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Ensaio sobre sexualidade no contexto contemporâneo

Por:   •  7/5/2018  •  2.406 Palavras (10 Páginas)  •  459 Visualizações

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Focault, 1977, observara que "nas relações de poder, a sexualidade não é o elemento mais rígido, mas um dos dotados da maior instrumentalidade utilizável no maior número de manobras, e podendo servir de ponto de apoio, de articulação às mais variadas estratégias".

Percebe-se claramente como o contexto social e histórico influencia nessa construção individual, e passagem posterior, mesmo com o acréscimos de novos desvios e mais conceitos e modificações, com o poder ocupando o centro de toda essa estruturação e tão enraizado que é visto como algo natural, principalmente no que diz respeito aos indivíduos passivos que foram se constituindo em nossas sociedades, indivíduos que não foram estimulados em sua essência, não tiveram livres para ser, se identificar, se conhecer e conhecer o mundo, mas indivíduos que são desvios de desvios, alienados de suas próprias possibilidades de ser. Indivíduos esses característico do cenário contemporâneo das sociedades capitalistas, tão sensivelmente influenciados pelo meio.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2001), desenvolveu o conceito de “Modernidade Líquida”. Segundo Bauman as principais características dessa Modernidade Líquida são desapego, provisoriedade e acelerado processo da individualização; tempo de liberdade, ao mesmo tempo, de insegurança. Tal contexto pode ser definido pela palavra alemã Unsicherheit que significa: falta de segurança, de certeza e de garantia.

Ainda hoje essa falta de segura, certeza e garantia se faz presente. Cada vez mais o cidadão constrói muros mais altos para proteger seus bens, e acaba que ele mesmo se torna o prisioneiro. Esses bens sempre muito preciosos são frutos do capitalismo, do acúmulo de coisas que, muitas vezes, nem são necessárias, mas que a produção, que o capital, insiste em pregar e dizer que são sim necessários, fazendo com que o consumidor seja cada vez mais consumidor e movimentando a maquina do capital.

Em “A modernidade líquida: o sujeito e a interface com o fantasma” Tfouni & Silva (2008), utilizam a cidade de São Paulo como exemplo deste tipo de sociedade (sem segurança, certeza ou garantia).

Segundo Tfouni e Silva, que estudaram como os conceitos de Bauman se encaixam na contemporaneidade, o consumo rápido e voraz se transforma numa obrigação. Seguir a mão invisível do mercado se torna obrigatório para que o sujeito seja reconhecido social e culturalmente como pertencente ao grupo dos vivos. Com isso, o sujeito sente que ele mesmo "nunca é bom o suficiente". Assim, paradoxalmente, quanto mais o desejo social é o de um preenchimento, mais o sujeito sente o mal-estar do vazio, um vazio que para nós é constitutivo do sujeito e seu desejo. Provavelmente o problema seja a maneira cultural que nossa sociedade encontrou para lidar com essa falta constitutiva.

Tfouni & Silva (2008) ao citar Bauman (2001) dizem que o movimento cultural - que antigamente era um desejo moderno - torna-se uma obrigação nos dias atuais. Nem chegamos a pensar em "por que mudar", somente sabemos que o movimento, a atualização são fundamentais para que o sujeito tente evitar ficar para trás, e até mesmo evitar "ser excluído". Se na modernidade a mobilidade e a velocidade eram desejadas, na pós-modernidade esse desejo se transforma em obrigação, se transforma, praticamente, no mínimo exigido para permanecer vivo. Assim, o que na modernidade era parte de um projeto de felicidade libertadora do homem, se transforma numa obrigação carregada de angústia e mal-estar.

A sexualidade pode ser vista em várias ocasiões como forma de consumo. Ela é explorada de modo a favorecer um ideal, ideal esse difícil de ser alcançado pela grande maioria das pessoas. Essa dificuldade em se alcançar o ideal é mais do que conveniente, já que se consome mais e mais para busca-lo.

Sempre na direção da fluidez e rapidez, tendo em vista as transações comerciais aqui apontadas, o consumir ganha enorme importância para os seus habitantes, permitindo que a mão invisível do mercado atue no sentido de transformar os luxos de hoje em necessidades do amanhã (Tfouni e Silva 2008).

A sexualidade humana na atualidade com sua expressão supérflua e libertina está diretamente relacionada as questões de poder. De acordo com Foucault, 2004, é essa instancia que se mostra subjacente a tudo que somos, que nos fascina pelo poder manifestado e pelo sentido que é ocultado. É sexo é o elemento mais especulativo, mais ideal, e igualmente mais interior, num dispositivo de sexualidade que o poder organiza em suas captações dos corpos, de sua materialidade, de suas forças, suas energias e seus prazeres. Assim, com a criação desse elemento imaginário, o sexo, como dispositivo, suscitou um de seus princípios mais fundamentais: o desejo do sexo, o desejo de possuí-lo, de descobri-lo, liberta-lo, articulá-lo em discurso e formulá-lo em verdade. (Nascimento, 2005)

O comportamento social da sexualidade atual deixa dúvidas se não vivemos noutra forma de opressão, na qual se deve desfrutar do prazer pelo prazer, sendo este um fim em si mesmo. O sexo virou um produto, fácil de ser consumido, influenciado pelas mídias sociais. É uma sexualidade sobre influência do dispositivo que concebeu uma sociedade voltada para o consumo, o exibicionismo, uma vez que o sexo está presente em produtos culturais voltados ao entretenimento das massas.

A sexualidade humana só será livre quando atribuída em função do atendimento das próprias necessidades humanas em suas esferas integras e autenticas, e não como consequências de estratégias de exercício de poder. Nossa sociedade tem se caracterizado por uma tendência a racionalização, não só do cotidiano e das vivencias mais subjetivas, mas da sexualidade em si. Caminha-se em todos os seus aspectos, cognitivos, perceptivos, sociais, econômicos, culturais e sexuais para o que fora ilustrado por Aldous Huxley, 1932, em sua obra Admirável Mundo Novo, uma realidade sintética convenientemente organizada e com desvios das necessidades, principalmente para o consumo, alienando o indivíduo de si e de sua liberdade e autenticidade existenciais, sendo o trabalho como núcleo central e a sexualidade um mero entretenimento de poder. Adorno, 1998, comenta a maneira como Huxley projeta as relações sexuais nessa sociedade racionalmente avançada, em que os tabus sexuais perderam sua força interna, cedendo espaço à permissão do não-permitido, degradando o prazer a um divertimento mesquinho, ocasião para a satisfação narcisista de quem “ficou” com esta ou aquela pessoa. O aspecto afetivo é cancelado como desperdício de energia sem utilidade social.

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