A ESCOLHA DO MÉTODO PROGRESSIVO-REGRESSIVO COMO METODOLOGIA PARA O PROJETO DE DOUTORADO
Por: YdecRupolo • 28/10/2018 • 5.430 Palavras (22 Páginas) • 344 Visualizações
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Historicamente verifica-se que as causas dessas intensas transformações têm raízes no período áureo da borracha, a chama Belle Époque Amazônida, e no período de declínio da mesma com a construção e inauguração da Zona Franca de Manaus, que motivou um grande fluxo de migração para a capital amazonense. Este crescimento é sentido no cotidiano. Manaus hoje figura um espaço urbano mais amplo, construções modernas, ampliação de seu Parque Industrial e novas organizações sociais que acompanham seu crescimento.
Entre os anos de 1980 e 2010, a cidade de Manaus viu sua população quintuplicar, saindo do patamar de 300 mil para cerca de dois milhões de habitantes. Isso refletiu não só em crescimento demográfico como também sócio-político e econômico. Dados da Prefeitura de Manaus (2015) colocam, atualmente, a capital do Estado do Amazonas como o principal centro financeiro e corporativo da Região Norte, o décimo maior destino de turistas e o sexto município que mais contribui para o Produto Interno Bruto (PIB) do País.
Contudo, a situação da cidade não reflete tais indicadores diante de tantos problemas urbanos que a assolam, tais como: o problema do transporte urbano, das favelas, das áreas de risco habitadas por uma população carente, o lixo produzido na cidade de forma desordenada, todo tipo de poluição urbana, a carência de calçadas para locomoção dos pedestres, a pavimentação precária das ruas, avenidas e estradas, dentre outros mais.
Trindade Jr (2004) aponta para um crescimento despadronizado a que passou a cidade de Manaus, que acabou por romper um processo de ocupação predominantemente ribeirinha que caracteriza o Estado, diferenciando-se de outros municípios do Amazonas ao se aproximar de um modelo de metrópole e por tudo que foi exigido do município tendo em vista as condições naturais e o processo histórico da região. Não obstante, Manaus se destacou em seu ritmo acelerado de crescimento e em uma dinâmica acelerada de transformação de seus espaços constituídos e vividos.
Destarte Manaus é marcada por descontinuidades sociais em seus espaços urbanos, produtos de conflito entre a forma ou ideal metropolitana e os aspectos do cotidiano da vida social regional, ocasionando um conflito e separação entre o espaço concebido e o espaço vivido. Esse conflito marca um distanciamento entre o contexto dos rios, das florestas, dos paraísos ecológicos que dividem o espaço com as ruas, os prédios, a tecnologia e o desenvolvimento e a reprodução de uma realidade sociocultural de metrópole.
Esse conflito também é constituído nas relações com os seus habitantes, visto que o espaço deve ser considerado como historicamente produzido pelo homem à medida que se organiza e organiza política, social e economicamente sua sociedade (SOUZA, 2009). A produção de novos padrões e novas formas de constituição de uma sociedade em constante crescimento e produções de espaços abstratos nessa realidade ocasionou fenômenos bem peculiares: a diminuição da experiência consciente subjetiva que o indivíduo tem de seu contexto histórico e o aumento das especificidades e de certa alienação do contexto amazônico.
Como um acontecimento fundamental a subjetividade do habitante ou morador da cidade de Manaus, através dessas especificidades e dessa alienação, é constituída por uma racionalidade programada e através de forças de representações e objetos capturados pela imposição externa. Esta está marcada na história da Amazônia com a conquista e a colonização europeia que, como escreve Darcy Ribeiro (1995) promove uma colisão cultural, racial e social na região da qual prevalece a supremacia cultural do europeu. Torna-se presente a partir de então uma relação marcada pelo binômio superioridade/inferioridade que abalizou todo o rumo da história e das relações entre colonizadores e nativos na Amazônia.
Cinco séculos depois da chegada dos colonizadores, o imaginário sobre a região ainda traz muitas semelhanças com os relatos da época do Brasil Colônia. O olhar do colonizador ainda está bastante presente e a partir dos discursos “fundadores” sobre a região, é possível observar como enunciados distorcidos e estereotipados foram construídos historicamente e ainda fazem parte da Amazônia e de seu povo. Segundo Neide Gondim em seu livro, A invenção da Amazônia (2007), a fundação do discurso que imprimiu as primeiras representações na cultura Ocidental sobre a região amazônica adveio da transferência do imaginário europeu para as terras amazônicas como uma justificativa ao processo de colonização.
Isso ocorre mesmo em relação ao restante do País, que tem também sua história marcada pela colonização, ao qual a Amazônia ainda é uma grande área desconhecida do país. Distante, geograficamente, dos centros de decisão da política brasileira, a região vem sendo trazida a público em nome de uma floresta, que em um breve futuro pode ser a salvação mundial. O saber local, as populações tradicionais e a diversidade cultural vêm sendo apagados ou estigmatizados como o foram no passado. Em seu processo histórico, a Amazônia sofre e vem sofrendo uma dupla colonização.
A Amazônia nacional é resultante de disputas classificatórias construídas historicamente e nacionalmente. A relação estabelecida com o “outro” regional a partir de um epicentro hegemônico/ nacional demonstra polaridades, onde a floresta exerce o papel do dominado diante do dominador, o colonizado diante do colonizador. E assim, o regional perde força frente ao modelo importado de uma metrópole e se distancia até mesmo de outros contextos no Estado do Amazonas. É dizer que o manauara se sente diferente do resto do Amazonas e se afasta de um contexto histórico para fazer algo próprio, diferente, específico e a partir de outras representações e influências.
A forma de se viver essa metrópole assume, então, um estilo de vida que obedece a um padrão elaborado em contextos distantes da realidade regional. Trindade Jr (2004) assevera que esta distância e este padrão acabam por ocasionar estranhamentos e heterogeneidades sócio-espaciais que criam uma não-identidade ou uma identidade forçada com a forma metropolitana. O espaço urbano aparece como resultado de processos geradores de formas e funções modificadoras de uma cidade encravada no meio da selva (OLIVEIRA, 2008).
Mas as cidades amazônicas não são apenas produtos de uma contemporaneidade, mas de tempos pretéritos consolidados na paisagem. Estas não se resumem ao conjunto de objetos, construções e natureza, mas em modos de vida resultantes de ações culturais continuamente produzidas, reproduzidas, criadas
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