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MOÇÕES NOS ENREDOS MIDIÁTICOS E O ESVAZIAMENTO DAS IDEIAS

Por:   •  7/11/2018  •  4.315 Palavras (18 Páginas)  •  247 Visualizações

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Não há muitas dificuldade para se entender porque isto tem se tornado um movimento tão massivo basta apenas observar atentamente um jornal, uma reportagem, ou até mesmo um programa de televisão para constatar que as produções dos conteúdos não se tratam mais de narrativas, mas sim, informações carregadas de ideologias que se revelam incompatíveis com o espírito da narrativa no momento em que é indispensável que a informação soe plausível, de maneira que os fatos sejam narrados cronologicamente e que a história se encaixe perfeitamente para uma boa notícia.

Benjamin (1994) também afirma que esse processo de enfraquecimento da narrativa tem se dado com o surgimento da imprensa e consequentemente do grande volume de informação veiculada, assim como o surgimento do romance no início do período moderno, e depois da informação. O que se observa é que o romance para o autor, está ligado a um sentido da vida, ao encontrar semelhanças nas histórias românticas vividas e apresentadas pela mídia, o sujeito cria expectativas e esperanças de uma conquista como essa, como quando o “moçinho” da história conquista a bela e jovem moça e eles vivem felizes para sempre.

O leitor do Romance procura realmente homens nos quais possa ler ‘o sentido da vida”. Ele precisa, portanto, estar seguro de antemão, de um modo ou outro de que participará de sua morte. Se necessário, a morte no sentido figurado: o fim do romance. (BENJAMIN, 1994.).

Nota-se o papel do espectador frente a mídia e seu caráter afetivo, a esperança de aquecer sua vida “gelada” com o destino alheio que se assiste na mídia. Seria a grande mídia romantizada? Visto que o romancista descreve o incomensurável numa vida humana no seu limite, assim como a mídia utiliza da emoção, que deveria ser artificio de geração de pensamento, de forma profunda (exagerada, sensacionalizada) utilizando a emoção com esvaziadora de pensamento. Como no romance, quando aparece o “FIM” é fim. Como se a reflexão fosse previamente tendenciada para que isso acontecesse.

Diante do esvaziamento da capacidade de intercambiar experiências mencionado por Benjamim, a autora Kehl (2004) traz a compreensão de uma inversão de papéis no que diz respeito às esferas públicas e privadas, segundo a autora a mídia tem rompido com o lacre estabelecido há muito tempo referente ao que se faz em público, trazendo a privacidade para os meios abertos.

Segundo filósofo francês Guy Debord (1960), essa inversão de papéis pode ter vindo concomitantemente de um reflexo do que a mídia tem causado na sociedade. Observa-se um impacto midiático de caráter espetaculoso, esses eventos têm se tornando tão importantes que superam a própria dimensão do acontecimento em si, dando vazão de que a repercussão do fato é mais visada que a própria história.

Kehl (2004) aponta que há uma presunção em utilizar do artifício do espetáculo como estratégia para alcançar dentro da sociedade poder e dominação, os artifícios utilizados pela mídia ajudam a mascarar reais problemas da atualidade no cotidiano.

Com base nas discussões de Hanna Arendt, Telles (1990) afirma

Os critérios de verdade, de justiça e legitimidade são construídos na experiência intersubjetiva que os homens fazem da realidade do mundo. E é por isso que dependem do senso comum [...] que permite a cada um comunicar-se com todos os demais e fazer a experiência da pluralidade humana, a partir da qual opinião e julgamento se constituem (p. 25)

Diante da sociedade do espetáculo, a esfera política se desloca para as entrelinhas, a real situação é escondida por essas operações e esse movimento é chamado por Debord de “Manutenção do segredo generalizado”, um ocultamento do real problema por detrás do espetáculo.

Segundo Kehl (2004), o telespectador precisa de algum mecanismo que o faça sentir semelhante ao deslumbre vivenciado e apresentado nos grandes programas de televisão, como por exemplo, os reality show, deste modo, ao se deparar com o cotidiano banalizado e massificado dos participantes dos programas o sujeito se sente pertencente a algo maior, dando sentido à sua vida, assim como também vivencia o cotidiano de outras pessoas observando a semelhança entre si, ou até mesmo contemplando as dificuldades e situações piores as de si mesmo. Por outro lado, observa-se também diante da sociedade do espetáculo, a própria sociedade de consumo, como uma levando a outra, de maneira que já que esse sujeito precisa se sentir semelhante ao personagem vivenciado nos reality show ele precisa também comprar uma imagem tanto corporal quanto espirituosa desenvolvida pelo participante, visto que, foi graças a essas peculiaridades que existe a possível fama.

Kehl (2004) cita a Psicanálise como norteadora de um pensamento em que a mídia por meio da criação desses personagens vem a representar simbolicamente o Eu ideal, termo utilizado para se referir a visibilidade que o sujeito necessita adquirir se assemelhando com imagem refletida na tela. Quanto mais características parecidas ao personagem o sujeito tiver e quanto mais esse personagem conseguir alcançar seus objetivos, mais o telespectador se identificará com o personagem, passando a se sentir realizado assim como mostrado na televisão, vendendo uma falsa sensação de conquistas, mostrando que o espectador está mais perto do ideal que ele imaginava. Dessa forma, a televisão se torna um norteador, representando uma falsa esperança de visibilidade para a qual os espectadores se dirigem e, de maneira inconsciente, segundo a autora, acabam fazendo escolhas a partir do que a televisão oferece.

Segundo Telles (1990), Hanna Arendt considerava um problema a aquisição de conteúdos que orientam a vida real

“O problema, diz Hannah Arendt, não é tanto que alguém ou um grupo de pessoas possa se empenhar na mentira organizada. O problema é quando as pessoas passam a acreditar na mentira. E isso é grave porque é sinal de “um processo de destruição do sentido pelo qual nos orientamos no mudo real.” (TELLES, 1990, p. 26)

A manipulação dos conteúdos resulta na destruição do real, segundo Telles (1990), num mundo em que “as coisas podem se transformar em qualquer outra coisa” e em que as fronteiras que separam a civilização da barbárie mostram-se frágeis. Incertas e sem garantias a dissolução desse espaço público, pela substituição de conteúdos midiáticos, significa a perda de um “mundo comum” que articula os homens em uma trama visível feita por fatos e eventos tangíveis no seu acontecimento e que se materializa na comunicação

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