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Manifesto Contrassexual - Resenha

Por:   •  10/7/2018  •  4.911 Palavras (20 Páginas)  •  328 Visualizações

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Práticas de inversão contrassexual

A autora aborda o assunto da dildotectônica – palavra derivada da junção de dildo (sexo de plástico) com tékton (construtor, carpinteiro) - e a utilização do dildo. A dildotectônica localiza as deformações que o dildo confere ao sistema sexo/gênero. A autora afirma que fazer dela um ramo prioritário da contrassexualidade supõe considerar o corpo como superfície, terreno de deslocamento e de localização do dildo. Por causa das definições médicas e psicológicas que naturalizam o corpo e o sexo – que colocam o dildo como um simples fetiche – isso faz com que esta empresa seja, com frequência, difícil. Com uma perspectiva heterocêntrica, o termo dildotectônica pode ser atribuído a qualquer descrição das deformações e das anormalidades detectáveis, à primeira vista, em um único ou diversos corpos que fazem o uso de dildos. A dildotectônica se coloca como meio de identificação de tecnológicas de resistência e os momentos em que se rompem a cadeia de produção corpo-prazer-benefício-corpo tanto nas culturas sexuais hétero e queer. Beatriz Preciado também assegura que é possível generalizar a noção de “dildo” para reinterpretar a história da filosofia e da produção artística.

Em seguida, ela inicia uma dissertação sobre o ânus solar de Ron Athey - encontro de um dildo sobre sapatos com salto agulha, seguido de autopenetração anal. Em 1994, Ron Athey teve sua performance intitulada “Quatro cenas de uma vida dura” censurada em diversos centros artísticos, dando início a um debate de proporção internacional sobre os limites da performance e da body art. Em seu trabalho, Athey brinca com sangue infectado de HIV, escarifica sua pele e também a pele de outra pessoa, além de falar abertamente sobre toxicomania e de sua condição de homossexual soropositivo. Athey executa sua performance de “O ânus solar” em 1999 assim, vê-se um vídeo que mostra a realização de uma tatuagem ao redor do ânus de Athey. O mesmo se encontra de quatro com o orifício aberto em direção à câmera. Depois, o público se volta para o palco onde o performista se prepara para subir em seu trono, nu. Considerada por Preciado uma tortura-genital muito precisa, que consiste em injetar uma solução salina, Athey teve seu pênis e seus testículos deformados, parecendo mais com um tipo de útero externo (seu pênis está inchado, sem estar com uma ereção). A ejaculação é substituída pela ejaculação técnica da seringa. Preciado afirma que o sexo de Athey é contrassexual. Dois dildos foram acoplados em seus saltos na forma de esporas. Athey, então, prepara-se para a autodildagem. Sobe em seu trono, uma cadeira, hibrido de mesa de ginecologista, penteadeira e sling S&M. Primeiramente, introduz longas agulhas sobre a pele e, em seguida, fixa com os fios em sua coroa de espinhos.

O objetivo dessa prática é, segundo Beatriz, aprender a andar com dildos recorrendo a uma tecnologia sexual similar à da collage ou à da gramatologia. Esse exercício consiste em reunir uma prática de cross-dressing ou travestismo e uma prática de autopenetração com dildos.

Após explicar a prática do ânus solar de Athey, Beatriz Preciado explicita a segunda prática: masturbar um braço. No campo do sistema capitalista heterocentrado, o corpo funciona como uma prótese a serviço da reprodução sexual e da produção de prazer genital.

Por inversão-investidura, a autora se refere a uma operação de citação prostético-textual que inverte o eixo semântico do sistema heterocentrado. Inversão que se dá no sentido econômico do termo – que o coloca em andamento e o força a produzir na espera de certo contrabenefício – e investir no sentido político – que confere a autoridade de fazer algo, sendo carregado de força performativa. Essa operação desloca a força performativa do código heterocentrado para, finalmente, “inverter-investir”, provocando uma reviravolta na produção habitual dos efeitos da atividade sexual.

A descrição dessa prática inicialmente consiste na utilização de um objeto opcional – o violino. Uma pessoa segura um violino entre a base de sua mandíbula e seu ombro esquerdo. Sua mão esquerda se apoia nas cordas de forma precisa e sua mão direita agita o arco de maneira enérgica. O corpo dirige o olhar para seu braço esquerdo como se tentasse seguir uma partitura. Sem alterar sua posição, a pessoa deve retirar o violino. A cabeça, já sem a presença do objeto, repousa sobre o braço esquerdo. O lugar que antes era ocupado pelo violino, assim como a relação que o mesmo estabeleceu com o corpo, serão sistematicamente substituídos por um dildo. Essa transição consiste em reiterar o dildo sobre o antebraço esquerdo, desenhando sua forma com uma caneta hidrográfica vermelha. Essa prática foi inspirada pelos métodos cirúrgicos empregados na faloplastia para a fabricação de um pênis a partir da pele e dos músculos do braço. Na verdade, a medicina contemporânea trabalha o corpo como uma paisagem em aberto na qual um órgão pode ceder lugar a qualquer outro. A partir desta perspectiva, cada corpo contém potencialmente pelo menos quatro pênis – dois nos braços e dois nas pernas – e indeterminadas vaginas – enquanto orifícios, podem ser artificialmente abertas por todo o corpo. Em seguida, o olhar se volta ao plano horizontal do braço onde se encosta o dildo. A pessoa deve pegar o dildo-braço com sua mão direita e a deslizar de cima para baixo, intensificando a circulação do sangue até os dedos, como se estivesse se masturbando com o dildo-braço. A mão esquerda se abre e fecha de forma ritmada e o sangue circula de maneira cada vez mais intensa. A autora afirma que o efeito é musical – a melodia é produzida pelo som da pele sendo esfregada. O corpo respira seguindo o ritmo da fricção. Assim como na prática anteriormente citada, a duração total deve ser controlada por um cronômetro que indicará o final do prazer. A simulação do orgasmo será mantida por 10 segundos e, da mesma forma, a respiração ficará mais lenta e profunda e os braços e pescoço ficarão totalmente relaxados.

Por fim, a última prática citada por Beatriz Preciado é a prática denominada “Como fazer um dildo-cabeça gozar”. Diferentemente das duas práticas anteriores, que só envolviam um único indivíduo, esta prática envolve três.

A descrição dessa prática se inicia com o estabelecimento de um contrato contrassexual entre os três indivíduos, que tem como objetivo conhecer e aperfeiçoar a prática da citação gráfica do dildo sobre uma cabeça. A prática será realizada quantas vezes forem necessárias para que todos os envolvidos se

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