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Petrobras: do primeiro poço à autossuficiência de petróleo no Brasil

Por:   •  25/9/2018  •  5.915 Palavras (24 Páginas)  •  309 Visualizações

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4. Braspetro e o início da internacionalização da Petrobras

Dois eventos de grande relevância acontecem na década de 1960 e que expõem a Petrobras aos mercados internacionais. Primeiro, após muitas frustrações na busca de petróleo em solo firme, a empresa começa a fazer perfurações no mar em Sergipe e no Pará. Isto exigiu a importação de equipamentos e a contratação de empresas estrangerias com know-how de exploração marítima. Em seguida, em 1963, o governo federal atribui à Petrobras o monopólio da importação do petróleo. Isto leva a empresa a operar internacionalmente com o comércio do óleo, construindo maior conhecimento dos mercados globais. Na década de 1970, o Brasil já vivia o período do “milagre econômico,” com expansão das atividades industriais e altas taxas de crescimento econômico. Isto, obviamente, exigia mais da indústria petrolífera. O crescimento da demanda por petróleo incentivou ainda mais a expansão da Petrobras, o que inclui a busca por óleo em outros países. Para lidar com o aumento significativo das operações internacionais, foi criada em 1972 a Petrobras Internacional S.A. – Braspetro. A isto sucedeu-se o 12 primeiro grande choque do petróleo, quando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) reduziu drasticamente a oferta do produto. A resposta brasileira ao choque se deu em várias frentes. Uma delas foi tentar expandir a oferta interna do produto através da quebra do monopólio de exploração e a assinatura de contratos de risco com empresas estrangeiras, sozinhas ou em parceria com a Petrobras. Outra foi a produção de um combustível alternativo, o álcool. Outra ainda foi buscar petróleo em campos internacionais através da Petrobras. Conforme mencionado acima, a literatura sugere que um dos motivos que levam as empresas a se internacionalizar é a busca por recursos naturais (Dunning, 1988). Naquele mesmo ano de 1972, através de joint ventures com outras empresas, tiveram início as pesquisas de prospecção na Colômbia, Iraque e Madagascar. Neste último caso, houve associação com a norte-americana Chevron. No ano seguinte, as explorações estenderam-se ao Egito e Irã, com a participação da também norteamericana Mobil Oil. Na segunda metade da década de 1980 a Petrobras procurou reduzir despesas com suprimento do país. Neste sentido, como afirma Moura (2003: 198) a empresa intensificou relações comerciais com Iraque, Irã, China, Nigéria, Angola, Argélia, Venezuela e Equador, que contribuíram para a redução de 43,6% nos gastos com compras no exterior em 1986, comparativos ao ano anterior. Quanto às exportações de derivados (sobretudo para os EUA) evoluíram de US$ 673 milhões em 1985 para US$ 923 milhões em 1989, sendo que a gasolina representava 56,3% desta receita. No que se refere aos trabalhos de exploração e produção, a Petrobras procurou instalar-se nos diferentes continentes. Na Ásia, instalou-se no Iêmen do Sul e na China; na África, fixou-se na Argélia e em Angola; na América do Norte buscou as reservas do Golfo do México; na América do Sul iniciou atividades na Colômbia em 1989 e assinou contrato de exploração e produção offshore na Argentina. Na Europa Ocidental buscou as reservas do mar da Noruega (Moura, 2003: 199). Um aspecto decisivo para impulsionar a atuação internacional da empresa foi o sucesso de sua pesquisa em tecnologias de exploração e extração de petróleo em águas profundas (Carvalho & Goldstein, 2008). A partir de meados da década de 1970 o Cenpes já havia feito boa parte do catching-up tecnológico com relação às empresas internacionais mais avançadas. Os frutos desse esforço, com o fundamental suporte do Procap, foram notáveis ao longo da década de 1980 ao permitir a expansão da produção 13 em águas profundas. O reconhecimento externo deste esforço veio através de prêmios conquistados, como em 1992 quando recebeu pela primeira vez o Distinguished Achievement da Offshore Technology Conference, que voltaria a ganhar em 2001. Mas foi ao longo da década de 1990 que a Petrobras intensificou ainda mais seus esforços no desafio de desenvolver tecnologia para produção em águas ultra-profundas. Ao fim dos anos 1980 o desafio era explorar petróleo a 1000 metros de profundidade; o desafio foi ampliado nos anos 1990, e com o desenrolar do Procap 2000 a Petrobras estabeleceu o recorde de exploração a 1.853 metros de profundidade em 1999 no campo de Roncador (RJ). Feito isto, o Cenpes se lançou a criar tecnologia para viabilizar a exploração do petróleo em águas de até 3000 metros de profundidade através do Procap 3000 (Petrobras, 2009b). A tecnologia criada e empregada pela empresa, com parcerias nacionais e internacionais, foi determinante para que ela passasse de importadora para exportadora de produtos e projetos de grande intensidade tecnológica.8 5. Atuação da Petrobras Internacional no início do novo milênio e perspectivas De acordo com a Petrobras (2007b), sua atuação no exterior abrange toda a cadeia de operações da indústria de petróleo e energia, ou seja, desde a exploração, produção, transporte, refino e processamento de óleo e gás natural, à produção de produtos petroquímicos, distribuição e comercialização de derivados, e até a geração, distribuição e transmissão de energia elétrica. Toda esta atividade está sob responsabilidade da Área Internacional, uma das diretorias da área de negócios da empresa, criada em 2000. Ela absorveu parte das atividades da Braspetro, que foi completamente absorvida pela Petrobras em 2002 (Petrobras, 2007b). As operações internacionais da empresa devem absorver 15% do total de seus investimentos até 2015, dos quais 80% devem concentrar-se em exploração e prospecção (Petrobras, 2004). Em 2007 os ativos, operações e negócios da Área Internacional se estendiam a 26 países de três continentes. Eram seis Unidades de Negócio atuando como empresas na Argentina, Angola, Bolívia, Colômbia, Estados Unidos e Nigéria. Além disso, somamse atividades em outros 20 países: Líbia, Senegal, Tanzânia, Moçambique, Chile, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela, China, Cingapura, Japão, Índia, Reino Unido, Irã, Paquistão, Portugal e Turquia. 8 Para mais detalhes da história dos desenvolvimentos tecnológicos da Petrobras, ver Ortiz Neto (2006). 14 O início dos investimentos diretos da Petrobras no exterior se deu nas Américas, sendo depois expandido para Ásia e África. No que segue, tentamos sistematizar e alinhavar a parte central desta trajetória. 5.1 Atuação da Petrobras Internacional nas Américas A Colômbia foi onde a Petrobras iniciou sua atuação externa. Isto se deu em 1972 através da Braspetro, que comprou concessões de exploração da empresa Tennecol (Petrobras, 2007b). Em

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