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Comunitarismo Solidário

Por:   •  28/1/2018  •  2.613 Palavras (11 Páginas)  •  304 Visualizações

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É possível perceber tal valor nas comunidades Hippies, existentes principalmente entre as décadas de 1960 e 1970, nas quais o sentimento mutuo de amor era um componente real. Os moradores dessas comunidades buscavam o fim da guerra e das outras formas de violência, como o preconceito de qualquer tipo, através de discursos pacíficos, como “paz e amor”. Viviam em comunhão, compartilhando mantimentos e aceitando o outro como igual, sem julgamentos, pregando a cooperação ao invés da competição. Mostravam também um enorme respeito às outras formas de vida, propondo a preservação ambiental e o amor ao planeta como um todo.

Outro termo que pode ser usado para se referir a este valor, pois se assemelha bastante, e que pode ser exemplificado pelas comunidades Hippies é o fraternismo/sororismo, proposto por Leonardo Boff. Ele propõe que as relações são regidas por um sentimento de fraternidade universal e que, sendo assim, temos os outros sujeitos e os elementos da natureza como nossos irmãos (irmão sol, irmã água, irmão pássaro...). Ou seja, como o conceito de irmão implica uma relação, na qual eu constituo o outro e o outro me constitui (eu não posso irmão sem a existência de um outro), esse valor demostra a importância para o sujeito das pessoas e dos demais elementos ao seu redor, levando a uma relação de amor e comunhão com tudo que o cerca, como demostrado pelos Hippies.

Outro valor que caracteriza o comunitarismo solidário é o que está presente em sua própria definição, a solidariedade. Guareschi a compreende como um valor que tem como pressupostos duas dimensões centrais: a dimensão de uma relação de comunhão, ou seja, gente amiga compartilhando, e a dimensão da ação, que implica articulação e organização. Portanto é uma condição grupal resultante da comunhão de atitudes e sentimentos e nessa conceituação podemos identificar como exemplos os assentamentos do Movimento dos Sem-Terra e os acampamentos dos Sem-Teto, já que as pessoas em cada movimento compartilham do mesmo sentimento de exclusão, da mesma bandeira de luta e precisam agir, se movimentar, transformar, para garantir sua sobrevivência.

Guareschi também acrescenta que na solidariedade existe um espaço para a concretização do sentido de pessoa, isto é, atrela- se a necessidade de outros com a garantia da singularidade. Isso nos reporta aos conceitos de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica, duas formas de solidariedade, propostos por Émile Durkheim, que correspondem a duas formas de organização social. Esse sociólogo francês afirma que na solidariedade mecânica todos se assemelham porque experimentam os mesmos sentimentos, aderem os mesmos valores e reconhecem o mesmo sagrado, já na solidariedade orgânica o consenso resulta ou é a expressão da diferenciação e nessa organização cada um desempenha uma função própria e diferente dos demais, mas todas são indispensáveis à vida. São exemplos, o trabalho nas tribos indígenas, que é realizado por todos, apesar de possuir uma divisão por sexo e idade, na qual as mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e plantio, já os homens da tribo ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das árvores; de forma semelhante na comunidade dos Amish ( surgiram em 1693 quando um grupo de menonitas suíços liderados por Jacob Amman se separaram do grupo principal e aceitaram a oferta de William Penn de liberdade religiosa na colônia norte-americana da Pensilvânia) em que os homens trabalham na lavoura ou no comércio e as mulheres cuidam da casa e criam os filhos; também as comunidades dos mórmons ( pertencentes a religião cujo nome oficial é Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, comumente chamada de Igreja dos Mórmons), nas quais famílias inteiras vivem em comunidades fechadas e todos, até as crianças pequenas, ajudam nas tarefas de semear, colher e enlatar os alimentos; e ainda podemos tomar como exemplo as comunidades Hippies das décadas de 60 e 70 que plantavam tudo o que consumiam e todos os moradores exerciam uma função dentro da comunidade.

Lisboa emprega o conceito denominando-o de solidariedade consciente, indicando o reconhecimento, o respeito e o acolhimento do outro como parte intrínseca de cada indivíduo. A solidariedade consciente implica em uma co-responsabilidade que vai além do mero cumprimento de deveres, mas envolve uma postura ativa de quem acolhe o outro porque este lhe é diferente e complementar, o que ficou bem evidente nas comunidades criadas pelos Hippies que aceitavam as diversidades, as diferenças, não estigmatizavam cabelos excêntricos, comportamentos sexuais distintos, roupas simples demais ou sujas.

A definição do dicionário Michaelis de solidariedade nos fala em um estado ou condição de duas ou mais pessoas que repartem entre si igualmente as responsabilidades de uma ação, respondendo todas as pessoas por uma e cada uma por todas. Essa “defesa mútua” pode ser encontrada em movimentos de resistência como foram os Quilombos, que eram frequentemente atacados e perseguidos por bandeirantes, bem como os movimentos dos Sem-Terra e dos Sem-Teto que devido a interesses superiores sofrem constantes tentativas externas de dissolução.

O comunitarismo, outro valor que caracteriza o comunitarismo solidário, propõe que o indivíduo seja considerado membro inserido numa comunidade política de iguais. O individuo é parte atuante na comunidade, ele deixa de ser um para se tornar um todo, assim ele não lutara apenas por seu direito e sim defendera todos aqueles que fazem parte da sua relação. No comunitarismo a vida em comunidade é priorizada.

O tipo de sociedade que caracteriza essa cosmovisão é a comunidade. Ela se tornou uma discussão central sobre ética e sociedade na contemporaneidade, pois é impossível caracteriza-lá em detalhes, por ser uma realidade difícil de ser descrita, mas podendo ser discutida algumas de suas qualidades centrais, como a dimensão organizacional e burocrática, a presença de sentimentos e afetos, que atendem a necessidade do ser humano em amar e ser amado, isso é fundamental, pois em uma comunidade os indivíduos necessitam dessa dimensão afetiva para a sua plena realização.

Um exemplo são as comunidades indígenas, que lutam pela sua continuidade histórica, anterior à invasão e à colonização de seus territórios, conservando o amor pela terra, por seu povo, ensinando as novas gerações seus territórios ancestrais e sua identidade étnica, como base de sua existência continuada como povos, em conformidade com seus próprios padrões culturais e sociais, transmitindo a todos o amor, o carrinho, o afeto e o respeito de sempre pela sua comunidade, pela

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