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HISTORICIDADE DO PENSAMENTO POLÍTICO

Por:   •  2/7/2018  •  7.069 Palavras (29 Páginas)  •  315 Visualizações

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VIRTÚ X FORTUNA

Para pensar a Virtú e a fortuna mais uma vez Maquiavel recorre aos ensinamentos dos historiadores clássicos, buscando contrapô-los aos preceitos dominantes na Itália seiscentista. Para os antigos, a Fortuna não era uma força maligna inexorável. Ao contrário, sua imagem era a de uma deusa boa, uma aliada potencial, cuja simpatia era importante atrair. Esta deusa possuía os bens que todos os homens desejavam: a honra, a riqueza, a glória, o poder. Mas como fazer para que a deusa Fortuna nos favorecesse e não a outros, perguntavam-se os homens da antiguidade clássica? Era imprescindível seduzi-Ia, respondiam. Como se tratava de uma deusa que era também mulher, para atrair suas graças era necessário mostrar-se vir, um homem de verdadeira virilidade, de inquestionável coragem. Assim, o homem que possuísse Virtú no mais alto grau seria beneficiado com os presentes da cornucópia da Fortuna. Esta visão foi inteiramente derrotada com o triunfo do cristianismo. A boa deusa, disposta a ser seduzida, foi substituída por um "poder cego", inabalável, fechado a qualquer influência, que distribui seus bens de forma indiscriminada. A Fortuna não tem mais como símbolo a cornucópia, mas a roda do tempo, que gira indefinidamente sem que se possa descobrir o seu movimento. Nessa visão, os bens valorizados no período clássico nada são. O poder, a honra, a riqueza ou a glória não significam felicidade.

Assim, Maquiavel monta um cenário no qual a liberdade do homem é capaz de amortecer o suposto poder incontrastável da Fortuna. Ou melhor dizendo, ao se indagar sobre a possibilidade de se fazer uma aliança com a Fortuna, esta não é mais uma força impiedosa, mas uma deusa boa, tal como era simbolizada pelos antigos. Ela é mulher, deseja ser seduzida e está sempre pronta a entregar-se aos homens bravos, corajosos, aqueles que demonstram ter Virtú. Não cabe nesta imagem a ideia da virtude cristã que prega uma bondade angelical alcançada pela libertação das tentações terrenas, sempre à espera de recompensas no céu. Ao contrário, o poder, a honra e a glória, típicas tentações mundanas, são bens perseguidos e valorizados. O homem de Virtú pode consegui-los e por eles luta.

Maquiavel sublinha que o poder se funda na força, mas é necessário Virtú para se manter no poder; mais nos domínios recém adquiridos do que naqueles há longo tempo acostumados ao governo de um príncipe e sua família. No entanto, nem mesmo o principado hereditário é seguro. Sua advertência - não há garantias de que o domínio permaneça - vale para todas as formas de organização do poder.

O homem de Virtú deve atrair os favores da cornucópia, conseguindo, assim, a fama, a honra e a glória para si e a segurança para seus governados. É desta perspectiva que ganha um novo sentido a discussão sobre as qualidades do príncipe. Este deveria ser bom, honesto, liberal, cumpridor de suas promessas, conforme rezam os mandamentos da virtude cristã? Maquiavel é incisivo: há vícios que são virtudes. Não tema, pois o príncipe que deseje se manter no poder "incorrer no opróbrio dos defeitos mencionados, se tal for indispensável para salvar o Estado". (O príncipe, cap. XV, 1991).

O que é ser maquiavélico?

“espelhos de príncipes”, a estrutura é caracterizada por recomendações morais direcionadas aos príncipes ou aos “primogênitos” de reis. Passa, desse modo, a englobar toda uma legião de leitores do universo principesco europeu. A ideia veiculada nos espelhos de príncipes, segundo a qual ao seguir as instruções contidas nos manuais de governança, o príncipe se tornaria perfeito.

Maquiavel percebeu que o sangue, ou seja, a hereditariedade, não bastaria para formar o bom príncipe. Ele poderia até legitimar-se, mas necessitaria de ações valorosas que caracterizassem o seu valor individual. No caso específico de Maquiavel, percebe-se que houve significativas alterações na concepção medieval que se tinha do gênero. As características passaram a não mais fazer alusões aos escritos anteriores, em geral cristãos.

THOMAS HOBBES (1588- 1679): Hobbes, convivendo dentro da nobreza e, principalmente, ao lado do rei (lembrando que ele não era um nobre, mas dependia deles), via as disputas pelo poder político como desarticuladoras do bom andamento do governo.

O CONTRATO HOBBESIANO

A chave para entender no pensamento de Thomas Hobbes é o que ele diz do estado de natureza. Sabemos que Hobbes é um contratualista, quer dizer, um daqueles filósofos que, entre o século XVI e o XVIII, afirmaram que a origem do Estado e/ou da sociedade está num contrato: os homens viveriam, naturalmente, sem poder e sem organização – que somente surgiriam depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo as regras de convívio social e de subordinação política. No século XIX e mesmo no século XX, quando se firmaram concepções modernas da história e da ciência social, os contratualistas foram muito contestados.

O homem natural de Hobbes não é um selvagem, é o mesmo homem que vive em sociedade. Ou seja, a natureza do homem não muda conforme o tempo, a história ou a vida social. Pois para este autor assim como outros anteriores ao século XVIII, não existe a história transformando os homens.

Estamos carregados de preconceitos, acha Hobbes, que vem basicamente Aristóteles e da filosofia escolástica medieval, de acordo com eles o mito de que o homem é um ser sociável por natureza nos impede de identificar o conflito e de contê-lo. Assim, a política só sera uma ciência se soubermos como o homem é de fato, e não na ilusão; e só com a ciência política será possível construirmos Estados que se sustentem em vez de tornarem permanente a guerra civil.

Dessa perspectiva sem ilusões, Hobbes (1988) deduz que no estado de natureza todo homem tem direito a tudo: o direito de natureza, a que os autores geralmente chamam de jus naturale, é a liberdade que cada homem possui de usar seu próprio poder, da maneira que quiser, para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua vida; e consequentemente de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim.

Para Hobbes, o homem não almeja tanto os bens, mas a honra. Entre as causas da violência, uma das principais é busca pela glória, a honra é o valor atribuído a alguém em função das aparências externas. O homem hobbesiano, não mantem seu maior interesse em produzir riquezas, mas o mais importante para ele é ter sinais de honra, entre os quais incluem-se

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