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Uma utopia ou realidade - Relações de conflito e amizade entre Brasil e Argentina na América do Sul

Por:   •  19/4/2018  •  3.639 Palavras (15 Páginas)  •  554 Visualizações

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II – BRASIL E ARGENTINA NO RIO DA PRATA

O Uruguai entra como estado tampão entre as duas potências sul-americanas sendo influenciado e disputado pelas duas, Boris Fausto assim destaca seu surgimento contando que “nasceu em 1828 após três anos de luta entre argentinos, brasileiros e partidários da independência. A Inglaterra viu com bons olhos a criação do país que deveria servir para estabilizar a área do estuário do Rio da Prata, onde os ingleses tinham interesses financeiros e comerciais. ”[5] Entretanto o país não cumpriu efetivamente a função desejada pela Inglaterra, pois “as facções dos blancos e dos colorados disputaram o poder a ferro e fogo”[6], e ainda o disputam até os dias de hoje, essas facções tornaram-se os principais partidos políticos do Uruguai respectivamente o partido nacional e o partido colorado, o primeiro integralizado por proprietários rurais, de origem conservadora e receosos das potências europeias e o segundo apoiado por comerciantes e as potencias imperialistas da Europa de origem liberal. O Brasil com uma política pragmática de tentativa de influência no Uruguai, ao ponto do Barão do Rio Branco declarar que “(...) a nova República Oriental do Uruguai não teve amigo mais dedicado, mais desinteressado, nem mais leal do que o Brasil.” Percebe-se nessa citação a prática de um realismo consistente, que segundo Carr, “envolve a aceitação de todo o processo histórico e exclui julgamentos morais”[7] Desta forma o Brasil tendo interesses econômicos dos gaúchos no fluxo da criação de gado do país, coloca-se ao lado dos colorados de atitude mais liberal, inclusive financiando através de uma contribuição mensal o partido. A tentativa de ascensão do Paraguai na figura de Solano Lopes, para alguns como uma utopia no sentido de tentar formar um Império na América do Sul enfrentando Uruguai e Brasil para conquistar a região do prata, para outros mais realistas a atitude mais plausível em um sistema internacional anárquico, já que no mundo hobbesiano a atitude mais racional possível quando não há um ente superior para governar e impedir que os indivíduos se matem é a “guerra de todos contra todos”, é o medo. O Paraguai esperava que a Argentina aderisse a guerra iniciada a seu favor, mas a Argentina vendo com receio a ascensão do Paraguai como um perigo a sua própria superioridade na região se manteve neutra no início, levando o Paraguai a declarar guerra à Argentina. Esse inimigo comum gerou o Tratado da Tríplice Aliança entre Uruguai, Brasil e Argentina, o que fez com que antigos rivais se unissem contra esse ameaça, nesse momento adotando uma política externa realista maquiavélica de se unir com aqueles de similar nível de poder para impedir a ascensão de uma potência que poderia sobrepujar ambos, o que se mostrou certo, considerando que o Paraguai tinha um exército modernizado, e estava melhor preparado militarmente.

III – DECLARAÇÃO DO IGUAÇU, AMIZADE E COOPERAÇÃO

Em 30 de novembro de 1985, o Brasil e Argentina, representados pelos presidentes José Sarney e Raúl Afonsín deram um passo definitivo para a construção da confiança entre esses países ao assinarem a Declaração de Iguaçu e celebrarem fundamentais acordos bilaterais que posteriormente se convergiriam para a criação do Mercosul com o acordo quadripartite. A declaração do Iguaçu tornou-se “o passo decisivo para que os países se afastassem definitivamente das sombras de rivalidade do passado e pusessem em marcha um irreversível processo rumo à independência, cujos bons frutos são evidentes em todos os campos.”[8]

No ponto de vista econômico o principal parceiro comercial da argentina é o Brasil tanto para exportações, que chega em 2008 à 13.260 (US$ milhões - fob) e 18,9% do total de exportações no ano, como para importações, que atinge no mesmo ano 17.977 (US$ milhões - cif) totalizando 31,3% das importações do país[9]. Essa relação de interdependência favorece a cooperação bilateral visto que apenas com o crescimento de um, o outro conseguirá ascender, impedindo que esses países comecem uma corrida armamentista e desenvolvam uma política beligerante utilizando mais o soft power no lugar do hard power.

O professor Adriano Freixo[10] diz que as “Relações futebolísticas são uma metáfora das relações internacionais entre Brasil e Argentina de admiração com rivalidade”, isso ocorre pois esses dois países tiveram sua formação de identidade nacional ligados ao esporte (futebol) e suas vitórias nos mundiais de futebol foram utilizadas em campanhas políticas dos presidentes, primeiramente por Vargas e Perón, que desde de 1932 recebem a seleção campeã, nessa mesma época o futebol é profissionalizado. Em “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”[11], Walter Benjamim, afirma que a mudança na forma de exposição pela técnica da reprodução é visível também na política, e que uma “crise da democracia pode ser interpretada como uma crise nas condições de exposição do político profissional” segundo Nietsche “Deus está morto”, nessa perspectiva de queda do poder da religião “emergem como símbolos de adoração o campeão, o astro e o ditador. ” Sendo o vencedor o jogador de futebol, também pode-se fazer uma analogia do político como o “ditador”, já que sendo o Brasil e a Argentina países de alta religiosidade no passado, a perda de um objeto de adoração deve ser substituída por outro, não é sem razão que nesses países os jogadores de futebol são considerados ídolos, e muitos representantes políticos são esportistas, como Peron e Collor, e ditadores populistas como Vargas.

III – ARGENTINA, BRASIL E O MERCOSUL

A relação de integração entre Brasil e a Argentina foi a origem do Mercado Comum do Sul, que passou de um acordo aduaneiro à um organismo internacional de integração regional, para Demétrio Magnoli “o principal eixo estratégico do Mercosul é a cooperação bilateral entre Brasil e Argentina”[12], não se limitando a áreas econômicas mas atuando em áreas sociais, políticas, culturais e estruturais dos países que fazem parte como os associados.

Essa integração fica clara no discurso de posse do ex-Ministro das Relações Exteriores do Brasil Antônio Patriota:

“compete-nos completar a transformação da América do Sul em um espaço de integração humana, física, econômica, onde o diálogo e a concertação política se encarregam de preservar a paz e a democracia. Onde os elos que vimos estabelecendo entre nossas classes políticas, nossos setores privados e nossas

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