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Transitoriedade da Vida: A Visão da Equipe de Saúde

Por:   •  11/4/2018  •  3.211 Palavras (13 Páginas)  •  263 Visualizações

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A organização do trabalho no ambiente hospitalar é marcada por divisão fragmentada de tarefas, rígida estrutura hierárquica para o cumprimento das rotinas, dimensionamento inadequado de pessoal, resultando em elevados índices de absenteísmo e afastamento por doenças, além de desencadeamento de sintomas relacionados a burnout e insatisfação no trabalho4. No ambiente hospitalar a atuação da equipe multiprofissional é essencial e indispensável para proporcionar o máximo de bem estar ao paciente em processo de transitoriedade, ajudando a vivenciar o processo da morte5.

O trabalho da enfermagem, em geral, já é desgastante, e se tratando de unidades críticas como um Pronto Socorro, existem fatores que favorecem o sofrimento e desgaste emocional, pois o ambiente é instável e agitado e as atividades são intensas, requerendo rápidas tomadas de decisão e constante reorganização do processo de trabalho6.

Tendo em vista a relevância do tema, este estudo foi instigado após a realização da disciplina de cuidados paliativos do curso de enfermagem, que despertou a curiosidade a respeito da finitude da vida, além da vivência de uma das pesquisadoras como técnica em enfermagem auxiliando para o estudo desta temática. Assim, têm-se a questão norteadora deste estudo: qual a compreensão da equipe de saúde a respeito da transitoriedade da vida[c]?

METODOLOGIA

A abordagem qualitativa direcionou a produção e análise dos dados. Optou-se pelo método exploratório-descritivo para construção de novas abordagens e descrição das características de uma determinada população7,8.

Os sujeitos do estudo foram 16 profissionais, incluindo médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e assistentes sociais que fazem parte da equipe de saúde da unidade de internação clínica Nossa Senhora de Fátima do Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP) e do Pronto Socorro de Pelotas (PSP), sendo entrevistados 2 profissionais de cada categoria. Destes, 15 profissionais aceitaram participar do estudo e 1 negou-se, pelo fato da entrevista ser gravada. Para garantir o anonimato, os participantes foram identificados através da inicial da categoria profissional em letra maiúscula e números cardinais consecutivos M1(Médico), E1(Enfermeiro), TEC1(Técnico Em Enfermagem), AS1(Assistência Social), e consequentemente M2, E2, TEC2 e AS2.

Os dados foram produzidos nos meses de Março e Abril de 2016, onde os profissionais responderam à perguntas semi-estruturadas. As entrevistas foram feitas nos devidos locais de trabalho dos entrevistados, onde o estudo foi apresentado e explicado. Após isso, os sujeitos do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e deu-se início ao questionário. As falas proferidas foram devidamente gravadas e transcritas, e a análise e interpretação dos dados serão realizadas a partir da revisão de literatura acerca do tema proposto, alicerçada na proposta denominada analise de conteúdo de Bardin (2011)9.

Os aspectos éticos e legais foram respeitados, sob a Lei nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e também o Código de Ética dos Profissionais da Enfermagem (2007) no seu capítulo III, artigos 89, 90 e 91, no referente a Deveres, e nos artigos 94 e 98, com respeito a Proibições. O projeto também foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Pelotas (CEP/UCPEL), mediante carta de solicitação[d].

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Entendimento dos profissionais da saúde acerca da transitoriedade da vida: Os diferentes olhares sobre a morte

Sabemos que a morte será inevitável em algum momento da nossa existência, e que não é uma questão simples a ser discutida, devido a nossa cultura ocidental, onde a morte é encarada com pavor e pela não aceitação. Aceitar a finitude da nossa existência, assim como das pessoas que amamos, pode se tornar uma difícil tarefa a ser encarada.

Acho que essa transição é bem difícil, mas a gente chega aqui no hospital com os pacientes que estão lutando muita para viver e a gente sabe que os profissionais fazem de tudo para que isso aconteça e pra mim é bastante difícil essa transição. (TEC1)

A morte é uma constante no ambiente de trabalho dos profissionais de saúde, entretanto, quando na presença de situações de morte, frequentemente percebe-se a fragilidade e o despreparado destes profissionais para atuar com qualidade junto aos pacientes que estão no processo de transitoriedade. É possível admitir que mesmo trabalhando em uma equipe multiprofissional, as crenças e atitudes pessoais diferem e afetam os fatores pessoais e éticos relacionados aos cuidados dos pacientes, em especial nos casos que necessitam tomar decisões sobre a vida e a morte10.

Entendo como o tempo que antecede o momento da morte, aquele período em que há a vivência da doença em andamento até o desfecho da morte. (M1)

[...] Eu acho que é uma parte meio fisiológica, assim. Eu não tenho um lado tão espiritual em relação a isso... Pra mim é mais objetivo. (M2)

[..]Como eu digo sempre para minha equipe, temos que ter dignidade para viver e para morrer tanto na sobre vida quanto no processo de morte, a atuação tem que ser digna sempre. (E1)

[...]Eu entendo que é algo transitório, que é passageiro... nós passamos por isso tanto na nossa vida pessoal quanto no ambiente de trabalho, principalmente no pronto socorro que lidamos diariamente, é uma realidade que faz parte da nossa vida né. (AS1)

Despreparo dos profissionais para lidar com a morte: Devido a falta de abordagem do tema durante a formação[e]

A equipe de saúde tem constante convivência com situações de dor e sofrimento vivenciadas pelos pacientes sob seus cuidados, o que contribui para o desenvolvimento de um misto de sentimentos no processo do cuidar, que pode ser agravado pela forma de organização do trabalho4.

Junto a isso, os profissionais de saúde tendem a não se defrontar com a realidade inevitável da morte, fato este que passa a ser fonte de sofrimento, constituindo um tema tabu, que procuram evitar, principalmente no ambiente de uma unidade de clínica médica11.

Na minha opinião seria necessário um serviço de acompanhamento psicológico para a equipe, e mais educação continuada no serviço. (E3)

Sabe-se que o medo da morte e do envelhecimento acompanha a vida do sujeito desde os tempos antigos. Negamos

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