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Complexo de Édipo e os Conceitos Fundamentais para a Construção do Eu

Por:   •  23/3/2018  •  2.632 Palavras (11 Páginas)  •  485 Visualizações

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Esse outro real acaba caindo por terra em um segundo momento, quando a criança percebe que na verdade aquele outro não é de fato real, e sim uma imagem. Mas ainda sim, ela não consegue reconhecer que aquela imagem é sua.

Somente em um terceiro momento que a criança entenderá que a imagem que está refletida no espelho é sua. Isso ocorre quando ela tira o olhar do espelho para ver se o adulto que a sustenta está vendo que ela está se enxergando no espelho, dando suporte a essa sua experiência e ajudando a delimitar o que ela é. Seria a busca de um aval, a busca de uma autorização de um adulto sobre o que ela está vendo e experienciando.

Se há um outro que possa introduzir a linguagem ou servir de imagem para que a partir de uma transitoriedade, a criança possa construir o seu eu ideal, a suas experiências são simbolizadas e ela consegue costurar as bordas necessárias para o seu reconhecimento.

O Eu só é capaz de se reconhecer a partir da observação do que há fora, sem isso ele não conseguiria identificar o que é. “Se sou diferente do outro, então o que eu sou?” É na resposta a essa pergunta que começamos a definir o que somos.

Então, ao construir esse eu ideal, a criança estará apta para formar, a partir de uma aceitação dessa posição de “dependência do outro”, e de uma alienação ao desejo da mãe, o seu ideal de eu, aquilo que ele precisara ser, seguir e buscar para ser aceita e amada por essa mãe.

Percebemos, portanto, que é partir da passagem pelo circuito pulsional e pelo estádio do espelho, que a criança, através do olhar do outro (mãe), da introdução que ela faz da linguagem e da construção de uma imagem própria, começa a simbolizar as suas experiências corpóreas e externas a si.

Entendendo esses dois conceitos, poderíamos começar a discorrer sobre o complexo de édipo para Lacan, uma vez que, o primeiro tempo desse processo de estruturação psíquica, ocorre juntamente com a obtenção da noção de Eu e com a relação primordial como uma mãe introdutora de linguagem.

Mas, ainda faltam termos essenciais para que entendamos a forma como os objetos aparecem na relação edípica. Exigindo-nos buscar na descrição das instâncias que Lacan definiu como real, simbólico e imaginário, os conteúdos essenciais para que possamos explicar de forma mais técnica como se dá esse momento de estruturação do sujeito.

Para organizarmos o nosso raciocínio, começaremos descrevendo o conceito do registro simbólico. Basicamente, o simbólico descrito por Lacan, é da ordem da linguagem, sendo definido como palavras que dão nome as coisas. Tudo aquilo que somos e nos deparamos ao longo da vida precisa de uma definição, algo que as nomeie e diferencie para que possamos introduzi-los em nossa vida, diferenciando e alocando cada parte em seu devido lugar.

Sem a nomeação das coisas com palavras, o sujeito, além de não conseguir se comunicar, pois, jamais conseguiria chamar alguém para fazer alguma coisa que ele não consegue descrever, por exemplo, a falta de simbolização daquilo que ele vivencia, impossibilitaria a própria sobrevivência de nossa espécie, uma vez que somos seres de linguagem e precisamos entender a função das coisas que mantem nossa sobrevivência, para que possamos aplica-las em nossa vida.

Um animal nasce com um instinto que o faz entender que a comida é essencial para que ele sobreviva, um ser humano não. Se não houver alguém para dar esse alimento, mas mais do que isso, se não houver alguém que simbolize essa ação de comer, a criança pode morrer de fome por não entender a importância daquele momento.

Portanto, é a linguagem que vem do outro que vai simbolizando o que experimentamos, estruturando posteriormente o nosso inconsciente, dando nome ao “caldeirão de excitações fervescentes”.

Mas, até que o outro possa simbolizar aquilo que estamos vivenciando, sentindo ou observando, essas experiências são de uma ordem que Lacan descreveu como real. O real para Lacan é aquilo que não existe, que não é simbolizado, e mesmo que posteriormente venhamos a dar um nome a essa coisa, ainda terá uma parte dela que não poderá ser descrita. Nunca poderemos ter a total compreensão das coisas, pois somos seres que as entendem apenas na parte da linguagem.

Porem, o fato de não podermos dar nome ao todo, e de não conseguirmos descrever algumas experiências daquilo que vivenciamos e somos, não quer dizer que as coisas não estão lá, que não existem ou que não nos influenciam, pelo contrario, é justamente no impronunciável e incompreensível que se encontram os conteúdos que tratamos na clinica para que possam ser simbolizados e assim compreendidos.

Um trauma, por exemplo, pode produzir uma sensação que o individuo não consegue descrever o que é ou da onde está vindo, mas ele está lá, ele existe. Com a ajuda do terapeuta que sustenta uma posição que mostra ao paciente que ele não pode ficar sem essa resposta e que deve ir um pouco mais adiante naquilo que está sentindo, é que esse trauma pode ser simbolizado, pois, a cada interpretação e percepção que o paciente tem, uma serie de significantes é introduzido nesse real, que agora poderá ser da ordem simbólica.

Por ultimo, falaremos do imaginário que se refere a uma importante função usada pelo ego para que, a partir da identificação com o outro, ele possa se construir. É como se, de forma fantasística, o ego se satisfizesse ao ver o outro em ação, como se ele se alimentasse da imagem do outro, buscando por si mesmo nessa imagem.

É no estádio do espelho que ocorre a constituição do imaginário, pois, a partir da relação com a mãe, que descrevemos anteriormente, a criança amarra a imagem corporal (adquirida a partir do reconhecimento de si no outro) ao real do corpo, entendendo assim que ela é a sua própria imagem.

Além dessa função, o imaginário vai aparecer dentro do complexo de édipo como uma construção imaginária que concebe a falta como o motivo principal da diferença entre quem tem e quem não tem o desejo da mãe. Quem tem o falo tem algo, que para aquele que não tem o falo falta. É essa produção imaginária que fará com que a criança, em um dado momento, venha querer buscar esse falo que a dará a condição de ter a mãe.

É a partir dessa noção de falta e da descrição das instancias criadas por Lacan, que começaremos a falar do complexo de édipo, uma vez que, é nessa fase que acontece a amarragem essencial entre essas três instancias, permitindo a nossa estruturação psíquica.

Diferentemente do complexo de édipo descrito

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