Resenha sobre o texto: “A ralé brasileira: quem é e como vive”, de Jessé Souza.
Por: YdecRupolo • 9/10/2018 • 2.773 Palavras (12 Páginas) • 692 Visualizações
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“O processo de modernização brasileiro constitui não apenas as novas classes sociais modernas que se apropriam diferencialmente dos capitais cultural e econômico. Ele constitui também uma classe inteira de indivíduos, não só sem capital cultural nem econômico em qualquer medida significativa, mas desprovida, esse é o aspecto fundamental, das precondições sociais, morais e culturais que permitem essa apropriação. É essa classe social que designamos neste livro de “ralé” estrutural, não para “ofender” essas pessoas já tão sofridas e humilhadas, mas para chamar a atenção, provocativamente, para nosso maior conflito social e político: o abandono social e político, “consentido por toda a sociedade”, de toda uma classe de indivíduos “precarizados” que se reproduz há gerações enquanto tal. Souza, Jessé,“(2009, p.21)
O que falta é o conhecimento das pessoas para o problema central das precondições “sociais” para o sucesso supostamente individual, quando na verdade é o produto de capacidades e habilidades transmitidas de pais para filhos por mecanismos de identificação afetiva por meios de exemplos do cotidiano, segundo o autor.
Podemos dizer que Jessé impõe ao “fracasso” desta classe, pela visão da sociedade, o exemplo dos pais e as precondições já impostas a estes indivíduos. Tendo visto isso, podemos dizer que a ignorância, ingênua ou dolosa, desse fato fundamental é a causa de todas as ilusões do debate público brasileiro sobre a desigualdade e suas causas e as formas de combatê-la, de acordo com Jessé. Desta forma, esta classe só pode ser empregada enquanto mero “corpo”, sendo explorada pela classe média e alta.
Esta é uma sociedade que aceita produzir “gente” de um lado, e “subgente” do outro, com educação, saúde e segurança diferenciados. Este livro é uma tentativa de fazer esta classe emergir, fazer com que a sociedade possa enxerga-la e assim mudanças possam ser feitas. Toda a Hierarquia de questões tende a mudar começando pela desconstrução do “fetiche” economicista como interpretação dominante e como remédio para todos os males.
Este livro é sobre essa “classe de indivíduos” que nasceram sem o “bilhete premiado” de pertencerem às classes alta e média. O privilégio positivo do “talento inato” das classes alta e média é transformado em privilégio negativo de toda uma classe social que se produz e se reproduz como classe de indivíduos com um “estigma inato”. Essas são as pessoas que estão sempre a um passo — ou com os dois pés dentro — da delinquência e do abandono. Souza, Jessé, (2009, p.25)
CAPÍTULO 6
COMO É POSSÍVEL PERCEBER
O BRASIL CONTEMPORÂNEO
DE MODO NOVO?
O autor começa o capítulo introduzindo um caminho para o estudo menos superficial da realidade brasileira, deixando de fazer somente as pesquisas cientificas, mas aprofundando o estudo na sociedade estrutural, e aborda também sobre a identidade nacional.
“O primeiro ponto a ser modificado para o acesso a uma interpretação menos superficial e mais crítica da realidade brasileira é começar por uma análise das estruturas profundas do capitalismo contemporâneo ou do “racionalismo ocidental”, na formulação mais neutra de Max Weber. Até hoje, a interpretação brasileira dominante sempre partiu da análise pretensamente “científica” de uma singularidade sociocultural brasileira — singularidade essa pensada em termos absolutos e supostamente incomparável com qualquer outra experiência humana no planeta — com base nos mesmos pressupostos que informam, como já vimos em detalhe, nossa “identidade nacional”.” Souza, Jessé, (2009, p.103)
Podemos perceber no Brasil uma classe média escrava, dominada pela classe alta, e voltada para a revolta com o Estado, que favorece ainda mais a classe alta, os donos de bancos, mineradoras, etc. A população é totalmente cega para este fato, uma vez que manipulados, passam a pensar que o problema está com o Estado, e que a solução é a forma privada, desta forma, fortificam ainda mais a desigualdade social, favorecendo assim os já elevados na classe social, e oprimindo ainda mais a ralé brasileira. A cultura do estado de favorecimento e de privilégios está impregnada desde 1500.
De acordo com o autor, para todos os grandes pensadores clássicos das ciências sociais, as instituições são duas: o mercado competitivo capitalista e o Estado moderno centralizado. Sem essas duas instituições fundamentais não temos nem sociedade moderna, nem indivíduos modernos guiados por valores e ideias modernas.
O Brasil passou a ser dominado pelas empresas de Portugal e Inglaterra no século 19, não mudando assim o seu estado de colônia. Sendo dominado não de forma governamental, mas de uma forma tecnológica e econômica.
“Para quem não percebe o “processo”, sempre de longo prazo, e prefere amesquinhar o olhar no dado imediato, quem prefere a miopia do que é estático, fotográfico, e não o movimento, a percepção do futuro no presente, o século 19 brasileiro não apresenta qualquer corte com o Brasil colônia. Essa leitura míope e imediatista é, ainda hoje, também amplamente dominante. É isso que faz com que o Brasil tenha se modernizado, se industrializado e se urbanizado e seja até hoje lido por meio de categorias pré-modernas como “favor”, “patrimonialismo”, “privilégio” etc.” (Souza, Jessé, 2009, p.106)
O autor diz que o fato da revolução burguesa entre nós ter sido “encapuçada” ou “passiva”, como prefere Werneck Vianna, terá consequências importantes, como a preeminência das formas econômicas sobre as formas culturais e políticas que tanto marca a singularidade da sociedade brasileira até hoje. A Sociedade brasileira tem uma identidade nacional que visa o consumismo e sofre da dominação social, principalmente dos Estados Unidos, onde o capitalismo já atingiu, segundo alguns especialistas no assunto, o seu nível máximo.
O mercado e o Estado não agem sozinhos para a definição do “habitus” de cada classe social, ou seja, não são somente eles que possuem a culpa de um conjunto de disposições para o comportamento apreendido diferencialmente por cada classe social, existe uma multiplicidade de instituições, de acordo com o autor, que transformam paralelamente também. As famílias e as relações familiares mudam muito também em acompanhamento das instituições de países periféricos como o Brasil, de acordo com Jessé, está sendo criado o institucionalismo
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