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PREV-QUEDAS: ATIVIDADE FÍSICA E SOCIALIZAÇÃO

Por:   •  5/10/2018  •  2.986 Palavras (12 Páginas)  •  256 Visualizações

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Compreendemos que este cenário se estabelece devido a questões relacionadas às transformações ocorridas no uso do tempo livre de obrigações. Segundo análise de Alves Junior (2011) acerca da teoria psicossocial do desengajamento de Cumming, ocorre a redução inevitável das interações sociais devido ao envelhecimento e o rompimento com os papéis sociais e das funções anteriormente exercidas, consequência da aposentadoria. Dito isto, acreditamos que os participantes do programa Prev-Quedas vivenciam este processo. No contato diário com os idosos, é perceptível como eles consideram importante sua participação, que interpretamos como a substituição de suas atividades “obrigatórias” pelas atividades do projeto. Ou seja, com a aposentadoria e o afastamento dos filhos, os idosos encontram-se, muitas vezes, demasiadamente ociosos e sentindo-se imprestáveis, já que acreditam que não produzem mais - seja com seu trabalho formal ou informal.

Ainda que concordemos com Farinatti (2013) que a teoria Psicossocial do Desengajamento tenha se tornado obsoleta, não sendo mais considerada nas discussões atuais, acreditamos que o que descrevemos acima se caracteriza como um dado empírico em relação ao Prev-Quedas. Para aprofundar esta interpretação, utilizamos a teoria da Seletividade Socioemocinal (TSS) (FARINATTI, 2013 apud CARSTENSEN, 1995). Segundo esta teoria, apesar de ocorrer uma diminuição das relações sociais na velhice, ela não se caracteriza exclusivamente por um processo de deteriorização das funções no idoso, pelo contrário, a seletividade das escolhas das relações feitas a partir de certa idade é o que garante o bem-estar psicológico do velho. A respeito da seletividade na escolha das interações, é observado que a partir do momento em que a pessoa percebe o passar do tempo, ela começa a preferir se relacionar com os sujeitos que lhe tragam maiores benefícios em curto prazo, benefícios esses que, em sua maioria, são afetivos e emocionais. Assim,

Evidências da importância do forte significado emocional nas relações sociais para o idoso refletem-se na composição da sua rede social. Embora o número de interações sociais decline na velhice, os idosos mantém até o final da vida aquelas que lhes são significativas. [...] Esses achados confirmam que a seleção nos contatos sociais é um mecanismo importante para as funções adaptativas no domínio social. Ademais, há muita evidência de que a integração social é preditiva do aumento da capacidade de adaptação e do prolongamento da expectativa de vida. Contudo, os fatores que influenciam a seletividade social e sua adaptação na velhice ainda são inexplorados. Sabe-se que dois tipos de influência são relevantes no comportamento social de idosos: o contexto social em que a pessoa vive e as características de personalidade (FARINATTI, 2013, p. 160).

Logo, a partir da TSS podemos explicar a identificação emocional dos alunos pelo projeto, visto que os idosos encontram no Prev-Quedas relações sociais significativas, minimizando aquelas ocorridas ao entrar na velhice (afastamento das relações sociais no trabalho – aposentadoria - e o afastamento das relações sociais familiares – filhos que deixam a casa dos pais). Assim, conforme apontado anteriormente, a diferença de adesão entre os grupos (adultos x adultos idosos) justifica-se justamente na busca por relações de benefício em curto prazo, que são majoritariamente emocionais. É possível perceber que além do vínculo com os colegas, em forma de amizade, os idosos também criam laços estreitos com os professores, que, muitas vezes, se aproximam de uma relação familiar.

Além dos aspectos supracitados, acreditamos que o Prev-Quedas também atinja o duplo aspecto pedagógico do lazer: a educação pelo e para o lazer. Entendemos que

Educar pelo lazer significa aproveitar o potencial das atividades para trabalhar valores, condutas e comportamentos. [...] Isso deve ser feito não apenas pelo aproveitamento do que surge espontaneamente no decorrer das atividades, mas também pela programação de situações que despertem uma discussão que possa considerar um processo de tomada de posição (MELO; ALVES JUNIOR, 2012, p. 54. Grifo nosso).

A educação para o lazer consiste, resumidamente, na sensibilização dos sujeitos para o desfrute das opções de lazer oferecidas pela cidade; isto é, devemos considerar a formação educacional como potencializadora do acesso às alternativas de lazer. Logo, “a falta de um processo contínuo de educação acaba restringindo a vivência dos momentos de lazer” (MELO; ALVES JUNIOR, 2012, p. 56), limitando, muitas vezes, os indivíduos à cultura de massa[6]. Sendo assim, acreditamos que as atividades do nosso programa contribuam para educação dos alunos em relação ao exercício de seus direitos sociais, como, por exemplo, a saúde e o lazer (BRASIL, 1988).

A forma como a saúde é percebida varia de lugar para lugar e de indivíduo para indivíduo. Durante muito tempo associou-se a saúde exclusivamente ao âmbito da medicina clínica, porém, atualmente esta já é entendida de forma multifatorial, sendo influenciada por diversos condicionantes. Sendo assim, entende-se que a saúde vai muito além do tratamento das doenças ou sua ausência, considerando de suma importância o autocuidado, que prevê ações das mais diversas, como a prática de atividade física e o cuidado nutricional, que podem ser classificadas como ações voltadas simplesmente ao lazer, mas na verdade agregam fatores importantes como a qualidade de vida e o bem-estar físico e mental. (ALVES JUNIOR, 2006)

Ao desenvolver as atividades do Prev-Quedas estimulamos a ideia de “desmedicalização” da saúde, assim como o reconhecimento de sua natureza multifatorial. Dessa forma, buscamos trabalhar na perspectiva da Promoção da Saúde, na qual consideramos o espaço do programa como campo fértil e propício para uma educação para a saúde e sua promoção, já que para além da vivência e incentivo a prática de atividades físicas – hoje reconhecidas como benéficas à saúde – também é o espaço para o diálogo e reflexões sobre este tema.

Segundo a Carta de Ottawa – produto da I Conferência Internacional sobre promoção da saúde – a Promoção da Saúde se caracteriza como o

processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. [...] A saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver. Nesse sentido, a saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades

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