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ASPECTOS DOS PROCESSOS, DETERMINANTES E IMPLICAÇÕES DO MODELO DE CRIAÇÃO

Por:   •  31/1/2018  •  4.727 Palavras (19 Páginas)  •  325 Visualizações

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Quanto à personalidade de Escudero, repercutira positivamente na comunidade científica e em seus alunos, e contribuiu para a propagação da profissão: Confirma-se, assim, o que dele foi dito, em 1934, pelos (...) professores Berardinelli e Helion Póvoa – ‘prega Escudero uma política majestosa de união fraterna, de comunhão internacional. Pedro Escudero não é só um mestre argentino de medicina, é um estadista sul-americano, é pioneiro de uma cruzada nacionalista: verdadeira política alimentar.’ (1p.9). E, no testemunho de Lieselotte: Hay cursos de alto nivel en (...). Todavia no se comparan con su Escuela de Dietistas. Faltam la concentración, la unidade, el sentido de doctrina polarizado por su personalidad invulgar, que es la flama que alimenta el entusiasmo de sus discipulos (3).

No decorrer dos estudos, acusada de “quinta-coluna”, Lieselotte teve de explicar-se: Era o ano de 1942, em plena 2a Grande Guerra Mundial; na época, toda a correspondência internacional era aberta pela censura e, ‘até provar ao contrário’, as acusações criaram embaraços na volta (2p.15). Ao regressar, alocada na Divisão de Organização Sanitária, e falecido seu pai, conta: Havia superado a fase de muito idealismo e sentia as restrições que a realidade impõe. Achava o campo muito limitado para a aplicação dos conhecimentos adquiridos (...), pois sequer havia o curso de dietista no Brasil (2p.17). Lieselotte freqüentou depois um curso de pós-graduação em nutrição na Inglaterra, de 47 a 49. Lá, aprendeu sobre o sistema de racionamento alimentar: A experiência da guerra anterior (...) provou que as dificuldades de transporte e aumento de consumo trariam escassez de alimentos. (...) foram tomadas medidas para (...) que não houvesse desigualdade na possibilidade de aquisição dos gêneros por classes sociais de nível econômico diferente (4). Em 1951, outra bolsa de pós-graduação, pelo programa Ponto IV, dos EUA, com duração de 1 ano e plano de estudos definido pela Federal Security Agency. Diz Lieselotte: O que mais impressionava (...) era a liberdade, descontração do estudante em classe, em comparação com o sistema rígido e formal da Inglaterra (5p.31). Entretanto, notara, da parte dos ingleses, uma certa liberdade interior de pensar (...). No povo americano havia a descontração (...) na aparência (...), mas um rígido, compulsivo esquema na aplicação, na distribuição do tempo. Após conhecer os regimes argentino, inglês e norte-americano de ensino da nutrição, afirmou a superioridade do primeiro: (...) é superior aos cursos ministrados nos países pioneiros, EUA, Canadá e Inglaterra, onde há campo mais vasto, maiores recursos, porém para aperfeiçoamento isolado, nesta ou naquela matéria (...). A Escola de Escudero forma o profissional polivalente (1p.7). Essa polivalência vem a constituir-se em uma das marcas do ensino de nutrição no Brasil, a da formação generalista, discutida, mas altamente conservada. Foi de um importante congresso no Panamá que, em 1963, Sonia Moreira Alves, representante brasileira, escreveu a Lieselotte, atestando a unidade do modelo de formação latino-americano: Todas as dietistas que estão tomando parte no seminário foram alunas do instituto de Escudero e, assim, é um prazer (...) saber que o Brasil possui realmente um ‘gran maestro en Nutrición (6)’. Em anos posteriores, recomendações continentais para os currículos de nutrição continuariam tendo grande expressão.

O SAPS e o nascimento da profissão no Brasil

Nos fins da década de 30 e início dos 40, vários setores da ciência médica e social se empenhavam em promover uma alimentação racional para o povo brasileiro, como eco de medidas que o mundo enfrentava em decorrência da 2aGuerra Mundial. Em S. Paulo, a Secretaria de Agricultura (...) e, no Rio de Janeiro, o Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), foram as entidades que incluíram cursos rápidos, visando aquelas metas (2p.17). Com a disseminação de indústrias, em 1939 instituiu-se o Serviço Central de Alimentação do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários, depois convertido no SAPS (7). Alimentos tabelados, abastecimento racionado, cooperativismo agropecuário foram outros eventos. O SAPS surgiu como forte instrumento da política estadonovista, com programas de assistência alimentar aos trabalhadores e suas famílias: restaurantes populares, postos de subsistência (mercados a preços reduzidos) e propaganda e educação alimentar. Por decreto anunciado na festa trabalhista de 1º de Maio, determinou-se a criação de refeitórios em fábricas com mais de 500 operários e a abertura de cursos profissionais: auxiliares de alimentação, visitadoras de alimentação, nutricionistas e médicos nutrólogos. Em 40, o SAPS passou a subordinar-se ao ministro do Trabalho e a ter jurisdição nacional, visando assegurar condições favoráveis e higiênicas à alimentação dos previdenciários. No mesmo ano foi inaugurado o restaurante central da Praça da Bandeira. A respeito, escreveria Dayse Furtado: Vivíamos o ano de 1949/ Na bela cidade do Rio de Janeiro./ Éramos bem poucas, ainda./ Um punhadinho/ a trabalhar no SAPS,/ outro no HSE/ e mais algumas, isoladamente,/ em diferentes setores./ Trabalhávamos mais que vivíamos/ e lutávamos mais que trabalhávamos./(...) Mas a fé na profissão,/ que é quase um sacerdócio,/ laboriosa, fecunda e heróica/ dá coragem e sabedoria/ para bem defender todo dia/ E a toda hora,/ o direito sagrado/ do previdenciário,/ que contribui com o dever de pagar/ para o direito de comer,/ com pontualidade, refeição completa, sadia e limpa (8). Uma de suas nutricionistas de mais alto destaque foi Emília de Jesus Ferreiro, que fora aluna daque1e distante curso de 1943 no S.A.P.S. (9p.3). Sob o emblema da divulgação peculiar ao período, a Divisão de Propaganda do SAPS, dirigida pelo major Umberto Peregrino, editou em 1950 a revista Cultura e Alimentação. Em consonância com a política de prestigiar intelectuais, o que não livrou o regime de sua posterior oposição, a publicação conta, ao lado de artigos técnicos, com ampla participação de expoentes culturais, como Cecília Meirelles e José Lins do Rego. Rubem Braga, num artigo, comenta a alimentação, financiada pelo governo americano, dos pracinhas da FEB no campo de batalha: ‘Nabisco’ é a marca comercial de um, de cem números de produtos americanos de alimentação. Nossos homens travaram conhecimento com esses produtos a bordo dos grandes transportes de guerra (...). A grande maioria não se acostumou a consumir aqueles flóculos secos (...). Por isso, os soldados cantavam a bordo, com a música daquele verso de samba: ‘Emília, Emília, Emília, eu não posso mais’, o seguinte: ‘Nabisco, Nabisco,

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