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ALGUNS DESAFIOS E CONTRADIÇÕES DO FAZER PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL

Por:   •  26/4/2018  •  2.175 Palavras (9 Páginas)  •  593 Visualizações

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2 DESAFIOS E CONTRADIÇÕES DO FAZER PROFISSIONAL

Historicamente, os assistentes sociais participam diretamente na relação capital-trabalho, com os serviços sociais direcionados ao enfrentamento das expressões da questão social. Geralmente através do contato direto com os usuários, o trabalho do assistente social perpassa a dinâmica de repasse de bens e serviços pertinentes a diversas políticas sociais.

Entretanto, a realidade profissional do assistente social se mostra repleta de contradições, pois como afirma Trindade ( 2013) “as demandas e requisições colocadas ao Serviço Social estão permeadas pelas determinações históricas das políticas sociais” e, portanto “o trabalho profissional assume perfis diferenciados em em diferentes conjunturas” (p. 98).

E, ao se colocar o olhar sobre a conjuntura do Brasil hoje, percebe-se uma ideologia hegemonicamente neoliberal: de enfraquecimento do Estado e, consequentemente, das políticas públicas. Segundo Pereira (2015), ao olhar a situação atual das políticas sociais, vê-se um modelo residual, com um caráter “emergencial” e voltada a grupos particulares; de focalização à população mais pobre.

Essas tendências de políticas voltadas à transferência de renda, vão opostas ao conceito de universalização e defesa da seguridade social conforme o projeto ético-político do Serviço Social, pois são apenas estratégias de combate à miséria, e assim, extremamente seletivas.

Além disso, como discorre Iamamoto (1998) acerca das condições de trabalho do assistente social:

Ao vender sua força de trabalho em troca de salário o profissional entrega o seu valor de uso, ou o direito de consumi-lo durante a jornada estabelecida [...] é no limite dessas condições que se materializa a autonomia do profissional na condução de suas ações (na definição de prioridades e das formas de execução), decorrente da natureza de seu tipo de especialização, uma vez que atua junto a indivíduos sociais.(IAMAMOTO, 1998).

Considerando-se, portanto, a posição do assistente social na relação entre capital e trabalho e o agravamento das expressões da questão social, temos, além da própria contradição de ser trabalhador assalariado nesta condição, o fato de que

A precariedade das condições socioeconômicas dos usuários que procuram o Serviço Social tem levado os assistente sociais a intensificar a concessão dos recursos materiais, embora as instituições não repassem verbas suficientes para o atendimento a todas as solicitações. O aumento da demanda e da escassez de verbas levam os profissionais a desempenhar tarefa de selecionar aqueles que terão o acesso ao serviço, através do levantamento de informações sobre a vida do usuário. Assim coloca-se uma contradição: ainda que os profissionais procurem socializar as informações na perspectiva da universalidade dos serviços sociais, na hora de repassar o recurso material sua ação se pauta num processo de seletividade dos serviços. (TRINDADE, 2013, p. 75).

Estas condições de seletividade se caracterizam como atribuições incompatíveis com o atual projeto profissional e, como mais um agravante, há demandas institucionais de “controle” da população usuária

Realizadas por meio de “sistemas” que coletam informações detalhadas sobre a vida material e comportamental das famílias, ou ainda aquelas renomeadas com terminologias “modernas” - condicionalidades, vigilância socioassistencial e congêneres. Nessas e em outras situações, ao afirmar suas atribuições competências, a categoria de assistentes sociais enfrenta dificuldades, que se expressam na deterioração das possibilidades do exercício de sua autonomia relativa. (CFESS/CRESS. 2015)

Os dois exemplos de prática profissional se diferenciam por um ser instituição privada (abrigo) e o outro pública (INSS). Pode-se notar que, apesar de o profissional assistente social possuir regulamentação de profissão que assegure sua autonomia, em alguns aspectos um profissional pode ter mais ou menos autonomia.

A assistente social do Abrigo Mont Serrat, por ser responsável pelo abrigo e administrá-lo, demonstra maior autonomia em relação aos seus planejamentos e ações. Porém, além da falta de recursos crônica ( com previsões de piora no ano que se segue, inclusive, talvez, o seu fechamento), há limites profissionais pela falta no cotidiano de outros profissionais assistentes sociais com quem possa compartilhar os fatos, as preocupações e soluções. Esta falta se define pelo nível de complexidade do fazer guiado pelo projeto profissional, uma vez que

As competências são fatos observáveis, e para chegarmos ao fundamento do que torna uma pessoa ou um profissional competente, não devemos nos limitar à aparência dos fatos. [...] As competências estão também ligadas a “atitudes e conhecimentos, capacidade de elaborar criticamente as situações de trabalho tais como: discernir situações diferenciadas, organizar dados, comunicar-se com outros sujeitos da equipe de trabalho e agir pautado na ética” (Ramos, 2001:37-46 apud AZEREDO. 2001. p. 50-51)

Diante dessas condições objetivas, entretanto, a assistente social busca participar de outros espaços de discussão relativas à sua área específica (Conselho Municipal de Assistência e Comitê sobre Pessoas em Situação de Rua), e também do Grupo de Estudos e Pesquisas em Serviço Social (GEPSS)

Já as Assistentes Sociais do INSS, em contraste, trabalham em rede. Fazendo, inclusive, anualmente um ou dois encontros de articulação entre os (as) profissionais da categoria do referido espaço sócio-ocupacional.

Demonstraram em suas falas os benefícios do trabalho coletivo, apesar de apontarem as maiores facilidades de articulação quando há presença de coordenador regional em comparação a quando não há (como é o caso do momento).

Um outro ponto que consideramos importante seria a “auto-afirmação” profissional do Serviço Social: profissionais de outras áreas, e até mesmo alguns usuários, não entendem qual o papel do assistente social naquela instituição. Isto nos remete à importância do profissional reafirmar e defender diariamente suas competências particulares.

Sobre a atuação profissional, as assistentes sociais mostraram as pressões a que estão submetidas no seu cotidiano profissional. No caso do INSS, por exemplo, o atendimento tem um limite de tempo estipulado, e caso o assistente social esteja a atender um usuário por muito tempo, existe um monitoramento feito de Brasília, o qual liga

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