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Compreender os cuidados paliativos frente ao paciente terminal

Por:   •  4/11/2018  •  2.192 Palavras (9 Páginas)  •  409 Visualizações

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e suas relações com o meio. (COLLIÈRE, 1989).

Os cuidados de reparação têm como finalidade limitar a doença, lutar contra ela e combater suas causas. Privilegia as causas orgânicas, isolando as causas psíquicas e socioeconômicas, fragmentando o homem, sem considerar o ser humano e o seu relacionamento com o meio em que vive. (COLLIÈRE, 1989).

A enfermagem, especialmente, vem sofrendo influências desse novo paradigma, que permite discutir o cuidado humano em suas múltiplas dimensões. Para os profissionais de enfermagem, as pessoas são seres totais, com família, cultura, passado e futuro, crenças e valores, que interferem nas experiências de saúde e doença. A enfermagem é uma ciência humana que não deve limitar-se à utilização do conhecimento das ciências naturais, pois lida com seres humanos, que possuem comportamentos peculiares construídos a partir de valores, princípios, padrões culturais e experiências que não podem ser objetivadas e nem tampouco considerados por partes. (WATSON, 1985)

A enfermagem tem a sua própria estrutura de referência, o seu tipo particular de conhecimento, que não se enquadra totalmente dentro do que se conhece por conhecimento científico. É frequente na enfermagem deparar-se com situações que requerem ações e decisões “para as quais não há respostas científicas”, muitas vezes provindas de insight e compreensão, como assinala Waldow (1998, p. 145).

O que caracteriza as teorias de enfermagem é o fato de que elas englobam outros padrões de conhecimento, além do empírico. A enfermagem envolve as ideias dos teóricos sobre a saúde e os aspectos que refletem crenças e valores; envolve a pessoa do profissional, as pessoas com quem interage e também os insights que resultam da arte de enfermagem. A enfermagem apropria-se de conhecimentos de outras áreas como a religião, a cultura imaterial, o folclore, artes e fazeres para lidar com a vida e a morte. (WALDOW, 1998, p. 57)

Cuidar significa tomar conta, um ato de vida, e representa uma variedade de atividades que visam manter e sustentar a vida. Esse cuidar é um ato individual, quando prestado a si mesmo, e um ato de reciprocidade quando prestado a outras pessoas que, temporária ou definitivamente, têm necessidade de recebê-lo para manter seu estado vital. (COLLIÈRE, 1989).

O paciente fora de possibilidades terapêuticas de cura, não somente em sua fase terminal, mas durante todo o percurso da doença, apresenta fragilidades e limitações bastante específicas de naturezas física, psicológica, social e espiritual. Trata-se daquele paciente, para o qual a ciência não possui recurso para deter o avanço fatal da doença, trazendo interrogações para a equipe de saúde, familiares e para o próprio indivíduo. (MENEZES, 2004).

Os profissionais da saúde mantêm certo distanciamento do processo da finitude nas instituições hospitalares. Sentem-se despreparados e muitos percebem a morte como um fracasso, como algo obscuro, que não deve acontecer. Nesse contexto, buscam lutar contra a morte, utilizando-se de todos os recursos, sem respeitar a dignidade do morrente. (SANTANA, 2008 et al).

Lidar com a morte do outro nos fez refletir sobre nossa própria morte. Percebemos o quanto isolamos a ideia da finitude e o quanto estamos despreparados para enfrentar a perda, mesmo sabendo que a morte é uma das poucas certezas que temos na vida. Somos frágeis diante da morte, mas como não podemos evitá-la, devemos, pelo menos, lutar para que nossos pacientes experimentem o processo do morrer de forma mais digna. (CARVALHO, 1998).

O dilema ético de como cuidar de quem se encontra na iminência da morte exige muito mais do que conhecimentos acerca da doença ou mesmo das características de um paciente em fase terminal. O agir ético nesse tipo de situação envolve uma espécie de consciência que só pode ser desenvolvida quando sentimos a essência, a individualidade do paciente. Como na ética, para cuidar não existem regras, apenas orientações que nem sempre podem ser generalizadas. (CARVALHO, 1998)

Através da realização dessa experiência, tivemos a oportunidade não só de conhecer a realidade de um paciente terminal, mas, sobretudo, de “sentir” a morte, de realmente entender o quanto é complexo o processo do morrer, tanto para o paciente, como para sua família. Percebemos a importância do trabalho interdisciplinar, sobretudo nessa situação, onde a assistência deve compreender cuidados relacionados tanto a sintomas físicos como psicológicos. Ao compartilharmos de conhecimentos de enfermagem, podemos afirmar, também, que abrimos nossos olhos para novos horizontes, pois passamos a enxergar que, algumas vezes, nosso conhecimento específico não é suficiente para satisfazer as necessidades de um paciente. (CARVALHO, 1998).

Se a ética reside no bem e na virtude, talvez tenhamos que voltar nossos olhares para um atendimento holístico e humanizado, acima de tudo; para o cuidado nem sempre atrelado à recompensa da cura. (CARVALHO, 1998)

Pode-se afirmar que a conceituação de paciente terminal não é algo simples de ser estabelecida, embora frequentemente nos deparemos com avaliações consensuais de diferentes profissionais. Talvez, a dificuldade maior esteja em objetivar esse momento, não em reconhecê-lo. No entanto, um paciente é considerado terminal quando se esgotam as possibilidades de resgate das condições de sua saúde, e a possibilidade de morte próxima parece inevitável e previsível. O paciente se torna “irrecuperável” e caminha para a morte, sem que se consiga reverter este caminhar. (GUTIERREZ, 2001).

Stefanini, Rosenthal e Simon classificam como pacientes terminais, aqueles acometidos por uma doença de difícil tratamento e por um conjunto de situações em que se esgotam as possibilidades terapêuticas de cura ou para prolongar a vida de forma digna, ou então quando há uma disfunção irreversível do sistema nervoso central. (STEFANINI, 1998, ROSENTHAL, 1998, SIMON, 1998).

Cuidar de pacientes terminais exige mais do que conhecimentos técnico-científicos; requer a compreensão a fundo de sua individualidade, a partir de um relacionamento interpessoal de valorização da pessoa humana, contribuindo, consequentemente, com o processo dos cuidados paliativos. (SANTANA, 2008 et al.).

Decidir sobre o curso da vida humana gera conflitos éticos, deixam lacunas para as quais ainda não se conseguiu encontrar respostas de forma, a saber, o momento certo de investir ou não em um paciente e qual seria o limite a ser respeitado. Quando se pensar em uma assistência respeitando os valores éticos, descobrindo o lado digno da vida, aceitando a morte não como um fracasso, esta poderá ser o caminho para enfrentar essas situações. (SANTANA,

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