Essays.club - TCC, Modelos de monografias, Trabalhos de universidades, Ensaios, Bibliografias
Pesquisar

Análise do filme mar adentro

Por:   •  23/4/2018  •  2.028 Palavras (9 Páginas)  •  614 Visualizações

Página 1 de 9

...

Análise do filme

Nesse momento, relacionaremos alguns temas existenciais com suas respectivas cenas no filme, a começar pela liberdade.

No filme desde o início a cena pela janela de Ramón Sampedro é uma linda paisagem. Os movimentos remetem liberdade. Logo depois dessa cena aparece o texto “Escolha seu lugar preferido. Relaxe, agora está lá”, simbolizando o desejo de liberdade. Para Sartre, é através da liberdade que o homem escolhe o que há de ser, escolhe sua essência e busca realiza-la, ele é responsável por tudo aquilo que escolhe e faz, não há desculpas para ele. Essa liberdade não é absoluta, já que o homem vive de uma existência completa situada no tempo e espaço, pois é limitada pela sociedade com suas regras, as quais temos que nos submeter, por isso em alguns momentos o homem entra em conflitos com o meio social a qual pertence. Em uma de suas falas Ramón Sampedro diz “Afinal, todos vamos morrer, não é? Então, por que se sentem chocados porque digo que quero morrer? ” Ele sempre diz que “a morte é sua amiga”, ele vive esse conflito com o meio social, pois para ele a liberdade era a morte, então ele decide lutar na justiça pelo direito de decidir sobre sua própria vida, o que lhe gera problemas com a justiça, a igreja e até mesmo seus familiares. Para ele a morte o livraria das condições físicas limitadas. A eutanásia, para Sartre, é um ato consciente e reflete uma escolha, querer a morte. No filme Ramón não perde o poder de ser ator e agente digno até ao fim, pois o interesse individual se mostra acima da sociedade, que com suas leis e códigos, visam proteger a vida.

Heidegger então diz que a liberdade é o homem escolher a si mesmo e governar a si mesmo. "O homem é condenado a ser livre" Com essa afirmação vemos o peso da responsabilidade por sermos totalmente livres. E, frente a essa liberdade ampla, o ser humano se angustia, pois, a liberdade implica em fazer escolhas, as quais só o próprio indivíduo pode fazer. Ele acha que a morte é algo que não se pode impedir e por isso não tem medo, e por saber que a morte é a liberdade, ele se angustia, porque se vê na situação de escolher sua própria vida, seu destino.

Outro conceito que podemos lembrar é o "mundo da vida" (Lebenswelt). Para Husserl o mundo da vida é o mundo imediato em que cada um de nós vive e que antecede toda e qualquer teoria ou ciência. Esse conceito foi retomado por Merleau-Ponty, que o define como um segmento da existência mundana vivida pelo indivíduo em sua unicidade. A primeira experiência do Lebenswelt é corporal. É por seu corpo que o outro me aparece e é por meu corpo que eu me mostro a ele. Ramón estava privado dessa experiência, já que havia perdido a sensibilidade do corpo e este se encontrava paralisado do pescoço para baixo.

O tema central do filme é a morte, mas para se entender a morte, primeiro é preciso entender o sentido da vida. Para Heidegger, o sentido da vida é algo que tem que ser criado. O homem deve dar uma direção a ela. A nossa vida é uma abertura ao mundo e nesse sentido somos livres. Porém, Ramón não se sentia livre e acreditava que “viver assim não é digno”. Ele não queria ofender as pessoas que viviam como tetraplégicas, mas ele não conseguia viver dessa forma.

Sartre não acreditava que algum sentido prévio da vida pudesse ser atingido pela experiência religiosa ou pela razão pura. Isso se mostrou aplicável no caso de Ramón quando um padre tetraplégico foi até sua casa, tentou dissuadi-lo de sua ideia e não obteve êxito. Mesmo sem o apoio da família, quando Ramón olhava para o futuro, o que via era a morte. Na fala de seu pai “só há uma coisa pior que a morte de um filho... que ele queira morrer”.

Assim posto, Heidegger diz que o fim do ser-no-mundo é a morte, que é o momento do término físico da vida, mas tem seu lado positivo se o ser humano assume o seu ser-para-a-morte, ou seja, leva em conta que a morte é um fenômeno da própria existência, como fez Ramón, e não do término dela. A morte apenas tem sentido para quem existe e se põe como um dado fundamental da existência mesma. Assumir o ser para a morte, porém, não significa pensar constantemente na morte e sim encarar a morte como um problema que se manifesta na própria existência. Já Sartre afirma que “não sou livre para morrer, mas sou um livre mortal”. A morte é a negação da vida, da própria existência, é um absurdo. Ramón acreditava que a morte era sua possibilidade de liberdade e que “depois que morremos não há nada”.

Sartre afirma que “o homem é angústia” em razão da responsabilidade por suas escolhas, ela é provocada pela decisão a ser tomada e pelo peso da responsabilidade, além de uma determinada escolha ter sempre várias possibilidades, é difícil saber qual é a melhor possibilidade, no caso de Ramón ele tem a possibilidade de continuar tetraplégico ou a morte, pois a morte para ele tem sentido de salvação. Para Heiddeger é na angústia que percebemos que somos um ser para morte. É a morte que retira todo o sentido da vida e experimentamos a angústia quando tudo perde sentido, é uma experiência de vazio, e para Ramón a vida dele não tinha mais sentido, pois ele se tornou limitado pelas suas condições físicas.

Outro tema é a má-fé, entendida como um erro que foi escolhido e esconde a condição de liberdade do homem, uma crença equivocada que o sujeito abraça, como quando Ramón escolhe morrer, negando sua liberdade.

Sobre a solidão, Heidegger afirma que estar só é a condição original de todo ser humano, já que cada um de nós é só no mundo. É como se o nascimento lançasse a pessoa à sua própria sorte. Podemos nos conformar com isso ou não. Mas nos distinguimos uns dos outros pela maneira como lidamos com a solidão e com os sentimentos decorrentes: liberdade, quando aceitamos a solidão como o preço da própria liberdade ou de abandono, quando a vemos como uma espécie de desconsideração de Deus ou da vida. Isso vai depender do modo como interpretamos a origem de nossa existência. Ramón está mais relacionado com o segundo sentimento.

Por último, o tédio existencial é aquela situação que o homem sofre a dor de ver o tempo passar, e isso é visto no filme, pois ele tem a consciência que não tem mais possibilidades de atingir metas, e esse tédio aumenta quando a sociedade nega suas escolhas, já que ele se achava um peso para a família, e foram essas condições de angustia, sofrimento, liberdade, responsabilidade, que acabaram por impor a ele o tédio existencial.

Conclusão

Em

...

Baixar como  txt (12.3 Kb)   pdf (58.8 Kb)   docx (16.9 Kb)  
Continuar por mais 8 páginas »
Disponível apenas no Essays.club