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Filosofia e Relações Internacionais

Por:   •  9/2/2018  •  2.015 Palavras (9 Páginas)  •  272 Visualizações

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O migrante, principalmente aquele que chega sob condição de refugiado, a partir de pedido de asilo, ou ilegalmente, tem em mente, justamente, a busca, sob qualquer circunstância, de uma condição para se estabelecer, recomeçar a vida e também prosperar. Desse modo, coloca-se dentro do imaginário inseguro do senso comum europeu, mais essa condição de disputa, que pode, em casos mais extremos, resultar em condições de plena xenofobia – que é, justamente, a aversão ao diferente, ao estrangeiro. Exemplo mais evidente são os casos generalizados de ataques de gregos à imigrantes recém-chegados da Síria, sendo que a Grécia é um dos países que apresentam as mais altas taxas de desemprego de todo o continente.

Nesse aspecto, vale lembrar que casos de aversão como esses estão bem inseridos na memória histórica europeia, de maneira que a xenofobia, além de ser um produto circunstancial, também é um produto histórico. Como exemplo, não é necessário ir longe para tais observações, uma vez que, em meio a Segunda Guerra Mundial, tanto os Fascismos, como o Nazismo, levaram ao extremo o sentimento antissemita e anti-eslavismo que rondava toda a Europa – não só a Alemanha e a Itália – nas décadas e séculos anteriores aos conflitos, por meio de seus massacres generalizados. O que evidência, por vez, uma outra faceta dessa aversão, que se relaciona a outros momentos históricos dos Estados europeus.

A xenofobia europeia atual também pode ser desencadeada a partir de um outro tipo de insegurança, que é a da miscigenação. Hitler pregava, em seu projeto, a raça ariana, da mesma maneira que os neocolonialistas (franceses, ingleses, alemães, italianos, etc.), nos séculos XVIII e XIX observavam na África e na Ásia, “seres” biológica e intelectualmente inferiores aos europeus, tendo como base as teorias racistas do darwinismo social, que englobavam a ideia da eugenia, como por exemplo, de Francis Galton. Nesse ponto, a justificativa já estava baseada na concepção de nações (dos diversos Estados unificados europeus), contudo, puxando mais ainda o passado, observa-se que a explicação europeia se baseava no “fardo do homem branco” em catequizar o mundo dos selvagens, que por vez, eram os povos da América, quando a Igreja Católica ainda tinha grande influência no cenário político - neste último caso, seguindo as grandes explorações e colonizações de portugueses e espanhóis. Assim, verifica-se que por séculos os europeus evitaram a “mistura” com os outros povos, os denegrindo e os depreciando, e sempre mantendo seus próprios valores culturais intactos, de modo que essa vinda dos imigrantes da África subsaariana, Síria, Kosovo, só fazem com que seja posta em insegurança essa enraizada ideia de que a cultura europeia é intocável – o que, por ora, provoca respostas por setores dessa sociedade bem violentas, seja pelo levante de grupos neofascistas, neonazistas, nos parlamentos de diversos países europeus, seja pelo preconceito institucionalizado, pouco perceptível, para com os imigrantes e os diferentes na sociedade europeia.

Nesse ponto, Foucault colabora com o seu pensamento em relação às relações de poder. Para ele não existe a concepção de um poder dominante e os seus subordinados, como na ideia de um rei e súdito, o Estado e os seus cidadãos, mas sim, de pequenas relações de poder, que se evidenciam em gestos, falas, modos. Por exemplo, quando alguém pede uma informação a outra, isso corresponde a uma relação de poder, tendo em vista que elas se evidenciam como uma dependente da outra, sendo que a uma tem a capacidade de alterar o caminho daquela outra. Nisso, o filósofo francês coloca que para uma estrutura grande como a de um Estado, ela está composta de diversas micro relações, no que se refere a um todo. Assim, no caso da Europa, se evidencia que o preconceito instituído na sociedade europeia desempenha uma breve função de fagulhas de relações de poder entre os “europeus de fato”, com os imigrantes, que, de maneira, a evidenciar, portanto, situações que correspondem ao comportamento do Estado, em sua relutância em acolher bem os imigrantes, de proteger a vida daqueles que, ilegalmente, buscam atravessar o Mediterrâneo, permitindo, assim, um inerte genocídio por meio das embarcações ilegais.

Segue-se, portanto, também o pensamento de Michel Serres, mas mais precisamente ao que ele não defendia, que era o do terceiro excluído. Esse é uma lógica aristotélica desenvolvida para âmbitos matemáticos, que, por seguinte, foi desempenhada para fins sociais e que se caracteriza pela sentença de que: “uma coisa é ou não é, e não há meio termo ou terceira possibilidade”. Ou seja, ele desempenha uma função simplista e dualista de colocar uma questão na divisão de dois potes, seguindo uma noção de pureza e impureza, certo e errado, bom e mau, que não caracterizam a realidade, como ela é. E como esse exercício de sentido é aplicado na realidade, por fins da sociedade, como já foi dito, observa-se que, por ora, ele é a raiz de pensamentos hierárquicos, como por exemplo a de uma observação cultural superior – como a europeia – em relação às outras do mundo (como a Europa, por séculos acreditou). Assim, “noções de alta complexidade relacional, como a mestiçagem cultural” são pouco assimiladas pelos europeus, de modo que sua recusa e insegurança ao que vem de fora é facilmente entendida. O Terceiro Instruído, de Serres, demorará a se vingar no espaço europeu, e o terceiro excluído, ou o “excluidor” ainda se mantém nela – os xenófobos -: “eu o chamo de Terceiro Instruído (...) apaixonado por gestos diferentes e paisagens diversas, (...) arcaico e contemporâneo, tradicional e futurista, humanista e cientista, (...) monge e vagabundo, só e percorrendo as estradas, errante, mas estável, enfim, sobretudo ardente de amor para com a Terra e a humanidade”.

E seguindo o aspecto de Serres no Terceiro Incluído, observa-se no tímido otimismo do filósofo alemão Peter Sloterdijk, o desmoronamento de toda a estrutura que garantiu, por meio das micro relações de poder individuais, de Foucault, pelo pensamento de terceiro excluído das colonizações, neocolonizações, genocídios e do comportamento xenófobo de hoje, a condição de aplicá-los, devidamente, que é justamente o Estado. Para todas essas situações evidenciadas a partir dos pensadores franceses, o fim do individualismo europeu, a partir do senso comum do pensamento de cada indivíduo, se dava na estrutura maior que é a do Estado-nacional (seja o português, espanhol, inglês, francês, italiano e alemão). Nisso, Sloterdijk coloca a sua lamentação no fato de que “o mito de Babel apresenta a expulsão da humanidade de um paraíso

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