Fichamento - Drogas e violência: percepção social em uma comunidade

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Ao serem questionados sobre o principal motivo da forte circulação e consumo de drogas de abuso na comunidade, 92,3% entrevistados elencaram oito motivos da existência das drogas de abuso na comunidade, que foram agrupadas em equipamentos de segurança pública, determinantes sociais, componentes familiares e componentes pessoais.

Quanto à relação uso de drogas e violência, a maioria dos moradores (90,2%) referiu que percebe a presença de violência na comunidade, destes, 93,8% a relacionaram com a presença do uso de drogas de abuso. Dos 358 entrevistados, 8,7% sofreram atos violentos na comunidade, anterior à entrevista, sendo que as mulheres representaram 74,2% destes entrevistados. Dentre os tipos de violências referidos pelos entrevistados, a agressão física (38,7%) e assalto (35,5%) configuraram os tipos de violência frequentemente referidos pelos entrevistados, embora houvesse também agressão verbal (19,4%) e tentativa de assassinato (6,4%). O medo de sofrer violências na comunidade foi referido por 79,6%, dentre estas violências foram citadas assalto (33,8%), bala perdida (17,0%), assassinato (15,9%), agressão física (10,9%) e violência sexual (2,0%). Aos serem questionados sobre atividades cotidianas, 72,6% informaram que não realizam atividades como chegar ou sair de casa no período noturno (58,5%), e sair de casa em qualquer hora do dia (30,0%), frequentar festas e bares na comunidade (2,7%) e dialogar com usuários de drogas (8,8%).

A preocupação e o sofrimento com esta presença pode ser o resultado da convivência diária ou observação de pessoas fazendo uso de drogas e vivenciando os efeitos negativos desse uso. Vale ressaltar que, o conceito de sofrimento partiu do pressuposto mais subjetivo, cabendo ao entrevistado a resposta de acordo com a sua percepção deste termo. Sabe-se que a presença de drogas de abuso gera consequências devastadoras para o usuário, para a família e a comunidade onde este indivíduo está inserido, geralmente ocasionando alterações no comportamento familiar e nas comunidades.

Em relação ao motivo da forte circulação e consumo de drogas na comunidade, a falta de policiamento como equipamento de segurança pública foi o mais frequente entre os entrevistados. Também, o componente familiar e os determinantes sociais foram citados como motivadores da circulação e consumo de drogas.

O empobrecimento das famílias representa um risco adicional, pois a perda da capacidade de consumo pode levar jovens ao uso de drogas e à criminalidade, sendo o comércio de drogas de abuso, uma fonte de renda, em que a violência é a forma usualmente adotada para resolver conflitos e expandir a participação no mercado. O acesso às armas de fogo e a restrição das regras internas às “comunidades” facilita associação das atividades no tráfico de drogas a outros tipos de crime, como furtos, roubos e sequestros, o que amplia ainda mais a renda potencial de quem pratica o crime. O dinheiro obtido é garantia de usufruto imediato dos bens fundamentais à vida “social” do jovem da periferia: tênis sofisticados, telefones celulares de último tipo, roupas de marca e, se possível, motos e carros com acessórios brilhantes e aparelhagem de som.

Mesmo dotado de um alto grau de subjetividade, o medo é um indicador que afeta a qualidade de vida da população, influenciado pela percepção do nível da ameaça de que tais eventos violentos realmente venham a ocorrer. Dessa forma, o impacto da violência, principalmente para jovens, costuma ter efeitos negativos em seu desenvolvimento, e para adultos e idosos ocasionam mudanças de comportamento e alterações no estilo de viver.

Considerações finais

Os resultados apontam que a elevada presença de drogas na comunidade influencia negativamente a vida dos moradores, levando ao enclausuramento, pelo medo de sofrer atos violentos, com restrições ao trabalho para as mulheres, que deixaram de trabalhar para cuidar do domicilio, e diminuição de atividades cotidianas que exigem deslocamento dos entrevistados pelas ruas do bairro, principalmente no período noturno. A ausência de policiamento e combate ao tráfico na comunidade foi considerado o motivo da forte circulação e consumo de drogas de abuso, e a presença de violência na comunidade foi majoritariamente relacionada ao uso de drogas. Embora o estudo tenha sido realizado, em uma comunidade com elevada percepção do uso de drogas e violência, não se pode inferir que os resultados sejam representativos das demais comunidades do Estado do Paraná e do Brasil, uma vez que, a percepção social é influenciada pela cultura local e subjetividade dos indivíduos. No entanto, reforça a influência negativa do uso de drogas e da violência na vida das pessoas, e a necessidade de estudos que abordem as repercussões