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A CRISE NACIONAL DO POPULISMO

Por:   •  5/1/2018  •  3.251 Palavras (14 Páginas)  •  281 Visualizações

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Paralelamente, durante o primeiro semestre de 1963 outro grande problema polarizava a opinião pública: a reforma agrária. Dentro dessa perspectiva, Goulart apresentou em março às lideranças políticas, com vistas a negociação, um anteprojeto de reforma agrária onde era prevista a desapropriação de terras com títulos da dívida pública. Isso ficou evidenciado na votação da emenda Bocaiúva, que foi rejeitada.

Esta derrota parlamentar se converteu em grave revés político, marcando, tanto para a oposição de direita quanto para os radicais de esquerda, o esgotamento de um reformismo constitucional e dos limites da histórica aliança entre o PSD e PTB, pelo menos no que se referia à questão agrária.

Nesse contexto, os grupos de esquerda radical deram início a uma campanha de pressão nacional contra o Congresso e a favor das reformas de base. Com o fracasso do Plano Trienal e o esgotamento do projeto de reforma agrária constitucional, Jango perdeu importante terreno político.

O último ministério do governo Goulart

A organização do novo ministério demonstrou mais uma vez as intenções conciliatórias de Goulart, que tentou renovar a histórica aliança PTB-PSD, base de sua política populista, atingida nos últimos tempos por sucessivos reveses.

A escolha de Abelardo Jurema para a justiça se fundamentou nas articulações processadas no Congresso em busca de um denominador comum que viabilizasse novos entendimentos para a aprovação das reformas de base, principalmente a agrária. Na pasta da Fazenda, o nome de Carvalho Pinto representava a tentativa do presidente de conquistar o apoio de setores empresariais e conservadores.

A notória falência do Plano Trienal e a intransigente posição norte-americana face à crise econômica reduziam enormemente as margens de manobra do governo brasileiro.

A dívida externa ascendia a três bilhões de dólares, sendo que, somente de juros, o Brasil deveria pagar ao estrangeiro aproximadamente 150 milhões de dólares por ano, perto de 15% da receita cambial em moeda conversível. Acrescia que metade dessa dívida estava por vencer no triênio de 1963-1965, somando-se a isso os encargos de juros, o que totalizava a importância de 1,8 bilhão de dólares, o equivalente a 43% da receita das exportações brasileiras.

Por outro lado, o FMI e o governo norte-americano, não só bloquearam todos os créditos destinados ao país como condicionaram o reescalonamento da dívida externa brasileira à implementação do programa.de estabilização monetária. , bem como ao compromisso de compra da Amforp.

Diante desse impasse, comentou-se que Goulart, em agosto, teria pensado em abandonar a tentativa de estabilização e cogitado a decretação de moratória unilateral com a suspensão de todos os pagamentos até 1965. Paralelamente, determinou a Carvalho Pinto a reativação imediata da Lei de Remessas de Lucros.

Enquanto o governo enfrentava todas essas dificuldades na área econômica, ganhava corpo o movimento conspiratório que, desde a posse de Goulart, tramava a sua deposição. Em função da coincidência de objetivos programáticos, o IBAD havia se unido ao Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPÊS), entidade fundada por empresários visando "defender a liberdade pessoal e da empresa, ameaçada pelo plano de socialização dormente no seio do governo Goulart", multiplicando dessa forma a capacidade de atuação daquelas entidades.

Por outro lado, o fortalecimento dos movimentos populares, concretizado através do aumento do poderio dos trabalhadores urbanos, e da organização crescente das massas rurais em Ligas Camponesas e em sindicatos rurais, fazia recrudescer os temores das classes conservadoras.

Novo incidente iria agravar a situação política nacional no dia 12 de setembro, quando várias centenas de sargentos, fuzileiros e soldados da Aeronáutica e da Marinha se sublevaram, ocupando, durante a madrugada, importantes centros administrativos de Brasília.

Em outubro, novos acontecimentos iriam acirrar as contradições que envolviam o governo. A divulgação de uma entrevista concedida pelo governador do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, a um jornalista americano, atacando violentamente o governo brasileiro e o presidente Goulart pessoalmente, detonaria nova crise.

Os ministros militares consideraram a entrevista injuriosa às forças armadas e sugeriram a Goulart a decretação do estado de sítio para afastar Lacerda do governo e deter o radicalismo crescente, de direita e de esquerda.

Ao lado de todas as ameaças vindas dos setores conservadores, Goulart também enfrentava a deterioração de suas relações com as forças de esquerda. Ainda na primeira quinzena de outubro, reuniram-se em Brasília vários parlamentares da FMP, representantes de Leonel Brizola e de Miguel Arrais, do CGT, da União Nacional dos Estudantes (UNE) e de outras entidades de esquerda, com o objetivo de analisar a posição do presidente da República diante das esquerdas e vice-versa. A conclusão da reunião foi que "o presidente João Goulart estava realizando apenas um governo de interesse exclusivo das classes conservadoras, distanciando-se dos grupos que haviam assegurado a sua posse na crise de agosto de 61…Logo, as esquerdas deveriam romper com o governo".

A despeito de todas essas críticas, o governo fazia sua última tentativa de estabilização. Ainda em outubro, Carvalho Pinto propôs um novo esquema de combate à inflação.

Consciente das dificuldades, Goulart concedeu em fins de novembro longa e pessimista entrevista à imprensa, onde reiterou a urgência das reformas de base, denunciou as forças reacionárias e anti-reformistas e defendeu enfaticamente a intervenção dos trabalhadores na vida pública. Essas declarações criaram novas expectativas para os setores de esquerda de influírem sobre a composição de um novo ministério e de um novo programa de governo.

Goulart percebeu que sua política de conciliação entre o centro e a esquerda não apresentava os resultados esperados e começou uma lenta e hesitante caminhada em direção a esta última corrente.

Empenhado em reconquistar o apoio dos setores representados pelos sindicatos, ligas camponesas, entidades estudantis e partidos de esquerda como o PTB, PCB e PSB, únicos segmentos com os quais poderia contar naquele momento, Jango tentou nova ofensiva rumo ao seu projeto nacional reformista. Em princípios de dezembro, nomeou um esquerdista radical, o almirante Cândido Aragão, para o comando do Corpo de Fuzileiros Navais, o que provocou um protesto público

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