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Justiça – o que é fazer a coisa certa

Por:   •  18/7/2018  •  1.392 Palavras (6 Páginas)  •  285 Visualizações

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Ademais, a moral kantiana só é considerada verdadeira quando a ação é a mesma sob toda e qualquer circunstância, não dependendo do benefício para aquele que a faz. Quando tratamos de moral em Kant, esta deve ser sempre associada a outra palavra: motivo. O valor moral de uma ação não consiste em suas consequências, mas na intenção com a qual aquela ação é realizada. O que importa é o motivo, que deve ser de uma determinada natureza; é fazer a coisa certa pois sabemos que é a coisa certa, e não por algum fator externo. Há, dessa forma, o constante contraste dever versus inclinação e autonomia versus heteronomia.

John Rawls, filósofo político americano, trata dos limites morais no livro de Sandel. Sua teoria tem como fundamento o liberalismo. No entanto, contesta a desigualdade social, pois o filósofo acredita que a própria coerência do liberalismo exigia igualdade de oportunidades entre os indivíduos e, consequentemente, a igualdade máxima de todos perante a lei. Sua teoria principal diz respeito à própria igualdade: o chamado “véu da ignorância”. Rawls questiona: “se todos fossemos iguais e não soubéssemos nada a respeito de nós mesmos – condição social, personalidade, talento, família – quais decisões tomaríamos? ” Para o autor, o utilitarismo parece inviável, visto que não se quer correr o risco de ser uma minoria desprivilegiada. Nem mesmo a libertária, pois, se não sei quanto dinheiro tenho, não quero correr o risco de ficar com pouco enquanto outros tem muito. Assim, Rawls escreve que tudo que temos não é completamente mérito próprio. As condições financeiras, os valores familiares e o próprio talento pessoal, todos esses fatores influenciam para uma disparidade injusta para competição no mercado.

Nos últimos capítulos, Sandel retorna a estudar Aristóteles, dessa vez de forma mais profunda. O filósofo considera que apenas a justiça, entre todas as virtudes, é o “bem de um outro”, pelo fato de se relacionar com o próximo, fazendo o que é vantajoso a um outro, quer se trate de um governante, ou de um membro da comunidade. O pior dos homens 21 é aquele que exerce a sua deficiência moral tanto em relação a si mesmo, quanto em relação aos seus amigos; e o melhor dos homens não é o que exerce a sua virtude em relação a si.

Ademais, questões como desculpas e indenizações, pecados dos nossos predecessores, individualismo moral, neutralidade do governo, justiça e liberdade e reinvindicações comunitárias também são debatidos. Sandel, a partir de sua obra, cita inúmeros exemplos e coloca o leitor em situações de questionamento pessoal. “O que é a coisa certa a se fazer? ”. O autor é motivado por bons ideais de justiça e igualdade e exalta os valores de liberdade e dignidade humanas. Só que, infelizmente, boas intenções apenas não bastam para fazer a coisa certa, mas é preciso ir até o fim em todos os pressupostos teóricos sem os quais as nossas boas intenções morais não passariam de desejos utópicos impossíveis de cumprir.

A conclusão do livro se dá , portanto, com a defesa de que um comprometimento público maior com nossas divergências morais proporcionaria uma base para um respeito mútuo mais forte; dessa forma, deveríamos cada vez mais nos empenharmos com as questões morais – debate-las, e, sobretudo, aprender com elas. Pois, para Sandel, uma política de engajamento moral não é apenas mais um ideal inspirador; é por ela que se promove a justiça.

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