ESTUDO DA UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS AGROINDUSTRIAIS NO CULTIVO DO FUNGO
Por: Evandro.2016 • 15/9/2018 • 5.313 Palavras (22 Páginas) • 350 Visualizações
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Complementarmente, a gama de preocupações em torno dos corantes sintéticos, principalmente os do tipo azo, como o Alaranjado Remazol 3R, se deve ao potencial cancerígeno e mutagênico que estes compostos apresentam, além da resistência à tratamentos convencionais, decorrente de sua complexa estrutura química, necessária para garantir o nível de qualidade exigido pelo consumidor. 13, 14, 15, 20
A partir daí, espera-se que a integração entre cogumelos e resíduos sólidos agroindustriais implique em uma redução de diversos efeitos negativos sobre o ecossistema, de modo a proporcionar uma destinação correta dos rejeitos, além de minimizar os impactos ambientais causados pelo lançamento de efluentes têxteis não-tratados em corpos d’água.
- OBJETIVOS
Avaliar a utilização de diferentes resíduos sólidos agroindustriais como substrato no cultivo do fungo Pleurotus sajor-caju, de modo a definir um modelo viável de tratamento de efluentes têxteis contaminados com o corante Alaranjado Remazol 3R (AR3R), a partir do processo de biorremediação realizado pelo Pleurotus sajor-caju.
- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Em meio à crescente necessidade de confecção de artigos para vestuário, torna-se evidente a elevada importância da indústria têxtil à civilização humana. Entretanto, sabe-se também que este setor possui elevado potencial poluidor ao ambiente, devido principalmente às características dos corantes, classificados como compostos tóxicos e de difícil degradação pela natureza, com alto potencial mutagênico e carcinogênico.15, 16, 21, 22 A preocupação com a contaminação ambiental por corantes têxteis deve-se também à sua elevada demanda mundial, estimada em 750.000 a 800.000 toneladas por ano,19 na qual o Brasil é responsável pelo consumo de 26.500 toneladas por ano de corantes, os quais apresentam registros de mais de 8.000 tipos.19 Dentre estes, o corante sintético Alaranjado Remazol 3R (AR3R) merece destaque, pois pertence à família dos azocorantes, potencialmente carcinogênicos e mutagênicos, além de apresentarem elevada resistência à degradação natural e à tratamentos convencionais.14, 23
O corante têxtil, substância que confere coloração à fibra, requer características específicas e bem definidas, como resistência à luz, lavagem e fricção, agentes oxidantes, suor e ataque microbiano.13, 17 Para garantir este nível de qualidade, exigido pelo consumidor, este composto deve passar por um processo especializado de tingimento, no qual cerca de 20% dos corantes não consegue se fixar às fibras e é lançado na natureza, totalizando cerca de 1,2 toneladas por dia.13, 16, 17
Dentre os corantes utilizados nas indústrias, destacam-se os reativos, largamente aproveitados no processo de tingimento, devido à sua estabilidade química e capacidade de formar ligações covalentes com a fibra têxtil, o que representa boas características na fixação de cor ao tecido e consequente resistência a tratamentos convencionais, apesar de serem altamente solúveis em água.13, 14, 15, 22 Além da classificação quanto ao modo de fixação, os corantes podem ser subdivididos de acordo com sua estrutura química, como é o caso dos azocorantes, caracterizados por um ou mais ligamentos –N=N–, chamados azos, como grupo cromóforo, responsável pela garantia da cor.14 Um exemplar de corante sintético, reativo e do tipo azo é o Alaranjado Remazol 3R, cuja estrutura molecular é C20H17N3Na2O11S3, representada na Figura 1.13, 14, 15
[pic 1]
Figura 1 – Estrutura do corante têxtil Alaranjado Remazol AR3R (Fonte: Sigma-Aldrich24)
A preocupação que se tem sobre os azocorantes diz respeito à sua biotransformação, que pode proporcionar a formação de aminas, benzidinas e outros intermediários com potencialidade carcinogênica.13 Destes, pelo menos 3.000 azocorantes comerciais foram catalogados como cancerígenos e alguns não tem mais sido produzido por alguns países, devido à uma proibição fundamentada pela Codex Alimentarius, órgão ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS).25 Entretanto, países menos desenvolvidos como o Brasil, México, Índia e Argentina não cessaram completamente a produção de alguns corantes, por apresentarem grande potencialidade econômica.13
No âmbito da saúde humana, é importante lembrar que os corantes reativos foram sintetizados para reagir eficientemente com substâncias portadores de grupos amina e hidroxila, presentes em fibras naturais, porém presentes em todos os organismos vivos constituídos de proteínas, enzimas, entre outras.13 Adicionalmente, a exposição destes corantes à pele e/ou ao sistema respiratório também pode ser uma rota perigosa, pela qual se pode absorver estas substâncias e promover sensibilização da pele ou das vias respiratórias.13
Quando não tratados adequadamente, os efluentes oriundos do setor têxtil podem provocar alterações nos ciclos biológicos ao entrar em contato com corpos hídricos, diminuindo a transparência da água e impedindo a penetração da radiação solar, o que pode alterar o regime de solubilidade dos gases e reduzir a taxa fotossintética de organismos aquáticos, pondo em risco a estabilidade desses ecossistemas e a vida em seu entorno.1, 14, 15, 16, 17, 18
Neste contexto, deve-se realizar o tratamento de efluentes têxteis antes de lançá-los na natureza, o que tradicionalmente exige altos investimentos, pois se trata de um processo complexo.21, 22
A Resolução CONAMA nº 357/2005 estabelece que os efluentes lançados em corpos hídricos não devem alterar suas características iniciais, de modo que os valores máximos de mg Pt/L (miligramas de platina por litro) não poderão ultrapassar as definições estabelecidas para cada classe de corpo d’água.26 No entanto, não existe um parâmetro de cor específico para a classificação de efluentes contaminados com corantes, pois a Resolução determina apenas que estes compostos devem estar virtualmente ausentes, ou seja, não podem ser perceptíveis pela visão, olfato ou paladar.26
Em razão da falta de valores numéricos estabelecidos por resoluções brasileiras para corantes, que permitam classificar efluentes têxteis como próprios ou não para o lançamento em corpos d’água, utilizam-se, em alguns estudos sobre degradação de corantes, os parâmetros de lançamentos de efluentes têxteis na Alemanha (Tabela 1), fixados em termos do coeficiente DFZ – do alemão DurchsichtFarbZahl.23 Este índice é baseado no método da espectrofotometria descrito pela DIN EM ISO 7887/1994,
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