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A Psicose e Laço Social

Por:   •  11/5/2018  •  1.530 Palavras (7 Páginas)  •  349 Visualizações

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acrescenta a clinica dos discursos à clinica das estruturas, onde passa a investigar - além das estratégias do sujeito com o desejo e o gozo do Outro - a relação do sujeito com laço social, com o saber, com os discursos sociais e culturais, como ele se insere nos discursos (QUINET, 1951).

O sujeito não é simplesmente alguém da ordem do individual, é um ser falante, que fala do Outro. É através da fala e da sua relação com o Outro – que não foi barrado - que podemos investigar o sujeito na psicose. O espaço de escuta é fundamental para que ele possa organizar melhor esse conteúdo, possibilitando lugar de existência e não somente de sujeito do Outro. “A proposta da clínica da psicose, neste sentido, ‘consiste não em fazer apelo a um sujeito que não pode responder, mas sim em criar as condições para que ali, numa existência aniquilada pela psicose, se produza essa possibilidade’” (TENÓRIO, 2001, p.124) (MEYER, p.303, 2008).

Para a psicanalise lacaniana onde há linguagem há sujeito e desejo, portanto, como o psicótico é dotado de linguagem consideramos a psicose uma estrutura clínica de um sujeito desejante. Independente do “discurso social” é através da linguagem que o psicótico tenta barrar o Outro, seja ela falada, escrita, corporal, artística ou em seu delírio. Dessa forma, não há porque reduzirmos o psicótico a um ser assujeitado ou ao objeto do gozo do Outro (SOBRINHO,2010).

Na psicose não há recalque, simbolização, discurso e falta. Ela é exposta a céu aberto, sem mascaras, uma estrutura constituída de verdade e de linguagem. Lacan ao colocar o psicótico como sujeito rompe com paradigmas e com rótulos preconceituosos de trata-los como doentes e dementes sem cura. Realmente não há cura para psicose, afinal trata-se de uma estrutura e não de uma doença, mas uma forma possível de estabilização seria através da linguagem como forma de suplência da metáfora paterna (SOBRINHO,2010).

Desta forma, não estamos falando de fechar hospitais psiquiátricos e abandonar as pessoas em suas famílias, muito menos nas ruas e nem em fechar leitos para reduzir custos. Estamos falando em desinstitucionalização, que não significa apenas desospitalização, mas desconstrução, uma superação de um modelo arcaico centrado no conceito de doença. Desinstitucionalização significa tratar o sujeito em sua existência e em relação com suas condições concretas de vida, não administrar-lhe apenas fármacos ou psicoterapias, mas construir possibilidades com o sujeito.

Assim, o tratamento deixa de ser a exclusão em espaços de violência e mortificação para tornar-se criação de possibilidades concretas de sociabilidade a subjetividade. O doente, antes excluído do mundo dos direitos e da cidadania, deve tornar-se um sujeito, e não um objeto do saber psiquiátrico. A desinstitucionalização é um processo ético, de reconhecimento de uma prática que introduz novos sujeitos de direito e novos direitos para os sujeitos (AMARANTE, 1995).

Sendo assim, esta é uma prática que reconhece o direito das pessoas enfermas em terem um tratamento efetivo, em receberem um cuidado verdadeiro, uma terapêutica cidadã. O futuro da reforma psiquiátrica não está apenas no sucesso terapêutico-assistencial das novas tecnologias de cuidado ou dos novos serviços, mas na escolha da sociedade, da forma como vai lidar com os seus diferentes, com suas minorias, com os sujeitos em desvantagem social (AMARANTE, 1995).

Mesmo com todas as dificuldades podemos aliar a inclusão social proposta pela reforma com a escuta analítica e a possibilidade de laço social da psicanalise. Não é impondo uma realidade ao psicótico que iremos integrá-lo na sociedade, mas também não é excluindo a necessidade de uma ajuda psicossocial que o sujeito fara laço.

BIBLIOGRAFIA:

AMARANTE, P. Novos Sujeitos, Novos Direitos: O Debate em Torno da Reforma Psiquiátrica. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 11 (3): 491-494, jul/set, 1995.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental : 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005.

FREUD, S. (1923-1925). Neurose e psicose. In: Edição Standart das Obras Psicológicas Completas de Singmund Freud. v.19. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

__________. (1923-1925). A perda da realidade na neurose e psicose. In: Edição Standart das Obras Psicológicas Completas de Singmund Freud. v.19. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

MEYER, G. R. Algumas considerações sobre o sujeito na psicose. v. XI, n. 2. Rio de Janeiro. jul/dez 2008.

QUINET, A. 1951. Psicose e laço social: esquizofrenia, paranóia e melancolia. 2.ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

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