão absoluta de expressão racional. Solidarizando-se com o pensamento construtivista das vanguardas europeias, a natureza, como matéria, não pode ser pensada enquanto objeto determinado, pré-existente, senão como condição da percepção do sujeito, o agente construtor. Paulo Mendes da Rocha, a pesada malha urbana da cidade de São Paulo tornava-se o dado determinante do projeto. Nesta grande metrópole industrial, a paisagem estava longe de se fundamentar no universo natural, senão sobre a atitude transformadora que o homem lhe impõe.

[pic 5]O Ginásio do Clube Atlético Paulistano - A Técnica como Instrumento da Forma.

O instrumento é a expressão direta, imediata do progresso. O instrumento é o colaborador obrigatório; ele é também aquele que liberta. O que efetivamente impulsiona a arquitetura de Paulo Mendes da Rocha e que constitui, certamente, o cerne de toda a obra arquitetônica em todos os tempos, é a relação entre arte e técnica. Em 1958, com apenas três anos de formado, em parceria com seu ex-colega de faculdade João Eduardo de Gennaro, Paulo Mendes da Rocha vence o concurso público para o projeto do Ginásio do Clube Atlético Paulistano. Toda a plástica do conjunto decorre de um engenhoso sistema misto em aço e concreto, sem dúvida, fator decisivo para a premiação.

Toda a plástica do conjunto decorre de um engenhoso sistema misto em aço e concreto, sem dúvida, fator decisivo para a premiação. De fato, no projeto

do Ginásio, prédio fechado para a prática de atividades esportivas com capacidade para 2.000 espectadores, o problema que se colocou, de imediato, foi a construção de uma cobertura de grandes dimensões, livre de pilares centrais, que promovesse a leveza e a transparência necessárias para garantir ainda a sua integração com a malha urbana aberta.

A solução adotada foi uma habilidosa “cúpula” plana, parte compacta e parte translúcida, com um imenso anel circular periférico de concreto, articulado por cabos de aço que partem de um pendural central, apoiado em pilares de concreto armado. Inspirado pela leveza e a eficácia Estrutural da roda de bicicleta, a cobertura projetada combina, simultaneamente, as duas principais concepções estruturais espaciais que vinham sendo desenvolvidas nas construções em todo o mundo, desde a Revolução Industrial: a aberta, onde a tensão das forças é distribuída linearmente pelos cabos de aço, e a fechada, caracterizada pelos planos do anel e dos pilares placas, onde as forças diluem-se, uniformemente, por toda a superfície dos planos.[pic 6]

[pic 7]Os elementos estruturais atuam no limite do equilíbrio entre tração e compressão: os cabos de aço, tensionados, descarregam no anel de concreto que, ao formar um círculo fechado periférico, trabalha à compressão, garantindo a estabilidade do conjunto. Os seis pilares, que sustentam o anel circular, foram ainda alongados

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