O CORPO NA SOCIEDADE: TATUAGEM
Por: kamys17 • 24/12/2018 • 1.504 Palavras (7 Páginas) • 389 Visualizações
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Em contrapartida, o psicólogo Viren Swami da Universidade de Westminster, acredita que a tatuagem é algo comum em vários tipos de personalidades, sendo um erro associar determinados traços como rebeldia, narcisismo, etc. Após anos de pesquisa, Swami chegou na própria conclusão que o indivíduo que se tatua está em busca da autenticidade, querendo se tornar único, como o mesmo diz: “Ser igual, mas sendo diferente”.
Referindo-se ao ato pulsional de tatuar, Lacan constrói uma metáfora da pulsão como um escravo mensageiro, do tempo antigo, que leva uma mensagem que lhe foi tatuada no couro cabeludo enquanto ele dormia, sem que soubesse, sendo que ele desconhece o texto, e mesmo que o condena à morte, quando chegar a seu destino. Com essa metáfora, Lacan indica-nos um elo da pulsão com a tatuagem, concluindo que apesar de expressarem materialidade, a tatuagem marca-se a ligação entre olhar e decifrar.
- ASPECTO CULTURAL
“à emergência da sociedade do espetáculo. Preocupado em examinar a sociedade de consumo de massas nos seus aspectos culturais, o autor assinala a existência da separação e afastamento do mundo da vida em imagens, na direção da criação e crescente autonomização do "mundo das imagens", ou, em outros termos, a passagem do controle da imagem pelo homem para o controle da imagem sobre o homem.” Guy Debord (1997)
Entende-se que, a tatuagem ao quebrar os conceitos de marginalização adquiri força e entra no modismo, na moda contemporânea de se “vestir” conforme gostos e estilos. Ou seja, cada vez mais jovens entram em variados grupos de identificação, por estética, prazer ou diferenciação. Somos seres primitivos em busca de destaque num mundo onde tudo se transforma, como consequência, o corpo rege a matéria, se aliando à moda e aos adeptos ao individualismo da imagem e às práticas do prazer, visando a busca da satisfação do desejo.
“O consumo da imagem do corpo é consonante com a lógica do espetáculo, onde o olhar ganha destaque. O olhar e o ser olhado é característica da estetização e espetacularização do corpo, tornando-o mercadoria preciosa que deve ser cuidada para continuar jovem, saudável, produtora infatigável de prazer.” (Sant'anna, 2002)
A valorização da aparência faz com que o corpo sofra um processo pelo qual o sujeito se autocontrola, autovigia e autogoverna. Podemos dizer que, o corpo torna-se central às noções de auto identidade, representando a liberdade pessoal, “eu quero, eu posso, eu consigo”. Nesse sentido, o olhar torna decisivo para a garantia da existência, nos tornamos objetos de visão, transpassando nossos ideais para a “carne externa”.
- MÍDIA
“Há uma cultura veiculada pela mídia cujas imagens, sons e espetáculos ajudam a urdir o tecido da vida cotidiana, dominando o tempo do lazer, modelando opiniões políticas e comportamentos sociais, e fornecendo o material com que as pessoas forjam sua identidade.” (KELLNER apud CARVALHO, 2010,p.23)
A tatuagem não é mais demonizada pela população como antigamente, e isso se deve à adesão de pessoas famosas que são adoradas pelo público e que aparecem ostensivamente na mídia mostrando sem pudor as tatuagens que cobrem partes visíveis do corpo.
Percebe-se na sociedade, a busca pelo individualismo cada vez mais forte, com a necessidade de propagar interesses, seja através de nomes das pessoas queridas, iniciais, frases, músicas, religião, e entre outros. Ao tatuar-se, ocorre uma transferência de ideias, sem a obrigatoriedade da comunicação, em outras palavras, existe uma ânsia por se expressar através do corpo. Além disso, nota-se a exposição de gostos, tendências, sentimentos, pertencimento a uma cultura entre outros.
- CONSEQUÊNCIAS
"como evidência ou característica corporal cuja leitura induz um efeito de descrédito sobre quem o porta" (Ferreira, 2004, p. 75)
Ferreira aborda as consequências do uso da tatuagem como descrédito, associando os indivíduos como marginais. No entanto, os primeiros homens a aparecerem em público com tatuagens foram os marinheiros, cuja má fama os precediam. Junto a isso, a Igreja Católica tinha o estigma de julgar os tatuados pessoas que cometiam “pecados” com letras e desenhos.
No entanto, o principal foco de preconceito contra tatuagens ainda é o mercado de trabalho, mas setores mais conservadores, e até mesmo cidades interioranas com prefeitos conservadores mantêm a tatuagem como sinal de desprezo, ojeriza e até mesmo ódio. Em compensação, a partir da popularização das tatuagens, ocorre uma nova visão para o mercado de trabalho, onde torna-se cada vez mais comum ter profissionais de vários setores sociais com o carpo marcado, sem restrição de gênero, idade ou status.
Nesse ínterim, o preconceito, mesmo que mínimo, ainda existe na sociedade, sendo vinculada a valores negativos e, às vezes, vista como imagem de agressividade e desleixo, fazendo com que ocorra a condenação na prática, como se um profissional não fosse competente o suficiente para ocupar um cargo.
- CONCLUSÃO
Por meio deste trabalho pudemos concluir que atualmente há uma tendência em tomar o corpo como palco do prazer, visando o individualismo, e estabelecendo uma “cultura de si mesmo”, onde há exacerbação estética física e do culto ao corpo. A imagem ao passar dos tempos conquistou um lugar privilegiado, em contrapartida a tatuagem, junto com as outras práticas de modificações corporais, ganhou espaço, tornando-se comum vislumbrar corpos tatuados em diversos segmentos sociais, sem restrições quanto à idade ou gênero. No entanto, tornando-se o corpo como veículo midiático, a sociedade julga indivíduos que marcam sua pele, dificultando a inserção no mercado de trabalho, prejudicando pessoas
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