Revisão Bibliográfica da Obra de José Bleger
Por: Evandro.2016 • 26/5/2018 • 5.034 Palavras (21 Páginas) • 566 Visualizações
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Já outros autores, como Héctor Pavón (2009), citado por Wikipédia, atribue o desligamento do partido comunista à publicação do livro "Psicanálise e Dialética Materialista".
O livro de Bleger, publicado em 1958 pela editora Paidós foi recebido com uma fria indiferença pela comunidade psicanalítica e gerou um profundo mal-estar da esquerda ortodoxa, que acabou gerando a expulsão do partido comunista.
Em seu prólogo, Bleger deixa claro sua relação de discipulado com Enrique Pichón Riviére como aquele que embasa sua "ideologia pessoal".
O estudo da biografia de Bleger nos mostra que em diversas ocasiões uma ideia inovadora, advinda de uma associação de valores pessoais com um estudo aprofundado pode causar uma séria resistência em um sistema já constituído e definido, justamente porque há interesses envolvidos na manutenção de um método que muitas vezes já demonstrou sua ineficácia. Se Bleger encontrou tanta resistência às suas ideias, a ponto de ser expulso de instituições nas quais já havia sido reconhecido, seria uma ingenuidade de nossa parte pensar que seria simples implantar um sistema que pudesse resultar em um amadurecimento de todas as partes envolvidas. Bleger faleceu em 1972 e suas ideias continuam sendo discutidas, principalmente em países de língua espanhola, o que nos faz considerar que fosse um visionário.
A seguir, discutimos os aspectos da teoria de Pichón Riviére, que muito fortemente influenciou Bleger.
1.1 SISTEMATIZAÇÃO DO GRUPO OPERATIVO POR PICHON RIVIÉRE
Pichón Riviére definiu grupo operativo como "conjunto de pessoas com um objetivo em comum". Trabalham com a dialética do ensinar-aprender, todos os participantes do grupo operativo são sujeitos do seu processo de aprendizagem; desta forma, ao mesmo tempo em que aprendem, ensinam também.
Os princípios organizadores do grupo operativo são o vínculo e a tarefa:
Quanto ao vínculo, Riviére (1986) chama a atenção para questões que, na psicologia, comumente são chamadas de "transferência". As pessoas tendem a formar estereótipos de relações pessoais e se relacionar através destes padrões, sem levar em consideração a realidade externa, resistindo a que algo verdadeiramente novo aconteça. Através da intervenção de um coordenador, tais condutas estereotipadas poderiam ser revistas, o que poderia ocasionar uma mudança de atitude, e consequentemente, um aprendizado.
Segundo o autor, a tarefa é o modo de agir de cada sujeito a partir das suas necessidades, que se constituem um pólo norteador de conduta.
Portanto, grupo operativo, aprendizagem e mudança são termos que devem caminhar unidos, no entanto, as mudanças podem ser imobilizadas por dois tipos de medo: medo da perda do status já estabelecido e medo do ataque da nova situação ou condição. O processo de elaboração das situações imobilizadoras constitui-se na chamada pré-tarefa.
Quando o grupo aprende a problematizar verdadeiramente, retirando os obstáculos que impedem a concretização de seus objetivos, "dizemos que entrou em tarefa, pois podem elaborar um projeto viável e, dessa forma, torna-se um grupo que opera mudanças." (DIAS e CASTRO, 2006 p.3)
Para conhecer da teoria de Riviére (1986), é necessário comentar o esquema conceitual, referencial e operacional que orienta o trabalho do grupo operativo (ECRO) :
Níveis articulares: 1) verticalidade, referente à vida pessoal de cada participante 2) horizontalidade, refere-se à história grupal, compartilhada entre os componentes do grupo, desde o seu início. As histórias pessoais e grupais fazem parte do acervo de saberes do grupo e constituirão uma referência importante para construção de novos patamares de relação entre o próprio grupo e com a dialética da aprendizagem.
Características peculiares da técnica: a) grupo centrado na tarefa; mediante objetivo exposto e contratado, clareza do porque e para que se reúnem e interagem. Faz parte da apresentação da maneira como irão trabalhar, o professor não é o objeto de projeção da responsabilidade pelo ensino, mas esta responsabilidade é devolvida ao grupo; que irá aprender como aprender e como interagir. Logicamente, neste processo, irão surgir: b) porta-voz - aquele que fala pelo grupo, sabotador – responsável por desviar o foco de atenção da equipe de trabalho, líder – sujeito que administra o grupo, e bode expiatório – encarregado pelos comportamentos ou características consideradas pouco positivas pelo conjunto e também justamente aquele que pode trazer à luz opiniões, ideias ou pontos de vista pouco considerados : enfim, papéis que devem ser explicitados pelo coordenador, auxiliado pelo observador; e que se intercambiam na medida em que o grupo trabalha; c) coordenador e observador: papéis que se interligam na análise do trabalho e possuem função assimétrica; d) vetores que constituem a escala de avaliação do processo grupal: permitem analisar a relação entre os conteúdos explícitos e implícitos do grupo no decorrer do seu desenvolvimento, representado neste cone invertido:
Figura 1-Cone invertido
[pic 1]
Fonte: https://xveritux.wordpress.com/2013/06/23/vectores-del-cono-invertido/
Veremos primeiro o conceito de manifesto e latente: manifesto se refere às expressões claras e definidas; sobre o que é explícito. Já o latente diz respeito às manifestações que não são acessíveis de maneira direta e se referem aos medos que atuam como resistências ao processo. Estes medos são, basicamente, dois: medo da perda, relacionado com as maneiras de relacionar-se com o conhecimento anterior; e medo do ataque, relacionado a aparição de uma nova possibilidade, sentir-se indefeso perante o novo. "No movimento dialético entre a dúvida e o esclarecimento é que se pode avançar do manifesto para o latente." (RODRIGUEZ, 2013, p. 1).
Pichón Riviére apud Rodriguez (2013, p.1) observou determinados fenômenos repetitivos nos grupos operativos. A organização destes fenômenos em uma escala de evolução ou interação resultou no "cone invertido". O cone invertido possui em seu interior uma espiral, atravessado por sete vetores descritos por Riviére. "Os vetores são um conceito que a psicologia toma da matemática e da física, utilizado para representar as forças com uma direção e uma intensidade. Se pode pensar que o
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