Padre José de Anchieta e a Capela de São Miguel Arcanjo em São Paulo, Brasil.
Por: SonSolimar • 15/4/2018 • 2.942 Palavras (12 Páginas) • 454 Visualizações
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Essas por sua vez, apresentam diferenças perceptíveis em relação as formas e características de acordo com o aproveitamento dos recursos locais, mas nunca perdendo o "espírito" jesuítico de construção.
A ideia de “coisa decadente” esteve ligada as nossas igrejas durante muito tempo, assim a Capela de São Miguel Arcanjo ganhou grande destaque em pouco tempo após sua fundação, uma vez que apresentava grandes proporções para a época, se comparada ao templo que havia no Colégio de São Paulo.[13]
4. JUSTIFICATIVA
A Capela de São Miguel Arcanjo em São Paulo é um marco importante da colonização local, da chegada dos jesuítas na cidade e da presença da Igreja Católica no Brasil.[14]
Este espaço urbano, distante do centro da cidade de São Paulo, teve um papel sócio agregador e religioso-defensivo e econômico na história da cidade de São Paulo. [15]
Um fato que revela a importância de São Miguel é o fato de a aldeia antigamente possuir a condição de Padroado Real, isto é, o pleno domínio Igreja de Roma sob o Estado português, cujo o qual garantia que a Coroa “promoveria e asseguraria os direitos e a organização da Igreja em todas as terras descobertas”.[16]
Assim, ficava sob total responsabilidade do rei recolher o dízimo, isto é, tributos que os fiéis pagavam à Igreja como obrigação religiosa, e o dever de catequizar os índios encontrados aqui na região. Essa atividade é então designada aos jesuítas, porem esses possuíam poderes limitados em São Miguel.[17]
Uma vez que haviam um grande número de índios doutrinados, a região tornou-se alvo de interesses. Interesse tal disputado entre os jesuítas e a oficialidade local. Até que em 1640, os sacerdotes são afastados de São Paulo e em 1759 são expulsos do Brasil.[18]
5. AUTORIA/ATRIBUIÇÃO
A Capela original de São Miguel Arcanjo foi construída pelos índios, atribuída ao Padre José de Anchieta em 1560, era uma capela simples e pequena, da qual só restaram informações documentadas pela campanha de Jesus.[19]
José de Anchieta foi um missionário que veio em 1553 para o Brasil com a missão de catequizar os índios, ele foi transferido junto a outros jesuítas para a capitania de São Vicente no estado de São Paulo, onde em poucos meses aprendeu a língua indígena, foi o Jesuíta que ficou mais tempo em São Paulo, fez inúmeros trabalhos e grandes sacrifícios em seu primeiro tempo, permaneceu no período de 1554 até 1562, enquanto outros jesuítas se deslocavam com mais frequência para outros lugares.[20]
Em 1622, a capela foi reconstruída pelos índios sob o comando do Padre João Alvares, jesuíta da região e capelão de Bandeiras, e o carpinteiro e bandeirante Fernão Munhoz, a nova capela é uma construção característica da arquitetura jesuítica. [21]
A capela é simples com poucos ornamentos, tem semelhança a uma casa interiorana, com alpendres na fachada e na lateral. Gilberto Freyre, em “Casa Grande e Senzala” (1933) descreveram os contornos dessa arquitetura[22]:
Nada mais interessante que certas igrejas do interior do Brasil com alpendre na frente ou dos lados como qualquer casa de residência. Conheço várias – em Pernambuco, na Paraíba, em São Paulo ( ...) E em São Paulo, a igrejinha de São Miguel, ainda dos tempos coloniais.[23]
6. PROGRAMA: USO ORIGINAL
A arquitetura Jesuítica tinha como principal objetivo doutrinar e catequisar os índios moradores da região, seu programa de necessidades era simples e limitava-se a organizar espaços como a igreja, coro e sacristia para os cultos, para o trabalho as aulas e oficinas, para residências as enfermarias, além da cerca de horta e pomar.[24]
Para suprir essas necessidades, utilizavam um partido arquitetônico empregado pelas ordens religiosas, que distribuía as funções da edificação em torno do pátio central. [25]
Os edifícios missionários têm como características o uso de alpendres que traz simplicidades típicas da arquitetura jesuítica, naves e capela-mor, frontões retangulares, são construções simples com espaços abertos e terreiros. Aspecto esses que podem ser encontrados na Capela de São Miguel Arcanjo, como pode ser observado na figura 1 à planta a baixa da Capela.[26]
7. DESCRIÇÃO DOS MATERIAIS E TÉCNICAS UTILIZADAS
A idade da Capela de São Miguel Arcanjo levou a construção a passar por alguns restauros durante sua existência, sejam eles estruturais, artístico ou decorativos. O primeiro processo de revitalização e restauro da igreja foi entre os anos 1939 e 1940, quando o arquiteto Luís Saia realizou uma pesquisa histórica e arqueológica da capela e seu entorno, e através da análise de plantas e materiais construtivos, coordenou a restauração do local, buscando manter as características originais da capela.[27]
Já em 2006, um novo restauro revelou e recuperou vários elementos artísticos e decorativos não encontrados anteriormente, organizado pela Diocese local e a Associação Cultural Beato José de Anchieta (ACBJA).[28]
Em resumo aos acontecimentos acerca das revitalizações, grande parte das telhas foram substituídas por um modelo muito semelhante ao original, fabricadas especialmente para a capela, assim como os beirais de madeira, danificados pelo tempo, que foram substituídos por outros com acabamento diferente.[29]
Alguns pilares internos e outras peças de madeira foram substituídas e tratadas contra pragas como o cupim, outras foram recuperadas e resinadas, ganhando características estruturais e seguindo o mesmo padrão original, assim como as portas e janelas, também em madeira, que foram recompostas, tratadas e repintadas com tinta especialmente fabricada para manter a fidelidade aos elementos primários.[30]
Sobre as paredes em taipa, tiveram suas trincas tratadas e recuperadas, e foram pintadas com cal, afim de recuperarem as características originais. Já o revestimento interno e externo foi refeito com argamassa semelhante à adicionada inicialmente.
Os elementos artísticos, que serão abordados em outro tópico deste trabalho, foram restaurados por Júlio Moraes, que não tinha grande expectativa na recuperação dos mesmos, uma vez que já havia existido uma restauração anterior. Porém, com o tempo e trabalho, foram descobertos elementos escondidos, além dos já existentes, podendo assim restaurar, reintegrar e conservar a história e expressão tão única e especial para a arte
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