Si puo fare - Lei Basaglia
Por: Hugo.bassi • 16/10/2018 • 1.970 Palavras (8 Páginas) • 307 Visualizações
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Entretanto, tanto no enredo cinematográfico - assim como na vida real - a imposição da ideologia de institucionalização psiquiátrica ainda ecoa dentro desses recintos e, mais ainda, dentro da sociedade (como por exemplo, na família) que com o término dos manicômios rejeitaram os considerados ‘doentes’, sem ajudá-los e, por conseguinte, deram direito a sua total negação de liberdade.
Uma das únicas ‘incapacidades’ que a doença mental poderia apresentar, no filme vinha, principalmente, deste cuidado extremo (ou inibição) – tanto médico como familiar – causado pelo estereótipo e pela tecnificação deste tipo de doença. A ruptura descrita no texto facilmente interage com o filme neste sentido: há claramente a ressignificação e a retomada da “vida normal” dos personagens a partir do trabalho e da comitiva, tendo em vista que os mosaicos gerados a partir de um problema (que poderia facilmente ter sido um erro) os tornaram requisitados e úteis para a sociedade novamente; quebrou-se assim, o estigma de que a doença mental os descapacitava.
O uso de remédios foi mostrado até o fim não como, em sua totalidade, algo que gerasse bem-estar: sua intenção era “dopar”, novamente se gerando a alienação, qual é marcante na estrutura manicomial institucionalizada até então. Isto se enquadra claramente na luta contra a tecnificação de Basaglia citado no parágrafo acima: não há necessidade de novas intervenções que sobressaiam a razão do indivíduo. Só assim se é possível a desospitalização e a reinserção dos pacientes na sociedade, fato que é corroborado pelo trabalho, pois constata-se que o “doente mental” precisa de um trabalho digno para se sentir melhor – assim como para qualquer ser humano, sendo assim terapêutico e dignificando com um novo sentido à vida humana – por isso os sócios de Nello, com a cooperativa obtêm melhoras nos “surtos psiquiátricos” e desenvolvem a sociabilidade.
Nisto, gera-se também a crescente ideia de que há sim a independência e autonomia individual em cada um dos, até então, internados. No filme vemos claramente essa situação: quando para tomada de decisões, Nello vê como importante, em uma cooperativa, o que todos pensam e querem. Se é, de fato, levado em conta a opinião e contribuição do grupo; se é reaprendido a avaliar a ideia de loucura e anormalidade. Outra luta de Basaglia, destacada por Amarante e bem demonstrada no filme, se encontra na mudança para um outro local – a casa da cooperativa – pois cria-se uma liberdade desconhecida para todo o grupo, que pode ser entendida na substituição da tutela por um contrato social com o indivíduo, importantíssima no quesito de autonomia e a retomada do desenvolvimento de sua identidade e subjetividade.
Porquanto, deve-se ter a ideia dupla da “doença” e as nocividades da institucionalização, tendo em vista que tal foi construída barrando o indivíduo em tratamento; sendo assim, havia e ainda há a necessidade de se questionar e contradizer estes métodos. Há tanto no grupo identificado como “loucos” apresentado do filme – representando toda a comunidade manicomial italiana – esta necessidade, não só de desinstitucionalização do manicômio como a desinstitucionalização do ambiente externo, projetando assim um pensamento não segregativo ainda muito marcante na sociedade em seus mais variados modos – como mostrado principalmente no clímax do filme, com o julgamento vindo de amigos próximos a garota por quem Gigia se apaixona – a institucionalização ultrapassa o manicômio e se insere no modo de pensar. Toda a questão de irrecuperabilidade e periculosidade se encaixa justamente neste aspecto e é aí que toda a reforma de tecnociência retorna para não somente reinstituir a psiquiatria, mas também a sociedade.
Em suma, Franco Basaglia após se identificar com essa “realidade problemática”, inquiriu e deu um caminho sobre a relação entre doente e hospital, priorizando a liberdade – como demonstrado nos parágrafos acima. Se fazendo possível com esta, uma nova maneira de se solucionar, expandir e dar outros significados aos problemas do outro e sua própria consciência da melhor forma possível.
Conclusão:
Tendo em vista os aspectos observados, um dos pontos positivos é a ideia de conscientização de que mesmo após todo esse período de quarenta anos da Lei da Reforma Psiquiátrica, ainda se faz necessária a reflexão e reavaliação de ideais, principalmente acerca do ambiente manicomial e os métodos de tratamento das doenças mentais – medicamentos, internação, etc. Todos temos uma identidade própria e generalizar todos os casos do gênero sem inquirir sobre, pode se tornar uma falta de respeito a individualidade – apesar da caracterização necessária para se ter uma base da doença e assim seu cuidado. A partir do filme, como ponto negativo, também percebe-se o erro na não execução de um trabalho holístico com os pacientes, envolvendo uma multidisciplinaridade de profissionais da saúde e sociais – como, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, entre outros – a fim de tratar e reintegrá-los na sociedade e que deve-se avaliar com precisão quem está pronto e quem não está pronto, pois Gigia comete suicídio, fato que demonstra a “linha tênue” entre a possibilidade e a não possibilidade da ausência de medicação e da completa reinserção dos “doentes mentais” na sociedade, com ênfase em seu bem-estar e qualidade de vida.
Uma das contribuições mais necessárias para a formação, foi de fato ir além da desinstitucionalização de manicômios e trazer a ideia ainda muito presente de institucionalização do ambiente externo (família e sociedade). É notável que essa quase que exclusão social prejudica e gera um pré-conceito, como citado no texto, de periculosidade qual não pertence de fato a “doença” mental, é simplesmente algo introjetado facilmente no nosso cotidiano (em representações teatrais e constantemente apresentada em novelas e filmes). Por fim, indo de acordo tanto com o filme como com o texto, tenho em mente que facilitaria o trabalho se a ideia acerca do tema não fosse tão fechada ou reclusa a quem entende ou é da área. O tratamento em si não é algo de fácil acesso: ao imaginarmos o cuidado com este indivíduo,
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