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Um Resumo de Anatomia

Por:   •  6/9/2018  •  1.604 Palavras (7 Páginas)  •  270 Visualizações

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Foi também o período de surgimento da Anatomia Patológica, inaugurada por Morgagni, e do ressurgimento da Anatomia comparada, representada por Albrecht von Haller, John Hunter e Georges Cuvier, que propunham uma Anatomia Funcional que professava que “no coração desta doutrina estava a noção de que se deve examinar as partes do corpo como anatomista mas entendê-las como um fisiologista’’.

Na Anatomia Patológica, destacou-se a figura de Giovanni Battista Morgagni, que foi o primeiro a estabelecer relações entre os órgãos humanos e os sintomas das doenças, através da realização de aproximadamente setecentas necropsias. Dentre suas contribuições, destaca-se a importância do diagnóstico e do prognóstico no exercício da medicina. O desenvolvimento científico do século XIX procurou destacar a dimensão ativa do homem no ato de conhecer. Destaca-se nesse período o surgimento de novas técnicas de medição e aferição que fizeram do século XIX o século da instrumentalização da biologia e da medicina. Não se tratava de novas estruturas corporais a serem identificadas e descritas, mas, de novas formas de visualização do interior do corpo.

Em 1816, René Théophile Hyacinthe Laënnec inventou o estetoscópio, permitindo a ausculta pulmonar. Em 1830, o microscópio foi aperfeiçoado através da correção de distorções, o que comportou avanços na histologia, enquanto a microscopia avançada permitiu o desenvolvimento da citologia por Rudolf Virchow e da bacteriologia por Louis Pasteur e Robert Koch. Em 1847, Karl Ludwig introduziu o quimógrafo, aparelho fundamental para o acompanhamento de sinais vitais durante experimentos com seres vivos. Em 1850, Hermann von Helmholtz criou o oftalmoscópio e, em 1854, o oftalmômetro. Em 1860, Johann Czermak criou o laringoscópio, o primeiro aparelho a permitir a visualização interna do corpo sem uso do bisturi. Em 1868, August Wilhelm von Hoffmann descobriu o formol e passou a utilizá-lo como conservante em cadáveres da Anatomia. Em 1895, Wilhelm Roentgen apresentou à comunidade científica a primeira imagem em raios X da história. Em 1896, o fluoroscópio permitiu uma imagem interna do interior do corpo, possibilitando a visualização dos movimentos do coração e o funcionamento dos pulmões. No que tange à Anatomia, em 1910, o emprego de figuras de raios X permitiu a constatação de que as disposições dos órgãos alteram-se em função da posição do corpo.

No século XIV, um decreto oficial ordenou ao Colégio de Médicos e Cirurgiões de Veneza que efetuasse pelo menos uma dissecação pública por ano. As dissecações públicas anuais eram um evento social esperado tanto pela comunidade hipocrática quanto pelo público leigo. Realizavam-se em teatros anatômicos projetados segundo algumas especificações. A princípio, as dissecações eram realizadas no período do Carnaval, e costumavam obedecer a um ritual mais ou menos ordenado. Iniciando-se com uma missa dedicada ao morto, passava-se à realização da dissecação propriamente dita e, no final, havia um grande banquete no qual se reunia a elite médica. Rapidamente tornou-se um evento social da maior importância, um “ponto de encontro”, celebração de um tipo de divertimento mundano, no qual muitos dos participantes leigos se apresentavam trajando fantasias.

Se as lições de Anatomia, por um lado, foram ganhando cada vez mais legitimidade e adesão pública, por outro, geravam conflitos em virtude da origem dos cadáveres e de outras questões religiosas. A princípio deveriam ser utilizados corpos de indivíduos condenados por homicídio e executados por enforcamento (os mesmos corpos que eram destinados às dissecações dentro das universidades. No entanto, muitas vezes, a dissecação era parte da pena imposta ao criminoso, o que gerava reticência por parte do público. Esse fato conferia um caráter punitivo e exemplar para a sociedade, e nesse encaminhamento o anatomista ou cirurgião era apenas “mais um carrasco”.

O aumento do número de teatros anatômicos (inclusive particulares) e a ampliação do pleito por corpos requisitados pelas universidades fizeram com que a demanda por cadáveres aumentasse vertiginosamente em comparação ao rol de executados disponibilizados pelas autoridades, fazendo surgir o fenômeno “infame” dos roubos de cadáveres que marcaram os grandes centros europeus ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII. Na maioria das vezes, os furtos ocorriam em cemitérios da própria cidade. O problema da origem e obtenção dos corpos e, sobretudo, a doação, por parte das autoridades, dos corpos de suicidas, prostitutas e não reclamados dificultaram a instituição da Anatomia como disciplina científica independente e autônoma. Ela precisaria, antes, desvencilhar-se da performance pública, do caráter de espetáculo com o qual tinha sido investida.

As dissecações realizadas pelo físico italiano Giovanni Aldini (1762-1834) constituíam-se em verdadeiros shows, superlotados e aclamados pelo público, sobretudo nas ocasiões em que o anatomista adotou técnicas de galvanização. A estimulação dos corpos através de correntes elétricas comumente causava reações musculares involuntárias, de modo que as dissecações públicas foram palco para tentativas de “ressuscitação” momentânea. Entende-se,

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