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“VIDA LOKA”: PROBLEMATIZANDO A ADOLESCÊNCIA ATRAVÉS DA MÚSICA

Por:   •  20/4/2018  •  7.243 Palavras (29 Páginas)  •  305 Visualizações

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DO PROJETO DEFINIDO NO SEMESTRE 2013-2

Durante o segundo semestre de 2013 foi observado um grupo de pré-adolescentes e adolescentes com idades entre 10 e 14 anos, sendo uma menina e quatro meninos, integrantes do Educas, que foram encaminhados por escolas públicas de São Leopoldo por apresentarem demandas de aprendizagem como dificuldades na leitura e na escrita e também comportamentos como agressividade, falta de atenção em realizar as atividades propostas em aula relatadas no encaminhamento.

O Educas é um Programa de Educação e Ação Social vinculado a rede de CCIAS (Centro de Cidadania e Ação Social) da Unisinos que oferece apoio especializado para crianças e jovens que são narrados pela escola, pela família ou por profissionais da área da saúde como “não aprendentes”. Essas demandas que o jovem “não dá conta” são problematizadas através dos atendimentos em grupos que são coordenados por uma dupla de estagiários das áreas de psicologia, pedagogia ou outras licenciaturas, onde são feitas atividades lúdicas, porém sempre pensadas com objetivos a serem trabalhados, visando deslocar o sujeito da posição de “não aprendente”, proporcionando diferentes aprendizagens tanto no contexto pedagógico como na resolução das relações, emocionais, comportamentos que vão estar também implicados nessa posição de não saber que o jovem do grupo se encontra. Lopes (2009) traz a posição de não aprendizagem como diferentes lugares que alunos e alunas ocupam com relação ao processo de aprendizagem, sendo esta posição mobilizadora de especialistas de diferentes campos.

Essas atividades são pensadas e criadas a partir da observação que a dupla faz no decorrer do semestre com o grupo, levando em conta aspectos culturais e sociais do meio em que estes jovens estão inseridos com o objetivo de identificar e reforçar suas potências, investigando seus gostos, para desenvolver um projeto que faça sentido e dê significado à aprendizagem. Também se entende que é necessário desenvolver um trabalho junto à família e a escola para possibilitar outros olhares para a criança ou o jovem atendido.

Desde os primeiros encontros com o grupo foi percebida a necessidade de trabalhar os aspectos relacionados à adolescência, pois quando perguntados a respeito de como se viam, todos responderam que eram adolescentes. Nos discursos destes jovens percebia-se os questionamentos sobre este momento de vida, em que não são crianças nem adultos, e que envolve mudanças corporais, curiosidades sexuais; busca de si e da identidade; atitudes sociais reivindicatórias; mudanças de humor e estado de ânimo.

Os jovens observados gritavam uns com os outros na tentativa de serem escutados, demonstrando resistência em realizar as atividades planejadas e em respeitar limites e colegas, gostavam de manter bastante contato corporal, traziam nas falas assuntos relacionados a sexo, evidenciando a necessidade de falar sobre este assunto, que é tido na adolescência como um assunto difícil de ser abordado em virtude de tabus e preconceitos que são produzidos em contextos como escola e família.

O termo “vida loka” que deu origem ao projeto é o nome de uma música da banda Racionais Mc’s e apareceu por meio das falas dos próprios jovens, visto que de certa forma “pediam por limites”, quando faziam movimentos de sair da sala, de esconderem-se dentro do armário, recusarem-se a fazer as atividades que eram propostas. Perguntados sobre o que seria uma “vida loka” responderam “vida loka é uma vida sem limites e regras.” Considerei pertinente criar um espaço em que por meio da música e de letras musicais fossem trazidos elementos do cotidiano destes jovens para assim refletirmos sobre os limites que é um dos aspectos mais pertinentes na adolescência.

A música foi pensada como um dispositivo, que além de aproximar-se da realidade dos jovens, possibilita a experiência das diversas formas de internalizar os elementos que compõem a temática adolescência como canto, dança, letras e coreografias permitindo refletir a respeito de aspectos como autonomia, autoestima, construção de identidade e limites que compõem a fase em que se encontram – a adolescência. Para Pelaez (2005) os adolescentes ao falarem em música referem-se a ouvir, escutar, assistir e dançar, apontando condições e lugares para que possam exercer tais atividades relacionadas à música. Sendo a música um forte dispositivo para atingir as questões que perpassam a adolescência, pois possibilita a expressão de sentimentos e angústias desta fase.

A necessidade de falar do assunto adolescência surgiu não somente em detrimento da observação do grupo, mas também por meio de relatos trazidos pelos pais dos jovens em que os mesmos referiam-se aos filhos como dependentes para algumas pequenas tarefas do dia-a-dia como arrumar a própria cama, servir-se sozinhos. A dependência extrema dos pais trazia consequências para o aprendizado destes jovens, que apresentavam baixa autoestima, observada através das falas “não consigo” ou “não sei fazer”, que evidenciavam o quanto se sentiam incapazes de realizar sozinhos tarefas propostas durantes os encontros.

Estes adolescentes flutuam neste período entre dependência e independência extremas, que com a maturidade aceitarão ser independentes dentro de um limite de necessária dependência. (ABERASTURY, 1992, p. 13).

Com base nestas observações e informações acerca deste grupo, foi definido como objetivo geral a criação de um espaço onde os jovens pudessem expressar seus sentimentos, dúvidas e curiosidades acerca da adolescência através da música. No projeto inicialmente havia muitos objetivos específicos e no decorrer das intervenções percebi que somente o projeto de estágio básico não daria conta de todas as demandas que eu havia percebido durante os encontros com o grupo, pelo pouco tempo e também pelas dificuldades encontradas durante o processo de intervenção, como inserção da ideia da música nos encontros. Percebi também a necessidade em trabalhar alguns aspectos mais “emergenciais” que foram surgindo no grupo durante os encontros, pois este havia sofrido mudanças constituindo-se novamente com outras questões a serem discutidas. Com base nestes atravessamentos foram mantidos tais objetivos específicos que foram trabalhados neste semestre:

Estimular a autoestima por meio da dança;

Proporcionar reflexões através de trechos de músicas a respeito dos limites;

Trabalhar a sexualidade e aceitação do corpo através de coreografias;

Problematizar sobre as consequências causadas pela

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