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Resumo Mal Estar na Civilização

Por:   •  16/7/2018  •  2.145 Palavras (9 Páginas)  •  307 Visualizações

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Os homens viveriam então sob as rédeas do mundo externo onde a felicidade seria na verdade a fuga do desprazer e da desgraça deixando em segundo plano a busca e conquista do prazer felicidade.

Os seres humanos buscam de forma incessante um caminho da felicidade, essa busca trilhou rotas diversas tendo como recomendação para alcançar êxito as mais diferentes soluções. Dos métodos recomendados, podem ser destacados: o hedonismo que procura satisfazer de forma irrestrita suas necessidades, lançando o gozo à frente da cautela; a felicidade da quietude encontrada na reclusão do asceta na medida em que esse se abstém da realidade; na submissão da natureza, através das técnicas oriundas da ciência, à vontade humana em benefício da maioria; e de modo mais “cru”, contudo o mais eficaz, pela intoxicação.

Seja qual for o método escolhido, a sensação de felicidade, guiada pelo princípio do prazer, é mais potente quando é satisfeito um impulso selvagem e primitivo do que quando se satisfaz um impulso domesticado. Contudo não existe civilização onde tais impulsos selvagens possam ser consumados por isso é preciso que o Eu iniba sua selvageria, com prazeres mais amenos.

Apresentação então a possibilidade de redirecionar esses instintos para trabalhos psíquico e intelectual, esse método tem em sua impossibilidade de aplicação geral sua fraqueza, uma vez que muitas atividades profissionais ocorriam de forma forçada, acarretando graves problemas sociais devido à natural aversão humana ao trabalho indigno que o condena ao desprazer.

Elucidadas algumas possíveis causas de desprazer e infelicidade do homem, Freud passa em um segundo momento para as questões do quê seria a civilização em sua essência, onde a felicidade é tão exaltada e simultaneamente posta em dúvida.

A palavra civilização seria a somatória dos feitos e ações que afastam a nossa vida daquela de nossos antepassados animais, e que servem para dois fins: a proteção do homem contra a natureza e a regulação dos vínculos dos homens entre si.

Freud faz uma breve definição de cultura, “todas as atividades e valores que são úteis para o ser humano, colocando a terra a seu serviço, protegendo-o da violência das forças naturais etc” (FREUD, p. 34, 2011) e partindo dessa definição começa a fazer suas observações, considerando como primeiros atos culturais o uso de instrumentos, o domínio do fogo e a construção de moradias. De posse desses poderosos patrimônios culturais, a humanidade formulou suas explicações mitológicas e idealizou concepções relativas à onipotência e onisciência - baseando-se em seus desejos inatingíveis - as quais atribuiu aos seus deuses. Sendo assim esses deuses na verdade se configuraram como ideais culturais e na medida em que esta civilização vai evoluindo e alcançando tais ideais, ao mesmo tempo tornar-se ela própria, em parte, quase o seu próprio deus. No entanto, mesmo próximo desses deuses e ideais ainda assim os humanos não se sentem felizes com tal semelhança.

Outro traço relevante que caracteriza a civilização é o estimado valor atribuído ao cultivo das atividades psíquicas elevadas tais como o desenvolvimento de sistemas religiosos, filosóficos, intelectuais, científicos e artísticos. Não obstante a isso, valores como a beleza, limpeza e ordem são de nítida importância dentro das exigências culturais comuns. Por último, e não menos importante, as relações sociais e suas formas de regulação também tem merecido destaque para a conformação de um modelo sustentável de civilização. Neste sentido, exigências como a constituição de direitos em defesa dos interesses de uma maioria, que se estabeleçam através de um conceito de justiça, e que garantam uma ordem legal são aconselháveis para a manutenção da vida em sociedade.

Nota-se aqui, que a liberdade individual não é pressuposto básico da cultura, do contrário, ela era maior em tempos anteriores a civilização, contudo era também inútil devido ao fato de o indivíduo pouco poder fazer para defendê-la. Como proposto por Freud em obra anterior - Totem e tabu - é na vitória sobre o pai que os filhos descobrem a força da associação na luta contra um indivíduo solitário. Daí decorre a cultura totêmica e boa parte da sina da humanidade, em torno dessa tarefa de encontrar um equilíbrio adequado que incorpore a lógica do princípio de prazer e satisfaça tanto as exigências individuais como aquelas de grupo a fim de preservar esse novo estado de poder. Dito de outra maneira, “o homem civilizado trocou um tanto de felicidade por um tanto de segurança” (FREUD, p. 61, 2011).

Esta escolha consequentemente não gerou somente bônus ao homem. Tivemos como ônus desta troca a supressão, a repressão ou o deslocamento da libido das metas de instintos poderosos, ou seja, por meio da sublimação os instintos tiveram que curvar-se aos meandros da civilização o que ocasionou certamente considerável “frustração cultural”.

Os impulsos instintuais selvagens inibidos em suas metas foram redirecionados para duas outras vias que despertaram satisfatória compensação econômica:

“a compulsão ao trabalho, criada pela necessidade externa, e o poder do amor, que no caso do homem não dispensava o objeto sexual, a mulher, e no caso da mulher não dispensava o que saíra dela mesma, a criança” (FREUD, p 46, 2011).

Nesta altura da obra, Freud aborda questões relativas ao amor genital e amor universal (franciscano), dá corrente inibição dos desejos do Id manifestos na infância, das proibições por meio de normas de convivência e da consequente frustração da vida sexual que isso gera e a qual os indivíduos neuróticos não suportam. Freud denuncia que tais proibições sancionadas ao Id infantil pela sociedade, onde este se encontra incluso, estabelecendo meios uniformes de exercer o sentimento de amor e ignorando as desiguais constituições sexuais inatas de cada ser humano, acarretam grande prejuízo ao homem civilizado e apresentam-se como um processo contrário a evolução e a finalidade da vida.

Adiante, Freud aponta a necessidade de se reconhecer que não só de instintos do Eros e de ávido amor o homem é feito, mas também de severos instintos de morte e destruição. A partir de então, elabora uma crítica à sociedade de sua época, impressionado com os horrores e infelicidades que viveu e observou durante os períodos de guerra e pós-guerra. Retorna ao pensamento de Hobbes (apud Freud, p. 57, 2011) em uma de suas máximas, “Homo homini lupo” e considera que mesmo estando os indivíduos aptos a ligarem-se pelo amor, é condição sine ne qua non que existam

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