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Antropologia - Levi Strauss

Por:   •  23/4/2018  •  2.209 Palavras (9 Páginas)  •  283 Visualizações

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Estruturalismo, marxismo e freudismo

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Totem , s�mbolo cl�nico

Ao avaliar as estruturas profundas, subjacentes, que se ocultam por detr�s dos fen�menos, escapando do primeiro olhar humano, o estruturalismo aproxima-se das vis�es de Marx (a infra-estrutura econ�mica)e Freud (o poder do inconsciente). Ambos, como se sabe, entendiam os fen�menos sociais ou comportamentais como obrigatoriamente condicionados por for�as impessoais (o Capitalismo, o Superego), deslocando, desde ent�o, o problema do estudo da consci�ncia ou das escolhas individuais para um quadro bem mais amplo, dos macro-sistemas. Ao contr�rio da ci�ncia de inclina��o liberal, para as correntes citadas acima, o indiv�duo pouco contava. Tal como o marxismo e o freudismo, o estruturalismo diminui a import�ncia do que � singular, subjetivo, individual, retratando o ser, a pessoa humana, como resultante de uma constru��o, a conseq��ncia de sistemas impessoais (no marxismo o indiv�duo � marionete do sistema

capitalista, na psican�lise, se bem que amparado no ego, ele � regido pelos impulsos do inconsciente, e na antropologia estrutural pelas rela��es de parentesco determinadas pelo totemismo) .

Os indiv�duos, por conseguinte, nem produzem nem controlam os c�digos e as conven��es que regem e envolvem a exist�ncia social deles, sua vida mental ou experi�ncia ling��stica (� o que Marx quis dizer quando afirmou que � os homens fazem a hist�ria, mas n�o est�o conscientes disso�). Em conseq��ncia desse descaso do estruturalismo pela import�ncia da pessoa, ou do assunto, por ter feito o homem desaparecer na complexa teia da organiza��o social em que nasce e a que pertence, foi considerado pelos seus cr�ticos como um "anti-humanismo.

PIERRE CLASTRES

RESUMO

Clastres promove uma "dessubstancialização" do Estado, que não é "o Eliseu, a Casa Branca, o Kremlin", mas um "acionamento efetivo da relação de poder". Não há por que acreditar, então, que ele tenha, num pudor durkheimiano, reificado a sociedade. Ainda que não recorra ao conceito, parece-nos que existe já socialidade em Clastres: a socialidade contra o Estado, portanto. Ao explorar, nas três partes deste estudo, a maneira como Clastres encara a "sociedade", o "Estado" e o "contra", acreditamos que, com o auxílio de sua etnografia, encontramos indicações de como enfrentar alguns dos impasses da antropologia; como o de abandonar o individualismo metodológico sem cair num holismo transcendental e vice-versa; o de construir modelos de intencionalidade sem sujeitos; o de pensar a relação social sem, por esta démarche, implicar necessariamente a existência da "sociedade"; e, finalmente, o de mostrar como a "objetividade" da socialidade pode operar por meio da "subjetividade" das pessoas-em-interação.

Durkheim contribuiu para certa canonização de uma forma-Estado de pensar em sociologia. Deleuze e Guattari recordam que, no Timeu, Platão opôs dois modelos de ciência um do Idêntico e do Uniforme, outro do Devir apenas para, muito ligeiramente, descartar-se do segundo (1980, vol. 5, p. 36). O primeiro modelo, legal e legalista, põe as constantes em evidência, raciocina por teoremas e axiomas e pretende subtrair as operações das condições da intuição, a fim de convertê-las em "conceitos" e "categorias": trata-se da ciência régia, forma-Estado de pensar. Contudo, haverá sempre "um palestino, […] um basco e um corso" (idem, vol. 3, p. 94) a desafiar a segurança assim adquirida, e o segundo modelo operará antes com variáveis do que com constantes, raciocinará por problemas e, ao invés de ocupar-se do estável, do eterno e do idêntico, optará pelos devires e heterogeneidades e, às essências, preferirá acontecimentos, acidentes e transmutações. Os "binarismos acabados" dom e mercadoria; status e contrato; Gemeinschaft e Gesellschaft; racionalidade afetiva e racionalidade instrumental; solidariedade mecânica e solidariedade orgânica; indivíduo e sociedade –, verdadeiros pontos de parada, tão característicos da ciência de Estado, terminam, nesse segundo caso, descartados em nome de uma lógica dos fluxos, que passa entre os pontos, intermezzos em contínuo movimento. Contrariamente a isto, porém, foi o privilégio concedido por Durkheim às grandes representações coletivas, binárias, ressonantes e sobrecodificadas que fizram escola (idem, vol. 3, p. 98).

Em A sociologia francesa, Lévi-Strauss demonstra como todo o sistema durkheimiano pode ser remetido ao par indivíduo/sociedade (1947, p. 527 et passim). Estorvado por antinomias de uma ponta a outra – o finalismo da consciência versus a cegueira da história; a sociologia versus a psicologia; o sentido lógico das "origens" e das "formas elementares" versus o genealógico; as regras morais versus os apetites sensuais; os conceitos versusas sensações; o sagrado versus o profano (Lukes, 1973, p. 16 et passim) –, o edifício durkheimiano procura vencer as inevitáveis ambigüidades daí decorrentes por meio da determinação de níveis intermediários na realidade coletiva (Lévi-Strauss, 1947, p. 527). Recusa, veementemente, entretanto, adotar atitude semelhante no plano individual. Será precisamente a delimitação de tais níveis intermediários – como o do pensamento inconsciente –, todavia, que, na opinião de Lévi-Strauss, facultará a transposição da aparente oposição indivíduo/sociedade. Negando-se a encarar a questão de frente, Durkheim perseverará na ambivalência do par, que perpassará toda a sua construção teórica.

A distinção indivíduo/sociedade constituía, na realidade, instrumental especialmente oportuno na empreitada de Durkheim de definição de domínio autônomo para a sociologia. Buscava-se tal independência particularmente diante da psicologia e da filosofia. Operando uma série de substituições epistemologicamente inócuas (e plenas de conseqüências nos planos ontológico e político) (Vargas, 2000, p. 140), Durkheim procurou livrar seus raciocínios de noções metafísicas até então em voga – como Deus ou os a priori kantianos –, recorrendo a conceitos que lhe pareciam revestidos de maior cientificidade: as categorias da lógica e as idéias de Deus e totalidade passarão a ter, então, matrizes extralógicas ou, mais propriamente, sociológicas. É a sociedade – argumenta – que se encontra na raiz dos sistemas classificatórios,

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