Resenha Raízes sociais e ideológicas do lulismo
Por: SonSolimar • 17/12/2018 • 2.736 Palavras (11 Páginas) • 423 Visualizações
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O autor utiliza o modelo teórico do 18 Brumário de Luís Bonaparte onde essas classes acabam tendo a necessidade de ser organizada como “ator politico desde o alto”, pois essas classes ou “frações de classe” possuem dificuldades de se organizarem sozinhas. E tendo em vista que essas não conseguem se representar sozinhas, veem-se necessário que as representem. Surgindo essa representação de cima para baixo, sem uma auto-organização (barulhenta). E para que haja uma organização dessas “frações” de classe é preciso uma ação direta do Estado para que isso ocorra.
O autor se pergunta por que o subproletariado adere a Lula somente depois de 2002? Em resposta a essa pergunta, segundo ele, foram vários os fatores dentro de seu primeiro governo que influenciaram essa “mudança” por parte dos eleitores. O autor apresenta a explicação proposta por Coimbra, que de acordo com esse autor, esse segmento da sociedade e/ou essas “frações de classe” sentiu seu poder de consumo e produtos tanto como tradicionais, como novos aumentar (comida, roupa, eletrodoméstico, passagens aéreas etc.), influenciando positivamente na avaliação do governo por parte desses seguimentos.
Essa avaliação positiva, se deve em grande parte ao lançamento do programa Bolsa Família (PBF), que inicia uma gradual melhora na vida dos pobres. Segundo o autor entre 2003 e 2006 o Bolsa Família teve seu orçamento multiplicado por 13. E de acordo com algumas pesquisas o voto de Lula em 2006 tiveram uma certa influência do PBF, aumentando sua votação no Nordeste e no Norte onde o programa teve um investimento maior. Entre tanto o autor coloca que o papel do PBF não deve ser subestimado e nem ter seus efeitos exagerados, pois ele sozinho não seria suficiente para que Lula ganhasse as eleições.
Dentre os outros fatores que também influenciaram essa mudança está por exemplo o controle dos preços, que é o componente central para o aumento do poder de compra das camadas mais pobres. Principalmente o controle do preço dos alimentos (cesta básica) no Nordeste e no Norte, onde sua votação foi muito grande. Outro fator importante seria o aumento do salário mínimo, que aumentou 24% em seu primeiro mandato, o que consequentemente aumentou o poder de compra da população e impulsionou o comercio varejista.
O credito consignado também está entre as ações do governo que favoreceram a população de baixa renda expandindo o financiamento popular. Nesses empréstimos o banco faz o desconto direto na folha de pagamento, o que acabou diminuindo a inadimplência com bancos, favorecendo não somente a população de baixa renda, mas também aos banqueiros. O que gerou também a queda das taxas de juros.
Juntamente com o crédito consignado, existiram medidas como a diminuição da idade mínima de 67 para 65 anos, para receber o benefício da prestação continuada (BPC), que paga um salário mínimo para idosos ou portadores de necessidades especiais cujo a renda seja inferior a ¼ do salário mínimo. Criação e programas focalizados como o Luz para Todos, a construção de cisternas, regularização de propriedades quilombolas foram ações governamentais que favoreceram esses setores de baixíssima renda.
Todas essas ações em conjunto elaboradas pelo governo, resultaram na diminuição significativa da pobreza a partir de 2004, assim a economia voltou a crescer e o emprego aumentar, o que de acordo com o autor, foi chamado por Neri de “Real de Lula”. O autor coloca que enquanto as atenções eram voltadas ao escândalo do “mensalão”, o governo produziu em silencio o “Real do Lula” que beneficiava as camadas mais pobres e provocou a redução de 19% da população miserável.
Segundo o autor, o voto em Lula não significava qualquer tipo de opção ideológica, ao contrário, isso seria fruto de uma desideologização, tendo em vista que os eleitores, de acordo com Singer, não sabem se colocar ideologicamente.
O autor identifica também, uma dificuldade que o PT encontrou em acompanhar as trocas de base que foram promovidas por Lula, que teria deixado o seu eleitorado urbano e escolarizado, para dar foco em um eleitorado popular, ou seja, o apoio ao partido (PT) na câmara dos deputados continua sendo as áreas urbanas e industrializadas. Lula se situa a frente de uma fração de classe que antes era “Caudatória” dos partidos da ordem, a qual se iniciava uma outra orientação ideológica não posta anteriormente.
O “Lulismo” ao executar o programa de combate à desigualdade dentro da ordem, elaborou uma nova via ideológica com união de bandeiras distintas. Com isso Lula se distanciava do petismo e criava uma ponte ideológica com os mais pobres, como a esquerda encontrava dificuldade para avançar, lula em seu primeiro mandato encontrou outra forma de se aproximar da população pertencentes, como coloca o autor, ao “subproletariado”, se adaptando a ele e o ajudando a se constituir como ator político (tese presente no 18 Brumário). Esse processo resultou no realinhamento do eleitorado e o surgimento de uma nova força, chamado “Lulismo”. Segundo o autor, esse realinhamento acaba evidenciando um cero desinteresse de Lula pelos “formadores de opinião”, tirando assim, a centralidade e a relevância que se dava aos extratos médios.
A medida em que Lula passou a ser sustentado pela base subproletária, ele teve uma autonomia bonapartista, segundo Singer, sem nenhuma conotação militar. Com isso ele cria um ponto de fuga para a luta de classe que começou a ser arbitrada desde cima ao “sabor” da correlação de forças.
RENNÓ, L. e CABELLO, A. “As Bases do Lulismo. A volta do personalismo, realinhamento ideológico ou não alinhamento?” Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 25, nº 74, outubro/2010. [P. 1-15].
Lucio Remuzat Rennó Junior possui graduação (1995) e mestrado (1997) em Ciência Política pela Universidade de Brasília (1995) e doutorado em Ciência Política pela University of Pittsburgh (2004). Realizou pós-doutorado no “Latin American and Caribbean Studies Center da SUNY Stony Brook” de 2004 a 2005 e no Institute for Latin American Studies do German Institute for Global and Area Studies, em Hamburgo, Alemanha, de 2009 a 2010. Foi professor assistente do Center for Latin American Studies, University of Arizona em 2005/2006 e titular da Cátedra Sérgio Buarque de Holanda, de Estudos Brasileiros, no Instituto Latino-Americano da Freie Universität Berlin (10/2014 a 2/2015). É professor adjunto IV do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília e atualmente ocupa a Presidência da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). Tem experiência na
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